Cultura

Cinemas, teatros e restaurantes fechados: setor cultural e gastronômico sofreram impactos da covid-19

Os setores cultural e gastronômico foram uns dos primeiros a sentirem os impactos imediatos quanto ao covid-19. Com promoção costumeira de aglomeração, diversos locais precisaram ser fechados imediatamente, principalmente por conta dos decretos mais restritivos no início da pandemia em Mato Grosso, em meados de março e abril de 2020.

A Secretaria de Estado de Cultura, Esporte e Lazer (Secel), em março, fechou todos os equipamentos de cultura e esporte sob gestão direta e indireta. As medidas iniciais resultaram no fechamento temporário do Biblioteca Pública Estadual Estevão de Mendonça, Casa Cuiabana, Galeria de Artes Lava Pés, Cine Teatro Cuiabá, Museu de História Natural Casa Dom Aquino, Museu de Arte Sacra de Mato Grosso e Complexo Arena Pantanal, Ginásio Aecim Tocantins, Palácio das Artes Marciais Lusso Sinohara, piscina olímpica e quadra de vôlei de praia e futevôlei.

Ao longo dos meses, alguns restaurantes não aguentaram as incertezas econômicas e precisaram fechar as portas. A churrascaria Favo de Mel foi uma das primeiras, em junho. “Não conseguimos encontrar motivação para continuarmos desempenhando com a mesma qualidade, diversão e alegria nossos trabalhos”, informou na época. Hoje o espaço dá lugar a outra churrascaria.

A Valley Pub de Cuiabá, em agosto, também encerrou suas atividades permanentemente, mas sem relação direta ao novo coronavírus. O espaço já estava fechado há cerca de cinco meses quando anunciou o encerramento definitivo. Na época, a Valley chegou a vender todo seu estoque de bebidas a preço de custo. Em novembro, no entanto, o empreendimento anunciou que iria reabrir, desta vez com formato de "bar". Em pouco tempo, voltou a funcionar com shows ao vivo.

Na capital mato-grossense, o segmento dos teatros voltou a apresentar espetáculos somente em setembro, porém sem ser da forma tradicional e sim por meio de um sistema drive-in, no qual o espectador assiste a apresentação de dentro de seu veículo. O Teatro Zulmira Canavarros foi o primeiro a retornar e trouxe na época a peça “Mel de Melão”, com o grupo Monofoliar.

Em Cuiabá, os cinemas e teatros só foram autorizados a retornar às suas atividades “normais” no final de outubro, por meio do decreto nº 8147. O documento determinou que o retorno só seria possível caso os espaços respeitassem o distanciamento de 1,5 metros entre as poltronas, enquanto o público, que deve usar máscara, precisa passar por uma aferição de temperatura para entrar nas salas. O local deve ser higienizado após a realização de cada sessão e os estabelecimentos também precisam oferecer álcool em gel ao público.

A nível estadual, os cinemas, teatros e até mesmo shows já estavam liberados para funcionar, com as devidas medidas de biossegurança necessárias, desde setembro, devido ao decreto nº 655. O município de Várzea Grande, região metropolitana de Cuiabá, foi ainda mais precoce, e liberou o retorno já em agosto, mês em que a cidade ultrapassou mais de 7 mil casos de covid-19.

Apesar das medidas estabelecidas pela Prefeitura, a capital mato-grossense ainda registrou um caso de aglomeração em uma sessão de cinema. Um espectador relatou, no final de outubro, que um grupo de pessoas se aglomerou, não usou máscaras e ainda jogou comida para cima, causando perturbação. Os funcionários do cinema, inclusive, presenciaram toda ação, porém não tomaram qualquer atitude para evitar que tais problemas acontecessem.

A sala onde a confusão aconteceu pertence à rede Cinépolis, na unidade localizada no Três Américas Shopping. Na época, a rede informou que orientou a unidade para reforçar o monitoramento durante as sessões. 

Mesmo com o decreto publicado em outubro, o Cine Teatro, localizado na Avenida Getúlio Vargas, retomou suas atividades apenas em novembro, após fazer os ajustes necessários para garantir biossegurança ao público. O espaço retomou com uma programação de cinema em um sistema “híbrido”, online e presencial, todas às terça-feiras, sempre às 19h.

Em entrevista, o diretor do grupo Cena Onze, que gere o Cine Teatro, Flávio Ferreira, revelou que os atores do grupo e estudantes da MT Escola de Teatro só voltam aos palcos para apresentações presenciais quando houver uma vacina contra o novo coronavírus. Ainda que o município de Cuiabá tenha autorizado o funcionamento dos teatros, Flávio pontuou que não é possível estabelecer garantias aos profissionais, sendo a melhor opção aguardar e manter as apresentações online.

O Cena Onze pretende estar levando o formato digital para o pós-pandemia, de forma que se mescle com o presencial. A ideia é conseguir poder levar espetáculos para diversos lugares de uma maneira muito simples do que uma tradicional turnê pelo país ou, em determinados casos, pelo mundo. “Ganhou-se muito em função das ferramentas eletrônicas e plataformas que surgiram e são muito bem utilizadas. Nós vemos hoje o teatro além do presencial. O digital vai continuar. Não tem mais como se fazer sem ser assim”, conta.

Ferreira defende que a classe artística foi a mais atingida pela pandemia do novo coronavírus. Por não poder se apresentar presencialmente, muitos perderam suas rendas. “Paramos de ter cachê. O artista vive do cachê. Houve uma perda muito grande e um sofrimento emocional que só está sendo amenizado a partir de agora, não somente pelo teatro digital, mas pela Lei Aldir Blanc, que foi uma conquista muito grande para classe”.

Também em novembro, um novo decreto municipal, nº 8.204, autorizou a realização de eventos, respeitando o limite de 70% da capacidade total do ambiente e cumprindo as demais medidas de biossegurança. Negativamente, o decreto foi se refletir em dezembro, com a realização de uma festa no Parque das Águas, na capital, que promoveu uma grande aglomeração e recebeu críticas porque o público não utilizou máscaras.

A festa, organizada pela Aram Produções, trouxe o DJ Vintage Culture, além de outros como Luciano Lyllo, Thalisson, Douglas Mariusso e Fábio Serra. O ingresso para a festa custava R$ 300, mas também era obrigatória a doação de um quilo de alimento não perecível, que seria doado para a campanha “Natal Sem Fome”, organizada pela primeira-dama de Cuiabá, Márcia Pinheiro, e pela Secretaria Municipal de Assistência Social. A iniciativa de doação dos alimentos foi dos organizadores do evento.

O chefe do executivo municipal, Emanuel Pinheiro, afirmou que os organizadores se aproveitaram de uma ação de natal da primeira-dama Márcia Pinheiro, para que aparentasse ter sido realizado pela Prefeitura de Cuiabá. O evento deveria ter somente 300 pessoas e acontecer das 17h às 23h, respeitando as normas recomendadas pela Organização Mundial da Saúde (OMS).

“Uma vergonha, lamentável. Utilizam ações sociais, da primeira-dama, da prefeitura para isto. Lamentável. Vou ter uma reunião agora sobre isto na prefeitura, pedi para levantar os processos”, disse ele em conversa com a imprensa após a “Missa da Esperança”, na Catedral Basílica de Cuiabá, na semana de Natal.

“Tem que dar um choque de consciência na população. Se o culpado é a prefeitura, vou levantar isso e tomar as providências internas. Agora, pelo amor de Deus. Os organizadores, promotores de eventos, população em geral, estamos em uma pandemia”, acrescentou Emanuel.

Para tentar aliviar os impactos no setor cultural, a Lei Aldir Blanc promoveu o surgimento de diversos editais no estado e na capital mato-grossense. A nível estadual, os cinco editais emergenciais culturais possuem orçamento total de R$ 29,85 milhões, contemplando ao todo 593 projetos. A previsão inicial era de que os selecionados recebessem o pagamento até dia 31 de dezembro.

Já em nível municipal, Cuiabá disponibilizou R$ 3,9 milhões. Entre os editais, um deles selecionou 70 artistas para que suas respectivas peças fossem exibidas em uma exposição prevista para 2021.

Redação

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Reportagens realizada pelos colaboradores, em conjunto, ou com assessorias de imprensa.

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