Fantasia de 'La Vue' surpreendeu turistas na orla de Salvador (Foto: Glauber Mateus/TV Bahia)
O estudante de Geografia Raphael Gavotti, de 26 anos, encontrou um forma inusitada para protestar contra a construção, em Salvador, do Edifício "La Vue", pivô de polêmica envolvendo o ex-ministro da Secretaria de Governo, Geddel Vieira Lima, e da Cultura, Marcelo Calero. O estudante se fantasiou do La Vue e saiu "oferecendo sombras" aos banhistas da praia do Porto da Barra.
"A gente saía caminhando e perguntava ao pessoal: 'Vai uma sombrinha de prédio aí?'", conta o estudante.
Raphael e o amigo Matheus Tanajura, estudante de Arquitetura, deram início à mobilização na praia a fim de gravar imagens para conscientizar a população sobre o impacto da construção do prédio. No entanto, antes mesmo do vídeo ficar pronto, banhistas acabaram fotografando a fantasia, que ganhou diversos compartilhamentos nas redes sociais.
A ideia partiu de Matheus, que conhecia o bloco “Empatando sua Vista”, que desfila no carnaval de Recife (PE), e que também chama atenção para o sombreamento na orla. Os dois, então, pensaram em produzir um vídeo para publicar na internet, que abordasse os impactos da construção do Edifício "La Vue", em Salvador.
A polêmica envolvendo o Edifício La Vue começou após o ex-ministro da Cultura Marcelo Calero acusar Geddel de tê-lo pressionado para liberar as obras do prédio, cuja construção foi embargada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), subordinado ao Ministério da Cultura. Devido ao episódio, Calero pediu demissão na semana passada. Geddel Vieira Lima pediu demissão na manhã de sexta-feira (25), por meio de uma carta enviada por e-mail ao presidente Michel Temer.
"Era para ser um vídeo que iríamos gravar no Porto da Barra e no forte de Santa Maria. O La Vue tem a questão da sombra e da altura da construção, então também filmamos o forte, que fica perto, para alertar todo mundo sobre essa questão. Para alertar moradores, banhistas, turistas e comerciantes", conta.
Eles fizeram a gravação na sexta-feira (25), mesmo dia em que ocorreu um protesto em frente à construção do empreendimento. "Foram reações diversas. Teve gente que achou que era propaganda do prédio. A gente explicava para as pessoas a situação, para dizer que iria tapar o sol. Tinham algumas pessoas que já conheciam a situação e apoiavam", conta.
Raphael diz que não esperava a repercussão. "Foi mais uma ação de conscientização que fizemos, para pessoas saberem o que está acontecendo ali do lado", finaliza.
A presidente do Instituto dos Arquitetos da Bahia (IAB), que entrou com ação contra o empreendimento, Solange Araújo diz que o órgão não fez estudos específicos sobre o sombreamento causado na região. "Mas sim do não atendimento aos parâmetros urbanísticos em área de entorno de bens tombados. Também a predominância desse edifício na paisagem, devido a altura dos prédios do entorno. Todas as edifiçaões são da faixa de nove pavimentos. Esse entorno precisa respeitar o limite da silhueta da Igreja Santo Antônio da Barra, que é tombada. É ilegal e cria também uma predominância no entorno, o que não é conveniente. Abrindo esse precedente, outros prédios vao surgir", defende a arquiteta.
O G1 entrou em contato com a assessoria da construtora responsável pelo La Vue, que ficou de se pronunciar sobre as críticas.
Protesto
Uma manifestação foi realizada na tarde de sexta-feira, em Salvador, contra a construção do Edifício La Vue. O ato começou por volta das 15h30, em frente ao prédio, mas às 16h30, o grupo decidiu caminhar pela orla da capital baiana, até chegar à residência de Geddel, no bairro da Graça, uma distância de cerca de quatro quilômetros.
Por volta das 17h40, o grupo chegou na porta do condomínio onde Geddel Vieira Lima mora, na Rua Plínio Moscoso. No local, os manifestantes entoaram palavras de ordem contra o ex-ministro e contra o presidente Temer. A manifestação foi encerrada por volta das 18h20.
Segundo o líder comunitário Francisco Coelho, um dos organizadores do ato, cerca de 200 pessoas participaram do protesto. Já de acordo com o major Assemany, comandante da 11ª Companhia Independente de Polícia Militar (11ª CIPM), aproximadamente 100 pessoas integraram a manifestação.
Fonte: G1