Com 130 cães no quintal de casa, a guia de turismo Zélia Rilo, de 53 anos, vive hoje o drama de contar com doações de vizinhos para conseguir alimentá-los. A primeira dificuldade do abrigo surgiu após a suspensão de 230 quilos de ração que eram doados mensalmente pela secretaria de Defesa dos Animais da Prefeitura do Rio. Por mês os cachorros consomem cerca de 1.500 quilos.
Zélia recebia o restante através de doações de vizinhos e amigos e contava com a ajuda do marido, que morreu há 15 dias após ter um infarto, para cuidar e alimentar os animais.Nos revezávamos. Quando um saía o outro ficava em casa para cuidar deles. Ele também me ajudava muito financeiramente. Agora não sei o que vou fazer, pois a pensão dele vai demorar a sair e recebo R$ 2.500 por mês, que uso quase integralmente com eles, afirmou Zélia.
Apesar da grande quantidade de animais que vivem com ela num sítio em Pedra de Guaratiba, na Zona Oeste do Rio, Zélia consegue manter o ambiente limpo e tem diversos cuidados com cada um dos animais. A mobilização dos vizinhos ajuda nessa tarefa.Pego cloro de piscina em casa, misturo com bastante água e faço o cloro para ajudá-la a manter tudo higienizado, explica o amigo José Eduardo Miranda Teixeira, que junto com a defensora de animais Celeste Alves da Costa, fazem mutirões e saem de porta em porta pedindo aos vizinhos do bairro colaboração de sacos de ração para o abrigo.
A história do abrigo começou há cerca de 20 anos, quando Zélia tinha apenas sete cachorros vira-latas pegos na rua. Segundo ela, com o passar do tempo, vizinhos e pessoas estranhas começaram a abandonar animais em sua porta e até a jogar pelo muro no quintal de sua casa Sou tachada de louca, quando a única coisa que faço é cuidar e dar amor a esses bichos. Não saí por aí catando cachorros. Muitos foram jogados no meu quintal ou deixados amarrados no poste aqui em frente, conta ela.
Por causa da falta de dinheiro, Zélia precisa apelar para a criatividade para reforçar o cardápio dos cães e cuidar da saúde.Comecei a plantar abóbora no meu quintal. Cozinho e uso a semente que é boa como vermífugo, ensina a cuidadora. Mesmo assim, ela diz que não dá para dispensar o remédio pelo menos duas vezes por ano.Zelosa e apaixonada por cada um dos cães, Zélia se emociona ao comentar o momento que vive atualmente. Segundo ela, se em última circunstância não conseguir manter pelo menos a alimentação dos cachorros, ela vai precisar abrir os portões para que eles não morram de fome.Essa vai ser minha última atitude de vida. Mas não tenho dúvida que depois vou precisar de análise. O que tenho por eles é amor, muito amor, afirma Zélia com lágrimas nos olhos.
Prefeitura vai fazer nova licitação e promete ajudar em castrações
Segundo a prefeitura do Rio, a ajuda que era oferecida ao abrigo foi suspensa após a mudança de gestão da secretaria de Defesa dos Animais. A ajuda que era dada aos abrigos como o de Zélia era feita com a ração destinada aos abrigos mantidos pela prefeitura, que possui cerca de 600 cães.
Com essa prática, segundo a assessoria da secretaria, muitas vezes faltava comida para esses cães. Para minimizar o problema, a prefeitura informou que em uma nova licitação, prevista para acontecer no início de 2015, será feita e uma quantidade maior de ração será pedida para manter os abrigos da prefeitura e também ajudar aos abrigos externos. Enquanto isso, a secretaria se comprometeu a dar ajuda uma emergencial para Zélia, mas a quantidade e a periodicidade que a ração será doada não foi estipulada.
Ainda de acordo com o órgão, é fundamental que os animais sejam castrados para evitar o aumento de cães do abrigo. Na segunda-feira (3) uma veterinária da prefeitura vai entrar em contato com Zélia para agendar uma vistoria no local e data para começar a castrar os animais.Para ajudar os cães do abrigo, basta ligar para 2417-2940 / 0758 e pedir para falar com Lúcia, que é proprietária do pet shop da região que tem contrubuído com o mutirão criado pelos vizinhos para ajudar Zélia a manter a alimentação dos cachorros.
G1