Economia

Caos logístico deve atrasar vendas de soja da próxima safra

 Uma safra recorde de grãos está a caminho dos portos e filas de caminhões já se formam nas principais estradas de acesso. Além disso, a espera de navios para se embarcar soja e milho e outros produtos agrícolas pode chegar a 40 dias, numa sinalização do que serão os problemas dos próximos meses e seus consequentes custos.
 
"Quem está pagando este ano esta elevação substantiva no custo de logística e porto são as tradings. Elas não embutiram isso na sua previsão quando fizeram a comercialização antecipada da soja dos produtores, mas vão querer e precisam embutir na safra do ano que vem", disse à Reuters o diretor da Agroconsult, André Pessôa.
 
Neste ano, além do histórico problema logístico, agravado pela grande safra, o setor exportador do Brasil ainda lida com uma nova legislação que regulamenta o trabalho de motoristas de caminhão, reduzindo o número de horas que cada profissional pode trabalhar e encarecendo o frete rodoviário.Tudo isso se converte em custo para a cadeia produtiva, incluindo multas pagas pelos comerciantes pelos atrasos para embarques das mercadorias nos navios, disse Pessôa, durante um evento no Rio Grande do Sul do Rally da Safra, expedição técnica organizada pela Agroconsult.
Outro efeito do atraso nos embarques é que está caindo sensivelmente o prêmio da soja pago pelos compradores.
 
Pessôa lembrou que os elevados preços obtidos com a oleaginosa têm levado cada vez mais produtores a fecharem a venda antecipada da produção, em busca de garantir rentabilidade, mas para a próxima temporada isso pode ser diferente.
 
Em janeiro de 2012, antes mesmo do início da colheita, 51% da safra brasileira de soja já estava negociada. Em janeiro de 2013, com a oleaginosa num dos maiores preços da história, esse índice havia pulado para 69%, segundo a Agroconsult.
 
O consultor ressaltou que as tradings, quando se comprometem a pagar um preço pela soja com vários meses de antecedência, formulam uma expectativa de frete, prêmio e acrescentam a referência de preço da bolsa de Chicago. Para a próxima safra, no entanto, será difícil calcular os custos reais do transporte e, para evitar riscos e prejuízos, as empresas deverão considerar as estimativas mais pessimistas.
 
"Vai ficar um impasse, porque a trading vai dizer: 'Eu só ofereço para você frete e prêmio nos níveis de hoje ou para cima', e o produtor vai dizer que é muito caro, porque ele não pagou isso este ano."
Segundo Pessôa, uma das consequências diretas da menor venda antecipada deverá ser o atraso na decisão de compra de insumos, como fertilizantes e sementes, levando também estes mercados a ter mais instabilidade.
 
CAPACIDADE DE EXPORTAÇÃO
 
O consultor, acostumado a atender clientes dentro e fora do país, contou que recentemente foi questionado por um estrangeiro preocupado, acima de tudo, com a dificuldade do Brasil em escoar sua produção. "Não importa mais o que o Brasil produz. Importa o que ele é capaz de exportar", disse o interlocutor a André Pessôa.
 
O diretor de Agroconsult fez um cálculo preocupante sobre a capacidade dos portos brasileiros de exportar toda a soja que os compradores internacionais esperam, após uma redução dos estoques mundiais em decorrência das quebras na safra dos EUA, da Argentina e da região Sul do Brasil, em 2012. Ele projeta que o Brasil deverá ter demanda para embarcar 40 milhões de toneladas de soja, que também vai competir com espaço nos terminais com 26 milhões de toneladas de milho a serem exportados neste ano safra.
 
A avaliação da consultoria é de que a capacidade de embarques de grãos do Brasil seria de 9 milhões de toneladas por mês, consideradas as melhores movimentações que os terminais brasileiros já registraram em algum momento no passado.
 
A capacidade do Brasil seria para embarcar 75 milhões de toneladas por ano, descontando os meses em que não há grãos nos portos devido à entressafra e sem considerar interrupções causadas por greves e chuva. O número é muito próximo dos 66 milhões de toneladas da soma de soja e milho.
Com bases nestes números, os portos brasileiros precisariam operar com 90% de eficiência daqui para a frente, mas, segundo André Pessôa, a média histórica é de eficiência de 70%.
 
"O que vem pela frente não é melhor do que a gente tem até agora, é pior. A gente já mergulhou no poço, mas não chegamos no fundo", afirmou ele.
 
No Porto de Paranaguá há registro de espera de até 40 dias para a liberação de navios com soja. Também há atrasos em Santos.
 
"Compradores já estão buscando cargas em outros países, como Argentina e EUA", disse Pessôa. "Pelo simples motivo que a soja que está lá consegue sair, e a nossa tem uma fila de 40 dias."
A maior demanda atual está elevando os preços da soja nos EUA e, por consequência, na bolsa de Chicago. No entanto, o caos logístico no Brasil também pode trazer volatilidade às cotações no segundo semestre do ano.
 
"A soja que não saiu, não desapareceu. Ela vai sair em algum momento, e vai sair junto com a soja americana. Lá na frente, em novembro, dezembro, os chineses terão duas escolhas", afirmou o analista.

Fonte: Aprosoja | REUTERS

Redação

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