Então, de que maneira o preço de uma moeda estrangeira pode impactar a economia de um país? Embora discussões sobre as consequências da política monetária sejam de grande importância para as estratégias que um país tem em relação à saúde financeira dos seus cofres, a população acaba ficando à margem de um discurso que pode soar pouco compreensível aos ouvidos de pessoas leigas.
Leonela Guimarães, mestre em Economia e docente da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), aponta que há uma relação conceitual na valorização cambial. Segundo ela, fatores externos influem nessa variação de preço da moeda, e que no mundo dos investidores a confiança em determinado ente – seja ele um país inteiro ou apenas sua moeda corrente – define os investimentos (ou falta deles) que serão realizados, bem como o preço final de determinadas mercadorias ou serviços.
“O dólar é um produto. Como qualquer produto, sempre que a oferta supera a demanda, o preço cai, e vice-versa. O mercado também funciona de acordo com a confiança dos investidores. Se o presidente do Banco Central dos EUA anuncia que há uma tendência para aumento dos juros, por exemplo, há uma corrida pela retirada do dólar que está investido nas economias emergentes, pois juros maiores nos EUA significam maior rentabilidade do capital. Com pouco dólar disponível, seu preço aumenta”, analisa a docente.
No caso da agricultura, a vantagem da alta do dólar pode ser relativa. Para o analista de grãos do Instituto Mato-Grossense de Economia Agropecuária (Imea), Angelo Ozelame, é preciso cautela na euforia proporcionada pela valorização do dólar, pois o incremento de ganhos varia de acordo com o planejamento da produção que cada agricultor faz, isto é, o levantamento de custos e recursos disponíveis para o desenvolvimento da safra.
“O dólar é uma faca de dois gumes que depende do modo como você faz o manuseio. Uma valorização dessa moeda em relação ao real pode ser benéfica para os exportadores de grãos, por exemplo, apenas quando o custo que engloba insumos necessários ao desenvolvimento da safra já foram planejados. Nesses casos, o dólar só traz ganhos. Do contrário, irá aumentar os recursos necessários à produção”, diz ele.
De junho até a última semana de agosto de 2013, houve valorização de 10% na moeda norte-americana. Nesse mesmo período, o preço da saca de soja teve incremento de 15% na sua comercialização no mercado interno, de acordo com Ozelame. O especialista do Imea, no entanto, defende um equilíbrio entre o valor da moeda brasileira e o da norte-americana, dizendo que um câmbio muito desigual também cobra seu preço.
“É preciso haver um equilíbrio nessa diferença de uma moeda para a outra, pois, do contrário, alguns podem realmente se beneficiar, mas outros poderão ter grandes prejuízos, sobretudo aqueles que não têm os custos fechados de produção, como o investimento necessário em maquinário e demais insumos agrícolas. Quem quer vender terá seu lucro, mas o custo de produção também cobrará seu preço”, afirma ele.