A mãe havia sido ferida. Desesperado, ele correu para o Hospital Federal de Bonsucesso, mas Terezinha morreu logo após dar entrada na unidade. Agora, Antônio só tem um objetivo: acompanhar a investigação e cobrar a resposta para a pergunta que não sai de sua cabeça:
– Quero saber de onde saíram os tiros que atingiram a minha mãe. A família toda quer saber de onde saíram os tiros. Quando cheguei ao local onde ela estava caída, me disseram que uma patrulha da Força de Pacificação tinha sido atacada e, por isso, os disparos. Não sei quantos tiros atingiram a minha mãe, não quis ver. O hospital falou que foram dois. Mas isso não muda o fato de que ela morreu – contou.
Segundo ele, a mãe saiu de casa por volta das 21h30m para ir à farmácia comprar um remédio para dor de cabeça. Antônio a acompanhava. Quando voltavam, ele decidiu ficar em casa e Terezinha seguiu para seu próprio imóvel sozinha.
– Ela estava com o remédio dentro da bolsa. Escolheu o dia errado para ir à farmácia, né? E ainda preferiu ir em uma mais longe de casa, que era onde ela gostava de comprar – lembrou Antônio.
Ele disse não querer acusar ninguém no momento, pois acharia leviano. Mas quer que o responsável pelo tiro seja preso e responda pela morte da mãe:
– Como prestar conta para as pessoas que estão acompanhando o que está acontecendo de outra forma? Primeiro, foi aquele rapaz no sábado. Agora a minha mãe. Em três dias, duas mortes.
Terezinha será enterrada nesta quarta-feira, às 10h, no Cemitério do Caju, na Zona Portuária do Rio. Natural de Rio Branco, no Acre, ela vivia na cidade desde os 8 anos. Terezinha tinha cinco filhos e seis netos.
Mais um baleado
Além de Terezinha, um comerciante da Maré também foi baleado na noite de domingo. Francisco Oliveira Lemos, 47 anos, está internado no Hospital Pasteur, no Méier, também na Zona Norte. Ele foi ferido na perna esquerda e passa por uma cirurgia na perna nesta terça. Segundo o hospital, Francisco está estável, lúcido e respirando espontaneamente.
A DH pretende ouvir o depoimento do morador do Complexo da Maré no hospital mesmo. O objetivo é que ele dê detalhes sobre o que aconteceu.
Força de Pacificação diz que policiais não atiraram
Segundo informações do Hospital Federal de Bonsucesso, Terezinha levou dois tiros: um no peito e outro na barriga. Ele chegou à unidade às 22h07m. A assessoria de imprensa da Força de Pacificação, num primeiro momento, negou ter havido ataques contra as tropas na noite de terça. Mas, depois, entrevista à Rádio CBN, voltou atrás e confirmou que uma equipe de policiais militares foi alvo de disparos de bandidos quando se deslocava entre a Vila dos Pinheiros e a Vila do João. Segundo o major Alberto Horita, porta-voz da Força de Pacificação, os PMs não revidaram os tiros.
DH abre inquérito e faz perícia
Por meio de nota, a assessoria de imprensa da Polícia Civil informou que a Divisão de Homicídios (DH) instaurou um inquérito para apurar as circunstâncias da morte de Terezinha. Equipes da especializada fizeram uma perícia complementar no Complexo da Maré.
Ainda de acordo com com a nota,os agentes estão em busca de testemunhas que possam ajudar a identificar de onde partiu o tiro que atingiu a vítima. A delegacia vai solicitar ao hospital, para onde Terezinha foi socorrida, o boletim de atendimento médico dela, além de informações da internação.
Outra morte
A morte da idosa foi a segunda por tiros registrada na Maré desde a ocupação do conjunto de favelas, ocorrida no dia 5 deste mês. No dia 12, Jeferson Rodrigues da Silva, de 18 anos, foi baleado. Parentes acusam militares de terem executado contra o rapaz, que era conhecido como Parazinho.
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