SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A valorização recente do bitcoin como ativo e sua aceitação mais ampla como meio de pagamento vêm aumentando o interesse de investidores por criptomoedas.
Desde o início deste ano, por exemplo, o preço do bitcoin quase dobrou para US$ 58.192,36 (R$ 324,8 mil) –uma alta de 98,1%. O preço do Ethereum, segunda criptomoeda mais popular no mundo, por sua vez, quase triplicou no período, para US$ 2.118,38 (R$ 11,8 mil) –alta de 190%.
No início deste mês, o valor de mercado das criptomoedas em conjunto bateu um novo recorde, a US$ 2 trilhões (R$ 11,2 trilhões), segundo dados das empresas de acompanhamento CoinGecko e Blockfolio. O impulso veio tanto de investidores de varejo quanto de investidores institucionais.
Contribui para esse cenário também a perspectiva de escassez da oferta: o bitcoin já atingiu cerca de 85% do limite total previsto de 21 milhões de unidades mineradas (processo pelo qual se extrai um bitcoin).
Na mineração, são utilizados computadores com alto poder de processamento para fazer uma série complexa de cálculos de maneira a confirmar ou validar as transações que acontecem em bitcoin. A rede onde as criptomoedas funcionam é chamada de blockchain.
O movimento veio pouco tempo depois de empresas como Visa e PayPal anunciarem, no final de março, que passaram a aceitar o uso de bitcoin como forma de pagamento.
Enquanto o PayPal vai permitir que consumidores dos EUA usem suas reservas em criptomoedas para pagar compras online em todo o mundo, a Visa anunciou que vai aceitar o uso dos ativos para liquidar transações em sua rede de pagamentos.
Além das empresas, também houve entrada de grandes investidores institucionais, como a MicroStrategy e a Tesla, de Elon Musk.
"Isso sem contar o IPO [oferta pública inicial de ações] da Coinbase, maior exchange [corretora] de criptomoedas dos Estados Unidos. Tudo isso traz um cenário bastante positivo para o setor", afirma o presidente da BitcoinTrade, Bernardo Teixeira.
A ascensão das criptomoedas também tem chamado a atenção de bancos de investimentos e gestores –no ano passado, a QR Capital lançou um fundo que investe 100% em bitcoin, por exemplo. Na mesma linha, o BTG Pactual criou recentemente um fundo multimercado de bitcoins.
"Cada vez mais o bitcoin acaba sendo visto como uma reserva de valor, principalmente em um cenário de adoção de novas tecnologias, no qual há uma demanda maior por formas mais diversificadas de investimento", afirma Ricardo Dantas, presidente da corretora de criptomoedas Foxbit.
Apesar da alta significativa nos preços das criptomoedas, no entanto, os executivos do setor também chamam atenção para os riscos atrelados ao investimento nesse tipo de ativo.
"O mercado ainda é pequeno e tem muito espaço para crescer, mas é preciso que as pessoas tenham consciência de que as criptomoedas são ativos extremamente arriscados, com uma volatilidade muito alta. É preciso cautela e conhecimento do mercado antes de alocar recursos em bitcoin", afirmou o presidente da Alter, Vinícius Frias.
A expectativa do mercado é que dessa vez o movimento seja diferente do observado em 2017, ano em que houve um grande fluxo de investidores de varejo investindo em bitcoin sem ter o devido preparo e conhecimento.
Apesar de o movimento ter feito com que a criptomoeda subisse de valor mais de dez vezes em 2017, também foi o motivo para que o bitcoin perdesse metade do seu valor no ano seguinte.
Isso ocorreu porque muitos investidores acabaram se assustando com a volatilidade e reduziram ou zeraram suas posições no ativo, o que acabou desequilibrando os níveis de oferta e demanda e derrubando drasticamente o preço da criptomoeda.
"A primeira coisa que o investidor precisa entender é que nunca deve investir em algo sobre o qual não tenha conhecimento. Bitcoin e criptomoedas no geral requerem estudos. Além disso, como qualquer ativo de risco, não é indicado alocar mais de 3% do patrimônio da carteira, principalmente para os iniciantes", afirmou Dantas.
O mesmo vale para as "altcoins", como são conhecidas as moedas digitais alternativas, e para os investimentos feitos em empresas que aplicam em bitcoins.
Em 2020, por exemplo, os tribunais de justiça receberam diversas ações de investidores que acabaram caindo nas chamadas pirâmides financeiras –prática ilegal que consiste em uma estrutura insustentável de repasses que, com a falta de novos participantes, deixa quem está na base sem nenhum recurso.
"Para evitar cair nesses esquemas, a dica é nunca acreditar em promessas malucas ou milagrosas. Nenhum investimento garante ganhos estratosféricos e o mesmo vale para as criptomoedas. Antes de alocar algum recurso, é preciso entender a estratégia da empresa para ter certeza de quais os riscos que ela está tomando", afirmou Teixeira.