A pouco mais de um ano para a Copa do Mundo, Chapada dos Guimarães quase nada avançou para atrair mais turistas. O Complexo da Salgadeira, apesar de ser no município de Cuiabá, é a principal porta de entrada para Chapada. Fechado desde setembro de 2010, até hoje não se chegou a um consenso sobre o que fazer com a Salgadeira: se reabre novamente para uso gratuito da população ou se o transforma num local apenas de contemplação, assim como o Mirante.
O Portão do Inferno, onde antes havia uma lanchonete, está cercado de arame farpado. O Circuito das Cachoeiras só é realizado por meio de pagamento de guias de turismo, cujo valor varia de acordo com o tamanho do grupo de pessoas, e deve ser agendado com antecedência. A Cidade de Pedra também é outro local ainda interditado pelo Instituto Chico Mendes.
Claudemir Brigato, agente de proteção do Aeroporto Marechal Rondon, tirou a manhã do sábado (16) para levar os parentes para conhecer a Chapada. A primeira decepção foi na Salgadeira, pois o máximo que eles puderam fazer foi subir em bancos de cimento e olhar por cima dos tapumes de zinco.
Em seguida foram ao Portão do Inferno para tirar fotos. Depois, Brigato acompanhou o tio João Bispo dos Santos e o primo Wagner Carvalho dos Santos até o Véu de Noiva. Andaram 550 metros na trilha até a cachoeira, subiram mais alguns metros até o restaurante. Ao perceberem que havia outra forma mais rápida de sair do Véu de Noiva, eles tentaram sair por onde os veículos do Instituto Chico Mendes saíam, mas foram avisados de que teriam que retornar novamente pela trilha.
“É um absurdo não deixarem a gente entrar com carro aqui. Os pontos turísticos estão interditados. Não estamos preparados para receber a Copa se as coisas continuarem desse jeito”, comentou Claudemir Brigato. Os turistas João Bispo e Wagner Santos, moradores de Dourados (MS), saíram um pouco frustrados da visita. “Por enquanto não tem muito que se ver”, comentou João.
O gerente do restaurante Véu de Noiva, Eduardo Aparecido, disse que há muita coisa a melhorar para aumentar a visitação no local. A primeira delas é fazer novas trilhas mais próximas da saída e reabrir o Complexo da Salgadeira ao público. “Depois que a Salgadeira fechou, o fluxo de pessoas caiu em torno de 75%. Também houve queda no número de turistas com o fechamento da Casa de Pedra e a determinação de regras para entrada no Morro de São Jerônimo e no Circuito das Cachoeiras”.
Há quatro meses trabalhando na Cachoeira do Marimbondo, José Francisco da Silva França avalia que o local ainda não é muito frequentado. Por final de semana, apenas 50 a 60 pessoas visitam o ponto turístico. É cobrado R$6,00 para entrar. “Precisa divulgar mais o local e o governo precisa investir. Aqui não temos nem energia elétrica. A nossa geladeira é a gás para disponibilizar bebidas geladas aos turistas”.
Muitas promessas e nenhuma licitação
A chefe do Parque Nacional de Chapada dos Guimarães, Cíntia Brazão, disse que não estão previstas novas trilhas dentro do Véu de Noiva, mas, por meio de uma parceria com a Secretaria Estadual de Turismo (Sedtur), faz-se o investimento na acessibilidade da trilha atual. A entrada do Véu de Noiva também será reformada e implantada a bilhetagem eletrônica, mas ainda não há prazo para as licitações. “A entrada para o Circuito das Cachoeiras será autoguiado, dispensando a presença dos guias de turismo. O turista vai pagar o bilhete e usufruir do local, mas para isso é necessária a reforma da entrada do Véu de Noiva”, explicou.
Instituto alega falta de segurança
O Instituto Chico Mendes não tem nenhum projeto para investimentos no Portão do Inferno, por ser um local com risco de desabamento. No sábado (16), foi realizada uma visita na Cidade de Pedra para avaliar a possibilidade de reabrir o local para visitação. “A questão lá é segurança; há risco de os turistas escorregarem no local por ser muito liso e ainda não se sabe o que é melhor: se a instalação de guarda-corpo ou de sinalização”, disse Cíntia.
Governo ignora turismo na região
O Governo do Estado, por meio da Sedtur, repete o mesmo discurso de anos atrás de investimentos milionários em Chapada dos Guimarães, mas até agora sequer se sabe o que fazer com o Complexo da Salgadeira, tanto que as licitações não começaram. Conforme a secretária-adjunta de Turismo, Natália Rosseto, a Sedtur planeja investir R$10 milhões no Parque Nacional de Chapada dos Guimarães. O investimento visa à recuperação de pontos turísticos na região, com vistas à atração de turistas durante a Copa do Mundo de 2014.
Contemplação e divulgação
A secretária municipal de Turismo de Chapada dos Guimarães, Sônia Bezerra, diz que há dois anos a cidade sofre com os efeitos do fechamento do Complexo da Salgadeira e defende a abertura do local para a contemplação. “Não dá para fazer um balneário no local. Antes tinha mais água do que hoje, mas com a visita autoguiada no Circuito das Cachoeiras e a reabertura da Salgadeira, o fluxo de turistas deve crescer”.
Sônia diz que Chapada tem outras cachoeiras como atrativo, a exemplo da Martinha, a mais de 30 km da cidade, Geladeira, Marimbondo, cachoeira da Aldeia Velha e algumas na zona rural. Contudo, a secretária admite a necessidade de mais divulgação desses locais: “Nós temos o produto, mas falta fortalecer, divulgar mais essas informações”.
Por Débora Siqueira – Da Redação
Fotos: Diego Frederici