No entanto, enquanto a maioria dos sul-africanos aguardou o campeonato com grande expectativa e boa vontade, muitos brasileiros têm demonstrado – em protestos ou pesquisas de opinião – enorme descontentamento com o evento.
O que explica a disparidade nas posturas? E o que diferencia os preparativos da Copa brasileira da organização do Mundial sul-africano?
Coautor de A Copa da África, livro que analisou os impactos do Mundial de 2010 na África do Sul, o professor de história africana da Universidade do Estado de Michigan (Estados Unidos) Peter Alegi arrisca algumas respostas.
Para ele, os comportamentos distintos talvez reflitam as diferentes perspectivas enfrentadas no Brasil e na África do Sul pela classe média, grupo que detém enorme influência política nos dois países. Ele diz que, enquanto a classe média brasileira se sente pressionada e cobra melhorias urgentes nos serviços públicos, a sul-africana ainda desfruta de avanços recentes em seu padrão de vida.
"Na África do Sul, a classe média é formada principalmente por negros que acabaram de conseguir bons empregos, comprar casas, conquistar a liberdade de opinião e movimento. Para a classe média sul-africana, o cenário talvez pareça mais positivo que para a brasileira."
Alegi cita, no entanto, o que considera uma diferença importante nos preparativos para a Copa dos dois países, que pode ter colaborado para inflamar os ânimos contra o Mundial aqui.
"O que a África do Sul quase não fez e o Brasil parece estar fazendo muito são as remoções forçadas de pessoas e um policiamento muito agressivo. Na África do Sul, não se via o Exército deslocando centenas ou milhares de soldados para policiar bairros pobres", diz.
BBC