Além do impacto ecológico, a recuperação da espécie tem profundo significado cultural para a população local
Gabrielle Tavares
O tacaé-do-sul, uma ave considerada extinta há 125 anos, voltou para seu habitat natural na Nova Zelândia após muitos anos de esforços contínuos de cientistas para recuperar a espécie, considerada sagrada para a população indígena local, o povo Ngāi Tahu.
Recentemente, 18 animais da espécie foram libertados no Vale de Greenstone, na Ilha Sul. Com isso, a população total da ave pode chegar a cerca de 500 indivíduos vivendo na natureza, um número impensável até poucas décadas atrás.
Como o tacaé-do-sul reapareceu após ter sido extinto?
O tacaé-do-sul foi redescoberto em 1948 nas montanhas de Murchison, décadas após ser considerado extinto.
Desde então, cientistas do grupo Takahē Recovery, em parceria com o povo Ngāi Tahu, implementaram estratégias para reintroduzir esses animais à natureza, como reprodução em cativeiro, criação de santuários e rígido controle de predadores invasores.
Furões e gatos selvagens, levados para a Nova Zelândia por colonizadores, representaram as maiores ameaças à sobrevivência dessa espécie.
De acordo com Deidre Vercoe, diretora do programa Takahē Recovery, a captura sistemática desses animais “diminuiu significativamente a presença de predadores e mantém as populações sob controle”, abrindo caminho para reintroduções bem-sucedidas.
O tacaé-do-sul sabe voar?
Não, apesar de ser uma ave, o tacaé-do-sul não consegue voar devido ao tamanho de suas asas, que, assim como as galinhas, não são preparadas anatomicamente para isso.
Por não voar e fazer seus ninhos no solo, o tacaé-do-sul é altamente vulnerável a ataques. Essa fragilidade exigiu vigilância constante e projetos de manejo inovadores.
Asas curtas do tacaé-do-sul o impedem de voar – Foto: Reprodução/ND
Por isso, o governo da Nova Zelândia investiu em translocações entre ilhas e técnicas de reprodução assistida, com o objetivo de criar populações autossustentáveis capazes de prosperar sem intervenção contínua.
Qual a importância de repovoar o tacaé-do-sul?
Além do impacto ecológico, a recuperação da espécie tem profundo significado cultural.
Para os Maori, as penas verde-azuladas do tacaé são consideradas “taonga”, palavra que significa tesouro ou algo de grande valor. O retorno dessas aves às terras da tribo Ngāi Tahu representa também a restauração de laços ancestrais.
Estudos apontam que o tacaé-do-sul habita a Terra desde o Pleistoceno, que ocorreu há aproximadamente 2,58 milhões anos. Agora, com o esforço dos cientistas e população nativa, a espécie poderá reabitar seu espaço.
Foto Capa: Reprodução/ND
Fonte: https://ndmais.com.br