Cultura

Autora continua a obra de Agatha Christie e lança livro protagonizado por seu mais famoso detetive

 
Conforme anunciado recentemente, pela primeira vez desde a morte de Agatha Christie, em 1976, os herdeiros da escritora britânica permitiram a publicação de um livro inédito com um personagem criado por ela. Com lançamento mundial na próxima segunda-feira, “Os crimes do monograma” (Nova Fronteira) é uma das obras mais aguardadas do ano. A assinatura de Christie está na capa, acima do nome da verdadeira autora: a também britânica Sophie Hannah, romancista e poetisa de 43 anos. O desafio — ou a ousadia, como diriam alguns — de retomar a trajetória de Poirot caiu por acaso no colo de Sophie, leitora obsessiva da “rainha do crime” desde a adolescência e responsável por oito thrillers publicados em mais de 20 países.
 
Há cerca de dois anos, a família de Agatha começou a discutir com a editora Harper Collins fórmulas que fossem além de relançamentos para atrair leitores das novas gerações — embora seus títulos ainda vendam quatro milhões de exemplares por ano. Coincidentemente, Sophie apresentara a seu agente literário uma trama policial que não se encaixava no século XXI. Era um suspense ideal para uma Londres mais aristocrática, já extinta. Os dois projetos se juntaram naturalmente, contou o neto de Agatha Christie, Mathew Prichard, o principal administrador do espólio da escritora:
 
— Pode parecer mentira, mas não houve disputa alguma para escolher um escritor. Aceitamos a ideia de Sophie e demos início às conversas. A única coisa que queríamos era que o autor fosse um grande fã de Agatha Christie.
 
SIGILO E LANÇAMENTO HOLLYWOODIANO
 
“Os crimes do monograma” é, segundo Sophie, uma carta de amor para a autora de “Morte no Nilo” e “Assassinato no Expresso do Oriente”. Seu Poirot é absolutamente fiel ao original. Estão ali as manias, o conhecimento da psiquê humana, o egocentrismo, a falta de paciência com os tolos e a preocupação em estimular suas “pequenas células cinzentas”. O detetive, herói de 33 histórias, morreu em “Cai o pano”, publicado por Christie em 1975 para desespero de uma legião de seguidores fanáticos (até hoje é o único personagem fictício a ter merecido um obituário na capa do “New York Times”).
 
Sophie não o ressuscitou. Na trama, Poirot já está aposentado, mas mantém o faro investigativo. A nova aventura tem início com a chegada de uma mulher que interrompe seu jantar para dizer que vai ser assassinada, deixando bem claro que merece o castigo.
 
— Jamais sonharia em desfazer algo que Agatha Christie criou — esclareceu Sophie, durante a apresentação do livro em Londres. — Fui purista nesse sentido. Poirot é um personagem brilhante, adorado mundo afora. Seria um equívoco mudá-lo, fazendo-o andar de patins ou assar cupcakes, por exemplo — brincou.
 
Escritora premiada na Inglaterra, Sophie, uma ex-aluna da Universidade de Cambridge, não tem pose de celebridade, mas tampouco treme diante das câmeras. Rebate com segurança e um típico humor britânico, autodepreciativo, as inevitáveis comparações. A história poderia ter saído da mente de Agatha Christie, mas Sophie insiste que não tentou imitar seu texto.
 
— Nunca pensei em substituí-la. Não me vejo como alguém que quer calçar seus sapatos, apenas engraxá-los — assegurou.
 
 
A preparação do livro foi cercada de sigilo para evitar vazamentos e tratada como uma megaestreia hollywoodiana. Responsável pela edição no Brasil, Renata Sturm considera Poirot uma criação atemporal e acredita que os leitores que já devoraram suas aventuras não vão tomar um susto.
 
— A essência foi mantida. O toque de inovação vem de novos personagens — afirma.
 
A história é narrada por um novo parceiro do detetive belga, o jovem policial Edward Catchpool. Cético e sem muita autoconfiança, ele é um contraponto divertido ao exibido protagonista que desfila pelos corredores do fictício Hotel Bloxham, cena do crime, onde xícaras de chá sempre podem conter cianureto. Nunca se sabe.
 
O Globo

Redação

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