Apesar de a cidade-sede possuir leitos para atender aos seus habitantes, a pressão sofrida pela demanda dos municípios no interior, que não possuem plano de ação para a saúde, demonstra a necessidade de mais investimentos e planejamento no setor. Além disto, a única unidade de urgência e emergência em alta complexidade, o Pronto-Socorro de Cuiabá, não possui estrutura para atender acidentes mais graves, que podem ocorrer durante os jogos do Mundial.
Além do Pronto-Socorro de Cuiabá atender a demanda do interior, também realiza os atendimentos da saúde básica e com uma estrutura precária e superlotação, não há como atender aos turistas, ressaltando que também não há planejamento para casos de acidentes graves.
O diagnóstico embasa a questão da saúde mediante o fluxo de turistas, e a falta de estrutura do Pronto-Socorro, além dos atendimentos aos pacientes do interior. Os números são contundentes, já que o fluxo médio estimado de turistas é de 58,6 mil, sendo que Cuiabá já recebe cerca de 4.480 pacientes por mês, vindos do interior, para realizar consultas especializadas e tratamentos de alta complexidade.
“Não é possível deslocar turistas para o Pronto-Socorro Municipal devido à superlotação e da precariedade dos serviços. Esta rotina precisa ser revista e alternativas devem ser criadas para que possíveis acidentes não tenham repercussões mais graves, tanto para as pessoas quanto para o evento”, concluiu o diagnóstico sobre o possível cenário para 2014 referente à saúde.
Falta de leitos – Sobre o panorama geral, o estudo identifica que em Mato Grosso existem 174 hospitais, 7 Prontos-Socorros, 26 policlínicas, 707 unidades básicas de saúde e 235 postos de saúde, sendo que a região metropolitana de Cuiabá/Várzea Grande engloba 31 hospitais. Os dados da pesquisa foram disponibilizados pelos próprios municípios pesquisados, bem como dados secundários fornecidos pelo Ministério da Saúde.
Deste total, 10 hospitais atendem por especialidades, sendo que todos os especialistas estão localizados em Cuiabá. Os hospitais públicos são 5, o que representa 16% do total, sendo 3 em Cuiabá e 2 em Várzea Grande. Já os hospitais privados correspondem a 84% do total, com 26 unidades.
No que concerne aos leitos disponíveis, o número chega a 2.487, sendo 65% de leitos públicos e 35% de leitos privados, concentrados nos 2 municípios.
O parâmetro do Ministério da Saúde que norteia a disponibilidade de equipamentos de saúde em todos os municípios indica 3 leitos por mil habitantes, número que chega a 3,70 em Cuiabá. Apesar de apresentar um superávit de pouco mais de 400 leitos, em relação ao padrão, a Capital sofre a pressão do déficit nos municípios do Vale do Rio Cuiabá, como Várzea Grande, que apresenta déficit de 338 leitos.
“Portanto, se faltam leitos hospitalares nestes municípios, o atendimento médico dos pacientes dessas localidades pressionam o atendimento em Cuiabá, ocupando-se os leitos que parecem estar excedentes”, diz o estudo.
Demanda por profissionais – Já sobre os profissionais da saúde para a Copa de 2014, o estudo aponta que serão necessários no máximo 20 médicos, sendo 16 clínicos gerais e 4 especialistas, 6 enfermeiros e 6 auxiliares de enfermagem. “Trata-se de uma demanda adicional, independente das necessidades cotidianas da cidade, contudo apenas para o período de 14 dias durante os jogos em Cuiabá”, considerou o estudo.
Ações em Cuiabá – Com uma visão mais centralizada dos problemas da cidade-sede da Copa do Mundo, o secretário de saúde de Cuiabá, Kamil Fares, afirma que existe um déficit de 559 leitos no Sistema Único de Saúde (SUS). “Se você contabilizar os leitos inativos do Adauto Botelho, são mais 120 leitos em falta. Atualmente, são 1.105 leitos públicos e mais 600 particulares que estão locados com recursos públicos”.
Fares apresenta um panorama mais conflitante, expondo que no que diz respeito a Baixada Cuiabana, há um déficit de 1,6 mil leitos, considerando um milhão de habitantes.
Entre as ações que estão sendo realizadas pela Secretaria Municipal para melhorar o cenário da saúde para a Copa, Fares destaca o projeto de locação do Hospital das Clínicas. “É um dos hospitais que podem ser bloqueados para uso durante a Copa, sendo que possui 127 leitos de alta complexidade”.
O secretário de Saúde acrescenta que esta deve ser uma das ações realizadas pelo governo durante o Mundial. “A princípio, o governo deve locar hospitais particulares, uma ou duas unidades, para deixar em espera, com a suspensão das cirurgias eletivas, para atender apenas a demanda da Copa”.
Além disto, Fares cita outras ações que buscam amenizar a demanda em Cuiabá, como dar mais agilidade aos tratamentos de alta complexidade, principalmente no que concerne ao atendimento dos municípios do interior. Para isto, o secretário cita a locação do hospital Santa Helena, em vias de concretização, para realizar as cirurgias mais complexas.
Sindmed – Presidente do Sindicato dos Médicos (Sindimed), Elza Queiroz apresenta uma visão mais crítica da situação para a saúde durante o Mundial e cita documento encaminhado à extinta Agência da Copa (Agecopa), que agora é Secopa, bem como, para a Fifa, para o senador Blairo Maggi (PR), que ocupa a presidência da Subcomissão Permanente de Acompanhamento das Obras da Copa do Mundo do Senado, ao ministro dos Esportes, Aldo Rebelo, além da Assembleia Legislativa e Câmara Municipal.
O documento do Sindimed apresenta denúncia de estado de calamidade pública no trato com a saúde pública em Cuiabá, ante a notória falta de uma unidade hospitalar de urgência e emergência que atenda a população e o evento da Copa do Mundo.
Segundo Elza Queiroz, nenhum dos endereçados respondeu ao documento, que pedia uma ampla vistoria na saúde pública de Cuiabá para retirada dos pacientes em condições precárias, tendo em vista que muitos são alocados nos corredores e chãos do Pronto-Socorro.
Além disto, o documento pedia a alocação de recursos para que ao médio prazo fosse construído um novo Pronto-Socorro para atender a uma população de quase um milhão de habitantes, número que aumentará durante o Mundial. “Se fosse apenas para atender Cuiabá, não haveria déficit, mas para atender todo o Estado, com uma média de utilização do SUS por 80% da população, não é possível”.
A presidente também criticou a atuação da Secopa nas ações para a saúde. “Ninguém da Secopa nos procurou, mas é preciso que seja deixado um legado também na saúde, e não apenas em infraestrutura”.
Outro lado – Coordenador da Câmara Temática da Saúde da Secretaria da Copa (Secopa), Fábio Liberalli, ressalta que um plano de ação para o setor já está sendo finalizado, mas atenta para o fato de que a urgência e emergência são o foco, sendo que a responsabilidade da atenção básica foi transferida aos municípios.
De acordo com Liberalli, as ações serão executadas através das secretarias de saúde, além de parcerias com Defesa Civil e Vigilância Sanitária. Sobre a Baixada Cuiabana, Liberalli aponta que serão realizadas ações que irão perdurar, como a construção de Unidades de Pronto-Atendimento (UPAs), através do plano de urgência e emergência do Ministério da Saúde. “Os municípios foram contemplados com vias à Copa do Mundo, sendo que serão construídas 4 UPAs em Cuiabá, 2 em Várzea Grande, e também em Poconé, Chapada dos Guimarães, o que totaliza 8 UPAs. O governo também irá entrar com o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) e os hospitais metropolitanos”.
Sobre a pressão do interior em Cuiabá e Várzea Grande, Liberalli diz que, infelizmente, não haverá dispositivo para resolver o problema da urgência e emergência, mas que será realizado reforço com as UPAs, além de que o governo procura junto à Secretaria de Saúde otimizar a gestão dos hospitais regionais. “O governo quer ampliar a capacidade de atendimento em Rondonópolis, pois assim atende toda a demanda do sul do Estado, sendo que sem este hospital, o Pronto-Socorro sofreria pressão maior. Então desde 2010 está sendo realizado este trabalho de ampliação dos hospitais regionais”.
Marianna Marimon – A Gazeta