Política

Bens imóveis de Julier e empresário são sequestrados pela Justiça

Foto: Divulgação

O ex-juiz federal Julier Sebastião da Silva (PMDB) teve seus bens imóveis sequestrados por determinação do juiz Jeferson Schneider, da 5ª Vara Federal, nesta quinta-feira (02) a pedido do Ministério Público Federal (MPF), que protocolou a ação em janeiro deste ano.

Além de Julier, a decisão também atinge o dono da construtora Planservi, o empresário Osvaldo Alves Cabral. Os dois estão envolvidos nas investigações da Operação Ararath, acusados de crimes de lavagem de dinheiro e corrupção ativa e passiva. Investigações conduzidas pelo Ministério Público Federal e pela Polícia Federal identificaram que o conluio de empresas do ramo da construção civil com interesses em contratos com o governo do Estado e pessoas físicas influenciou decisões do ex-juiz. 

“Decreto o arresto prévio à hipoteca legal dos bens imóveis sob a titularidade dos acusados Julier Sebastião da Silva e Osvaldo Alves Cabral e ainda indefiro o pedido de arresto de bens móveis e valores depositados no Sistema Financeiro Nacional”, diz trecho da decisão de Schneider.

Segundo as denuncias do MPF, o ex-juiz, que solicitou exoneração do cargo em abril de 2014 sonhando uma carreira política, atuava em processos do interesse do grupo representado por Osvaldo Cabral, apontado como lobista de empresas na área da construção civil.

Esquema

Por meio de monitoramento telefônico, quebra de sigilo bancário, busca e apreensão, colheita e análise de informações, além de oitiva de pessoas comprovou que Julier cometeu crimes funcionais quando exerceu a titularidade da 1ª Vara da Justiça Federal de Mato Grosso atuando em processos de interesse do grupo representado por Osvaldo Cabral, que atuava como lobista de empresas na área de construção civil. 

Em troca, o então juiz federal recebia uma mesada e tinha despesas ligadas ao seu projeto pessoal e político pago, com dinheiro vindo de empresas beneficiadas por decisões dele, enquanto juiz e que mantinham contratos diretos ou indiretos com o governo.

Além disso, a investigação demonstrou que a relação entre o empresário Osvaldo Cabral e Julier vai muito além da alegada amizade entre ambos. O empresário era um dos principais articuladores políticos de Julier, sendo também um homem de confiança que arcava com diversas despesas do magistrado, além de transferir mensalmente dinheiro a ele, emprestar veículo de luxo em troca de “favores judiciais”.

Na ação, o MPF afirma que não recrimina a pretensão de qualquer cidadão de almejar o ingresso na vida política e lembra que no caso dos juízes existe a possibilidade de desligamento definitivo da magistratura para participar das eleições.

Dinheiro do VLT     

Uma das empresas representadas por Osvaldo Cabral era a Planservi Engenharia Ltda, que almejava um contrato com o Consórcio VLT Cuiabá, vencedor da licitação para executar o projeto do VLT entre Cuiabá e Várzea Grande.

A Planservi assinou contrato com o Consórcio VLT Cuiabá no valor de R$ 46,9 milhões, para prestar o serviço de consultoria e supervisão da obra. O contrato foi firmado logo após as obras do VLT serem liberadas por uma decisão do juiz Julier Sebastião da Silva, que atuou poucos dias no caso em substituição ao juiz titular da causa. O juiz titular, que nesse período estava de férias, havia atendido ao pedido liminar da ação civil pública dos Ministérios Públicos Federal e Estadual, em agosto de 2012, e suspendeu a obra por uma série de irregularidades indicadas pelos procuradores da República e promotores de Justiça.

Os documentos apreendidos durante a investigação demonstram que Osvaldo Cabral e Valter Boulos, representante da Planservi, tinham um estreito relacionamento desde 2009, e tiveram conhecimento prévio do documento da Secopa que norteou a licitação da qual a Planservi foi vencedora.

Contrato vago 

O dinheiro oriundo do contrato do consórcio VLT Cuiabá, que já havia sido empregado no pagamento do contrato com a Planservi, segue o seu caminho em direção aos denunciados pelo MPF. A Planservi, por sua vez, contratou a ADM Oeste Construtora, no valor de R$ 850 mil, para prestação de serviços relacionados ao acompanhamento de obras, sendo o objeto do contrato “extremamente vago, sem nenhuma especificação do que seria vistoriado”. 

A construtora ADM Oeste pertence a Osmar Alves Cabral, irmão de Osvaldo Cabral. Depois de assinado o contrato entre a ADM Oeste e a Planservi, Osvaldo Cabral recebeu da construtora do irmão um total de R$ 501 mil no ano de 2013.

Apesar de o contrato entre as duas construtoras ter sido formalizado no valor de R$ 850 mil, os extratos bancários que a investigação teve acesso demonstram que o valor repassado à ADM foi, na verdade, de pouco mais de R$ 1 milhão.

Despesas custeadas 

O dinheiro que saiu dos cofres públicos para o pagamento do Consórcio VLT Cuiabá, que está executando a obra do veículo leve sobre trilhos, seguiu pelas contas das construtoras Planservi, ADM Oeste e foi parcialmente distribuído a Osvaldo Cabral que custeava despesas do então juiz Julier Sebastião da Silva.

Os documentos e anotações de Osvaldo Cabral, apreendidos durante a investigação, mostram a contabilidade detalhada feita por ele e que tem Julier como beneficiário de várias despesas relacionadas ao projeto político dele.

Entre os anos de 2012 e 2013, a investigação apontou que Julier Sebastião da Silva recebeu ao menos R$ 135 mil, em pagamentos mensais que variavam entre R$ 15 mil e R$ 20 mil, além de ter despesas pagas na ordem de R$ 57 mil relacionadas às articulações do juiz para dar seguimento ao seu projeto pessoal de entrar na vida política.

Após ser denunciado, em janeiro deste ano, Julier se defendeu, afirmando que nunca manteve qualquer ligação com “atos tidos por irregulares na referida apuração”.

Por meio de nota, Julier desconheceu a investigação conduzida pelo MPF em conjunto com a Polícia Federal, que envolve o seu nome e o empresário Osvaldo Alves Cabral. O ex-juiz é acusado de receber uma mesada, além de ter paga suas despesas ligadas ao próprio projeto político.

“Até o momento, não tenho conhecimento sobre quais os fatos estão realmente sendo investigados no referido inquérito judicial. Sabe-se apenas da existência de um suposto oferecimento de denúncia, os quais, por certo, não trazem qualquer participação deste em suposta infração”, declarou Julier.

O ex-juiz se diz surpreso e indignado com as notícias que foram publicadas nesta terça-feira (04) e reafirmou sua confiança nas instituições envolvidas na investigação.

“Reafirmo a confiança nas instituições envolvidas e a minha surpresa e indignação em face das notícias em questão, consignando que sempre pautei minha conduta pessoal e profissional com a mais absoluta ética, imparcialidade e seriedade, como é do conhecimento de toda a sociedade mato-grossense”, completou em nota de esclarecimento.

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Redação

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