Se o excesso de chuvas provoca dor de cabeça aos grandes fazendeiros – que já perderam 250 mil toneladas de soja em Mato Grosso –, as precipitações são ainda mais sensíveis à agricultura familiar, que possui recursos financeiros, tecnológicos e humanos limitados. Nesse sentido, além de retardar ou inutilizar campos inteiros de cultura, sobretudo frutas e hortaliças, a logística – outro gargalo sentido por vários setores da economia do Estado – também é diretamente prejudicada pelos temporais ou garoas contínuas.

“Pequenos agricultores e moradores do noroeste de Mato Grosso, como Alta Floresta, Cotriguaçu, Apiacás e outras cidades estão isolados em certas áreas. Eles não conseguem se deslocar aos centros urbanos, muito menos vender seus produtos”, afirma.
As dificuldades econômicas inevitavelmente impactam a área social. Além dos problemas de abastecimento, alunos da zona rural não conseguem frequentar a escola. O saneamento básico também preocupa nas cidades da região noroeste, sem contar os riscos de deslizamentos: Juruena, Cotriguaçu, Alta Floresta, Juína e outras cidades estão em “princípio de anormalidade”, de acordo com a Defesa Civil.
Segundo a coordenadora do ICV, um dos grandes problemas enfrentados não só por pequenos produtores, mas a população no geral, nessa época do ano, são os meios de transporte que, além de contar com uma estrutura precária, também sofrem com as chuvas que alagam e isolam produtores, trabalhadores etc. Ela afirma que produtos básicos de subsistência estão em falta para as famílias.
“Estamos enfrentando problemas de distribuição, devido às estradas que estão em péssimas condições em virtude das chuvas. Há falta de mantimentos e produtos básicos, como gás de cozinha”, diz.
Capital também sofre com precipitações

Ademir Moura da Silva é presidente do Assentamento 21 de Abril, localizado na região do Pedra 90, em Cuiabá. Segundo ele, historicamente os residentes e produtores da localidade tiveram dificuldades na época das chuvas, que os deixavam isolados. Em outubro de 2013 a população teve esperança de que os problemas de acesso à área e o escoamento de mercadorias estariam solucionados devido à construção de uma ponte utilizada para deslocamento das pessoas. Porém, infelizmente, elas estavam enganadas.
“Não conseguimos nos deslocar e estamos isolados aqui. Já ficamos presos por dois dias, ninguém conseguia chegar e ninguém conseguia sair. A ponte que foi feita deixou muito a desejar. O sistema de vazão não funciona”, afirma.