Cidades

Brasil precisa triplicar cidades com cineclubes para bater meta

Um levantamento da Secretaria do Audiovisual, do Ministério da Cultura, feito a pedido do G1 mostra que o país conta hoje com 701 cidades com cineclubes, o que representa 12,6% do total. São mais de mil espaços espalhados pelo país.

O dado revela um desafio quase inalcançável: atingir o patamar de 37% das cidades com cineclubes até 2020, uma das metas do Plano Nacional de Cultura. Isto significa ampliar o número para 2.061 em apenas cinco anos.

Em 2010, havia 682 cidades com cineclubes – espaços que exibem filmes brasileiros e estrangeiros, sem fins lucrativos, e que promovem palestras e estimulam o debate sobre o que é apresentado. Se o ritmo for mantido, serão necessários mais de 300 anos para cumprir o estipulado.

Para Gleciara Ramos, secretária-geral do Conselho Nacional de Cineclubes, trata-se de uma tarefa “muito difícil”. “Apesar de haver um gargalo na exibição no país e de a gente saber da importância do cinema e da educação, não há atitudes por parte do governo de dar legitimidade ao cineclubismo, que é tratado de maneira muito periférica”, diz.

Gleciara diz que há muita dificuldade em manter os espaços atualmente. “Falta periodicidade nas exibições. São escassos os que funcionam regularmente.” Segundo ela, isso se deve muito ao fato de as ações do governo, como o Cine Mais Cultura, terem sido interrompidas. Gleciara também cita o caso da Programadora Brasil, criada para disponibilizar vídeos para exibição e que deixou de funcionar.

O secretário do Audiovisual, Pola Ribeiro, admite que “programas foram descontinuados”, mas diz que eles serão “requalificados”. “Com a tecnologia do jeito que anda, um projeto que parou três anos não tem como ser posto para funcionar de imediato. A gente vai reorganizar o Cine Mais Cultura porque as coisas mudam de uma maneira muito rápida. Ele será associado a outros projetos e voltará.” O Cine Mais Cultura foi responsável por ampliar os espaços no país, oferecendo um kit contendo equipamentos de projeção digital e obras do catálogo da Programadora Brasil.

Há quatro meses no cargo, o secretário, que é cineasta e também teve forte atuação como cineclubista, diz que a importância da Programadora Brasil é inegável. “São mais de mil títulos licenciados. O problema é que acontecem coisas como mudanças na direção, orçamento contingenciado, e o programa é descontinuado. Mas ele vai voltar. Já há até novos filmes para distribuir. Não haverá invenção nesta gestão. O que a gente fará é a reconstituição de políticas que foram descontinuadas e a articulação entre elas”, afirma.

Para bater a meta de cidades com cineclubes, no entanto, Ribeiro diz que precisará contar também com a aprovação de emendas no Congresso. “O MinC tradicionalmente não é um bom executor de emendas parlamentares. Até porque quando um deputado pensa em uma estrada, ele já pactuou com a prefeitura e às vezes já chega até com a empreiteira. Quando se fala em cultura, é mais difícil a questão da execução. Já foi feito, inclusive, um guia para facilitar essa relação. Mas, no meu otimismo, digo que é possível chegar à meta. Vai depender muito da organização junto ao Congresso.”

Reconhecimento
A secretária-geral do Conselho Nacional de Cineclubes diz que a saída para o fomento do setor é a criação de um programa contínuo. “Ele precisa atender a questão de equipamentos, acervo, reciclagem de informação, de qualificação e capacitação e dar visibilidade aos cineclubes, criando um circuito, uma rede. Para funcionar, é preciso reconhecimento por parte dos gestores e também dos realizadores brasileiros.”

“Os cineclubistas em atividade são, em sua maioria, voluntários, militantes, apaixonados pelo que fazem. A falta de acesso a um bom conteúdo é hoje uma das principais reivindicações da sociedade contemporânea. No Brasil, a população padece desse direito, mas infelizmente muitas vezes não tem essa percepção”, afirma Gleciara.

Números
Os dados tabulados pela Secretaria do Audiovisual revelam que metade das cidades com cineclubes está na região Nordeste. São 340. O estado com o maior número de municípios com o espaço é a Bahia: 87.

Gleciara, que é cineclubista em Salvador, diz que a atividade sempre esteve muito ligada às comunidades populares e ao movimento negro no estado. “Há cineclubes na capital que funcionam em bairros de periferia, ao ar livre ou em terreiros de candomblé”, diz.

Outro dado que chama a atenção é que um terço dos cineclubes está presente em cidades de até 20 mil habitantes. Isso porque o Ministério da Cultura incentivou com o programa Cine Mais Cultura a instalação dos locais como alternativa à não existência de salas de cinema.

“Os cineclubes ajudam a diminuir o abismo da falta de acesso a produtos culturais. É impressionante filmes baianos serem vistos por pessoas que nunca foram a um cinema. É possível perceber que são décadas de comunicação abortada. O problema muitas vezes é: tem quem faça, mas não tem quem receba”, afirma Gleciara, que cobra a distribuição de filmes via web.

Pola Ribeiro diz que essa é uma das principais preocupações do órgão. “É triste para aquele que não tem seu filme sendo exibido. Todo mundo perde. Já estão sendo definidas alternativas para melhorar essa questão, mas é preciso lançar mão de uma tecnologia que um ano depois não esteja obsoleta. A gente está amadurecendo a discussão para ter um equipamento que viabilize ao máximo a difusão. O objetivo, a estratégia, o compromisso é o mais rápido possível distribuir numa plataforma amigável os conteúdos para a maior parte dos pontos do país”, conclui.

Fonte: G1

Redação

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Reportagens realizada pelos colaboradores, em conjunto, ou com assessorias de imprensa.

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