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O agronegócio mato-grossense não se limita à produção e exportação de grãos e de plumas – como soja, milho e algodão, produtos nos quais Mato Grosso é campeão nesses quesitos em comparação com outros Estados. As cadeias produtivas de animais também apresentam destaque e são parte importante da economia que gira no campo, principalmente a bovinocultura (bois, vacas), suinocultura (porcos, leitões), e avicultura (frangos, galinhas). Os números de suas exportações, entretanto, preocupam o setor.
Dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC) apontam que as exportações mato-grossenses de proteína animal, entre janeiro e junho de 2015, tiveram queda expressiva na comparação com os meses de 2014. O quesito “carnes desossadas de bovinos, congeladas” registrou faturamento de US$ 411 milhões este ano, número que é 16% menor quando conferimos os resultados do ano passado, que deram aos produtores mais de US$ 491,1 milhões.
As categorias “carnes desossadas de bovinos, frescas ou refrigeradas” e “outras miudezas comestíveis de bovinos, congeladas” também apresentaram baixa e juntas caíram 28,15%.
Outra cadeia produtiva que também observa queda no número de exportações é a avicultura. O item “pedaços e miudezas, comest. de galos/galinhas, congelados” viu quase metade do seu faturamento cair de janeiro a junho de 2015, somando US$ 34,8 milhões – 46,9% menos do que a cifra registrada em 2014, que foi da ordem de US$ 65,5 milhões.
Com população estimada de 3.224.357 habitantes, segundo o Instituto de Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Mato Grosso não possui demanda interna para absorver a produção no campo, que reiteradamente vem anotando recordes na produção de grãos, plumas e proteína animal. Assim, resultados abaixo do esperado afetam a economia local.
Mas o maior baque entre as cadeias produtivas envolvendo animais ficou para as carnes congeladas de galos e galinhas cortados em pedaços. De janeiro a junho de 2014, o setor teve renda de US$ 89,8 milhões, época em que produtores e indústria frigorífica lembram com saudade, uma vez que nesse ano os ganhos dessa categoria foram de US$ 18,3 milhões, o que representa diminuição de 79,6%.
A suinocultura também vive um momento pior do que o mesmo período do ano passado. O quesito “outras carnes de suínos, congelados”, presente no relatório do MDIC, registra queda de 26,79% entre os meses de janeiro e junho deste ano na comparação com 2014.
No geral, Mato Grosso também vem anotando perdas nas exportações. O relatório do MDIC afirma que o Estado perdeu quase um quarto (24,46%) no faturamento até junho em relação com o ano passado.
Mesmo com queda, clima é de otimismo
Os números das exportações de proteína animal em Mato Grosso apresentaram desempenho menor do que o desejado pelos produtores e pela indústria frigorífica. Mesmo assim, os empresários e criadores enxergam boas perspectivas em suas respectivas áreas de negócios, como bovinocultura, suinocultura, avicultura e ovinocultura, consideradas as principais cadeias produtivas desse setor no Estado.
Antônio Carlos Carvalho é produtor de ovinos (carneiros e ovelhas) na Baixada Cuiabana, e exalta o bom momento que a comercialização desses animais para consumo da carne vive atualmente. Segundo ele, “a procura está alta”, ao contrário do momento em que se encontravam os negócios há três anos, período em que Carvalho afirmou ter ocorrido uma “redução drástica nos rebanhos e nos lucros dos produtores”.
O faturamento na venda pode ultrapassar os 100% na comparação com o ano passado, de acordo com o produtor: “Em 2014 vendíamos os ovinos a R$ 3/kg. Hoje conseguimos um preço que varia de R$ 5/kg a R$ 7/kg. A demanda está alta e não sei se os rebanhos atuais conseguirão supri-la. Tem gente que vai ficar sem ovino”, disse ele.
Hoje o rebanho de ovinos no Estado é estimado em 750 mil cabeças, segundo o Sindicato Rural de Sorriso.
Raulino Teixeira Machado é presidente da Associação dos Criadores de Suínos de Mato Grosso (Acrismat). Ele não é tão otimista quanto o criador de ovinos da Baixada Cuiabana, mas afirma que as perspectivas “são boas”, embora as projeções de que 2015 seria um ano “excepcional” para o setor “não tenham se confirmado”, segundo ele.
Com expectativa de crescimento de 17% no número de abates em relação a 2014 – que registrou 2,4 milhões – ele exalta a qualidade da carne produzida nas propriedades no Estado.
“Queremos crescer 17% este ano. A qualidade da nossa carne é excepcional. No fim dos anos 1980 buscávamos na região Sul animais para povoar nossas granjas. Hoje enviamos animais à Argentina em virtude da sua excelente qualidade genética”, diz.
A avicultura também tem vez em Mato Grosso, apesar de não ter uma representação institucional em nível de Estado como as cadeias produtivas dos carneiros, suínos e bovinos. Valdemar Grando possui uma granja em Nova Mutum (262 km de Cuiabá) e conta com 65 mil aves em seus barracões. Ao contrário das cadeias de suínos e ovinos, ele afirma que o aumento dos custos tem pesado na produção de aves para o consumo: “A situação da avicultura, ao menos em Nova Mutum, é estável. O que o produtor vem sentindo no bolso é o aumento dos custos da energia. Só em relação ao ano passado, houve aumento de 52% e é difícil repassar esse acréscimo uma vez que os contratos de exportação são fixos”.
O número de abates de aves no Brasil foi de 5,4 bilhões de animais em 2014, segundo o Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea). Mato Grosso contribuiu com pouco mais de 4% desse número, totalizando 227,9 milhões de animais.
Bovinocultura projeta queda de 17%
Responsável por 20% do valor bruto da produção (VBP) do agronegócio em Mato Grosso, a bovinocultura projeta um ano menos produtivo para a cadeia, pois estima que os abates em 2015 sejam 17% menores na comparação com o ano passado. Os dados são da Associação dos Criadores de Mato Grosso (Acrimat).
O abate total registrado em 2015 é de 2,2 milhões de animais, somando um rebanho total, até 2014, de 28,4 milhões de cabeças. No market share brasileiro da bovinocultura, ou seja, a porcentagem de participação de cada Estado nessa cadeia produtiva, Mato Grosso ainda fica atrás de São Paulo, com 19,47%. A unidade federativa do Sudeste detém pouco mais do que um quarto do mercado (25,29%), segundo o Imea.
Apesar da queda de abates na comparação com 2014, a bovinocultura teve crescimento acentuado nos últimos cinco anos: entre 2010 e 2015 o Valor Bruto de Produção teve incremento de 83,4%.