O projeto “Encaixotando histórias da Casa de Bem-Bem” pretende apresentar ao público, através do Teatro Lambe-Lambe e da fotografia, histórias sobre este tradicional casarão que abrigou durante muito tempo a Festa de São Benedito e os saraus cuiabanos.
As narrativa teatrais serão complementadas por uma exposição fotográfica composta por registros históricos relacionados ao tradicional imóvel, desde sua fundação em meados de 1850 até os dias atuais. Serão selecionadas e digitalizadas 100 fotografias de amigos e familiares de Constança Figueiredo Palma, a saudosa Dona Bem-Bem.
A partir dessa pesquisa entre narrativas e imagens, a artista-pesquisadora Liudmila Diaz constata haver “muitas histórias soltas que até então não foram sistematizadas em uma única pesquisa. Estamos fazendo esta junção entre o acervo fotográfico e a história”, relata.
O PROJETO
Trata-se de uma parceria entre a Cia Pé de Pano e o Instituto Homem Brasileiro (IHB) e foi um dos selecionados no segmento Artes Cênicas do Edital MT Nascentes, da secretaria de Estado de Cultura, Esporte e Lazer de Mato Grosso (SECEL), realizado com recursos da Lei Aldir Blanc. Previsto para ser concluído no final de março, está na etapa de pesquisa e levantamento de acervo.
Esta etapa consiste na coleta e registro de histórias, através de entrevistas com moradores e festeiros que frequentavam o casarão. Estas entrevistas também serão gravadas e fotografadas para compor o conteúdo artístico final.
Em seguida, na segunda etapa do projeto, serão confeccionadas três caixas de Lambe-Lambe. Vale lembrar que Teatro de Lambe-Lambe ou Teatro de Miniaturas é uma linguagem de formas animadas que ocupam um espaço cênico mínimo, mais precisamente uma caixa cujas dimensões geralmente não diferem muito das de uma caixa de sapato, portanto são espetáculos de curta duração apresentados a um espectador por vez.
O processo de criação dos cenários, objetos e personagens a serem manipulados nestas caixas terá como base os relatos extraídos destas entrevistas que estão ocorrendo atualmente. Também na segunda etapa do projeto serão selecionadas as fotografias que irão compor a exposição.
Na terceira e última fase, as caixas de Teatro Lambe-Lambe, juntamente com o registro fotográfico e áudio da pesquisa, serão apresentadas em espaços públicos de Cuiabá e Chapada dos Guimarães. As datas e locais ainda não foram definidos, pois esta fase pode sofrer alterações a depender da situação da pandemia.
ARTE COMO INSTRUMENTO DE DEMOCRATIZAR O CONHECIMENTO
O IHB, durante pesquisa arqueológica e histórica na Casa de Bem-Bem, levantou uma série de aspectos do cotidiano, uso e ocupação do casarão. Assim, ciente da importância deste material para a memória coletiva e a identidade social de Mato Grosso, pensou em alternativas para que este conteúdo viesse a ser conhecido pelo público em geral.
E foi a partir desta perspectiva que surgiu a parceria com a Cia Pé de Pano. Assim os resultados destas pesquisas serão apresentados em conjunto com as narrativas coletadas por meio das entrevistas, visando tornar acessível a extroversão dos resultados alcançados.
A proposta é viabilizar, de forma lúdica e reflexiva, a apresentação de fragmentos que enfatizem a importância da memória histórica deste bem cultural, possibilitando a valorização do patrimônio material – representado pelo Casarão – e do patrimônio imaterial – relacionado às festas de São Benedito.
CASA DE BEM-BEM
O Casarão em estilo colonial, tipicamente cuiabano, é conhecido como um dos mais tradicionais da capital e está situado na antiga rua do Campo (atual Rua Barão de Melgaço). Figura ilustre da sociedade cuiabana, Dona Bem-Bem foi anfitriã de diversas festas nas décadas de 70 e 80, principalmente as festividades de São Benedito.
A construção e seu contexto externo, quintal com mangueiras e outras árvores, são testemunhos de fragmentos da história mato-grossense. O casarão é uma singular representação de patrimônios materiais e imateriais que resistem ao tempo.
A Casa foi tombada pelo IPHAN como Patrimônio Histórico. Todavia, apesar da relevância cultural e histórica, já passou por dois desabamentos, em 2017 e 2018, decorrentes da falta de cuidados necessários para sua manutenção.