A retirada de recursos da caderneta de poupança continuou em agosto deste ano – o oitavo mês seguido em que as saídas de valores superaram os depósitos – assim como na parcial deste ano, com valores ainda expressivos, mas a evasão de recursos da mais tradicional modadalide de investimentos do país registrou queda em ambas as comparações.
Segundo números divulgados pelo Banco Central nesta terça-feira (6), a saída líquida de recursos (acima dos depósitos) da poupança somou R$ 4,46 bilhões no mês passado, o que representa uma queda em relação a agosto de 2015, quando a saída de valores somou R$ 7,5 bilhões (a maior da história para este mês).
Já no acumulado dos oito primeiros meses deste ano, ainda segundo números oficiais, houve uma queda pequena na fuga de recursos da poupança. De janeiro a agosto deste ano, as retiradas superaram os depósitos em R$ 48,18 bilhões, com recuo marginal em relação ao mesmo período do ano passado (saída líquida recorde de R$ 48,49 bilhões).
Apesar da menor queda na parcial deste ano, a saída de valores da poupança continua expressiva – perdendo apenas para o ano passado. Esse movimento acontece em meio à recessão da economia brasileira, ao aumento do desemprego e da taxa de inadimplência. A baixa rentabilidade frente a outras opções de investimentos também tem levado poupadores a fazer saques.
Em todo ano passado, R$ 53,36 bilhões deixaram a poupança. Foi a primeira vez em dez anos que mais recursos saíram que entraram da caderneta. Também foi a maior fuga de valores desde o início da série histórica do BC para um ano fechado.
Saldo da poupança
O volume total aplicado, ou seja, o estoque da caderneta de poupança, voltou a registrar queda em agosto deste ano, quando somou R$ 641,12 bilhões. No fim de julho, estava em R$ 641,29 bilhoes e, no fechamento do ano passado, estava em R$ 656 bilhões.
A queda no estoque é inferior ao valor total das retiradas porque àquele se somam os rendimentos pagos aos aplicadores da poupança, que foram de R$ 4,29 bilhões em agosto e de R$ 32,72 bilhões nos primeiros oito primeiros meses do ano.
Baixo rendimento
Enquanto o rendimento dos fundos de renda fixa sobe junto com a Selic (a taxa básica de juros determinada pelo Banco Central), o das cadernetas fica limitado a 6,17% ao ano mais a variação da Taxa Referencial (TR) quando a Selic está acima de 8,5% ao ano.
Segundo a Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac), como a Selic está em 14,25% ao ano (o maior nível em dez anos), as aplicações em renda fixa, como fundos de investimento, ganham mais atratividade porque o rendimento fica acima do da poupança na maioria das situações. A poupança continua atrativa somente para fundos com taxas de administração acima de 2,5% ao ano.
No ano passado, a rentabilidade da poupança foi de 8,15%. Ou seja, ficou abaixo da inflação, que alcançou 10,67%. Descontada a inflação, portanto, quem manteve recursos na poupança ao longo de 2015 viu o dinheiro perder 2,28% do poder aquisitivo, de acordo com a consultoria Economatica. É o pior resultado desde 2002.
Apesar do baixo rendimento, especialistas avaliam que a caderneta de poupança ainda pode ser uma boa opção, mas somente em poucos casos. Por exemplo: para pequenos poupadores (com pouco dinheiro guardado), para pessoas que buscam aplicações de curto prazo (poucos meses) ou que procuram formar um "fundo de reserva" para emergências.
A vantagem da poupança em relação a outros investimentos é que não incide Imposto de Renda sobre a aplicação.
Nos fundos de investimento, ou até mesmo no Tesouro Direto (programa do governo de compra de títulos públicos pela internet) há cobrança do IR e, na maior parte dos casos, de taxa de administração. Nos fundos de investimento e no Tesouro Direto, o IR incide com alíquota regressiva, ou seja, quanto mais tempo os recursos ficarem aplicados, menor é o valor da alíquota incidente no resgate.
Menos recursos para casa própria
O menor interesse na poupança também afeta os financiamentos imobiliários, uma vez que a modalidade é fonte de recursos para a casa própria. Pelas regras, os bancos precisam destinar parte dos saldos da poupança (SBPE) para o crédito imobiliário.
Em março deste ano, a Caixa Econômica Federal informou que aumentou os juros para financiar a casa própria com recursos da poupança. Foi a primeira vez no ano em que a Caixa subiu os juros para crédito imobiliário. O aumento, informou o banco, foi "decorrente de alinhamento ao atual cenário econômico".
Segundo números da Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança (Abecip), o volume de crédito para a construção e aquisição de imóveis, com recursos da poupança, caiu 47,9% de janeiro a julho de 2016 na comparação com o mesmo período do ano passado – para R$ 26,4 bilhões.
Fonte: G1