A recente disparada no preço da carne bovina foi “um ponto fora da curva”, na avaliação da Confederação de Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA). Porém, segundo o presidente da entidade, João Martins, embora esteja havendo “uma acomodação”, os preços não voltarão mais ao patamar de 60 ou 90 dias atrás.
E, mesmo com a acomodação prevista para os próximos meses, a CNA prevê que o faturamento dos pecuaristas brasileiros deve subir, em 2020, 14,2% em relação a 2019, com valor estimado em R$ 265,8 bilhões. A maior expansão, de 22,2%, será na carne bovina. Também são esperados aumentos para o faturamento com carne suína (9,8%), pecuária de leite (7,5%) e frango (7,1%).
“Não se deve esperar que o preço da carne voltará ao mesmo patamar de 60, 90 dias atrás. Estávamos no pico da entressafra, com o menor preço dos últimos anos. Mas houve uma demanda muito forte lá fora e essa desvalorização cambial”, disse Martins.
Para o superintendente técnico da CNA, Bruno Lucchi, a demanda por proteína animal da China, fortalecida pela epidemia de peste suína africana no país asiático, deve permanecer por um período de três a cinco anos. Mas ele ponderou que o consumo doméstico deve cair a partir de janeiro, o que ajudaria a evitar reajustes maiores no preço do produto.
“Não vai faltar carne no país. O produtor vai reagir, melhorar pastagens e desenvolver novas tecnologias. A questão da oferta e demanda já vai se equilibrar. O que aconteceu neste período foram realmente vários fatores pontuais que pegaram os seus extremos e que culminaram num ponto realmente fora da curva”, disse Lucchi.
Os preços da arroba tiveram um pico em novembro, chegando ao valor recorde de R$ 230 em São Paulo. Além da questão da China, o técnico citou como fator a estiagem prolongada em alguns estados produtores.
“Por outro lado, o consumo doméstico apresentou sinais de recuperação em função da melhoria da economia e proximidade das festas de final de ano”, enfatizou, acrescentando que, acompanhando a carne bovina, os preços das carnes de frango e suína também subiram, mas em menor proporção.
Lucchi enfatizou que a demanda chinesa foi mais acentuada neste fim de ano, porque 2019 é o “ano do porco” no calendário chinês e as compras de carnes em geral aumentaram. Internamente, os gastos dos brasileiros nas festas de fim de ano serão estimulados pela liberação de recursos do FGTS e a própria melhora da economia.
Para a entidade, os baixos níveis da taxa básica de juros (Selic) e da inflação podem criar um ambiente favorável para o setor e estimular a concorrência entre as instituições de crédito.
Em 2019, China, União Europeia, Estados Unidos, Japão e Irã foram os principais destinos das exportações do agronegócio. Esses cinco mercados corresponderam a 63% das vendas externas do setor. A expectativa é que a Ásia continuará sendo um grande comprador.