Dirigido por Roberto Moret e Nilo Romero, filme estreia nos cinemas brasileiros no dia 17 de julho
Miguel Rocha
No mês que marca os 35 anos da morte de um dos maiores nomes do rock nacional, estreia no dia 17 de julho, nos cinemas brasileiros, ‘Cazuza: Boas Novas’, documentário que retrata seus últimos anos de vida.
Por meio de depoimentos de pessoas próximas e nomes de peso da música brasileira, os diretores Roberto Moret e Nilo Romero – parceiro de composições e amigo pessoal do cantor – narram a busca de Cazuza em seus últimos anos de vida pela imortalidade através da música, mesmo ciente de seu estado terminal devido à Aids.
Diagnosticado com o vírus HIV em 1987, o ex-vocalista da banda Barão Vermelho viajou aos Estados Unidos para iniciar um tratamento no mesmo ano. Internado num hospital em Boston, chegou a ficar à beira da morte antes de se recuperar, voltar ao Brasil e, em meio às especulações sobre seu quadro de saúde, lançar três álbuns. A produção do último deles, ‘Burguesia’ (1989), é tratada no filme quase como uma corrida contra o tempo, vide o estado de saúde do artista, que morreria no ano seguinte. Cazuza via o álbum como seu último ato, e, assim como o resto de sua obra, uma maneira de continuar vivo por meio de sua mensagem.
Mais do que responsável pelo trabalho de direção, Romero vira um dos personagens ao expor pitadas de arrependimento por não ter participado da produção do último disco do amigo, que sofria com o estágio avançado da doença a ponto de precisar de uma ambulância na porta do estúdio.
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Outro mérito da direção sensível de Moret e Romero é apontar a falta de ética da imprensa brasileira em relação ao estado de saúde do artista. Em tempos onde o sensacionalismo e a pouca empatia na cobertura da vida das celebridades ainda é frequente, o documentário denuncia que o modus operandi não é novo. Um dos episódios que exemplifica bem a questão é a reação do roqueiro à publicação da revista Veja, que, após uma animadora entrevista, trazia um frágil Cazuza na capa com a frase: “uma vítima da Aids agoniza em praça pública”.
Ao constatar que seu lado humano e artístico fora resumido à sua condição clínica, o cantor precisou ser novamente hospitalizado diante de tamanho desgosto.
É importante ressaltar que a inicial relutância de Cazuza em assumir seu diagnóstico coincide com o contexto da epidemia de Aids dos anos 1980, doença ainda estigmatizada na época, sobretudo para a comunidade LGBTQIA+.
O longa intercala depoimentos de personalidades como Gilberto Gil, Frejat, Leo Jaime e Ney Matogrosso, com quem teve um breve e intenso romance. O ex-membro da banda Secos e Molhados inclusive foi o diretor musical do show do astro do rock no Canecão, no Rio de Janeiro. A apresentação de 1988, cheia de descontração e provocações, funciona como fio condutor do documentário e prova da irreverência do intérprete.
O filme é um dos competidores da 17ª edição do In-Edit, o Festival Internacional do Documentário Musical, que vai de 11 a 22 de junho, em São Paulo.
Com ‘Cazuza: Boas Novas’, Roberto Moret e Nilo Romero, honram o diagnóstico que o artista deu a si mesmo, o de que continuaria vivo por meio de sua arte.
Foto Capa: Divulgação
Fonte: https://cultura.uol.com.br