Cidades

Pai que matou filho era “possessivo” e já tinha feito ameaças a ele

Uma tia do estudante de matemática Guilherme Silva Neto, de 20 anos, disse que o jovem já havia sido ameaçado outras vezes antes de ser morto pelo pai, o engenheiro Alexandre José da Silva Neto, de 60, em Goiânia. Segundo a mulher, que prefere não se identificar, diz que o idoso, que cometeu suicídio logo após o homicídio, era "possessivo" e queria que o filho "pensasse como ele". O rapaz era ligado a movimentos sociais, o que irritava o pai. 

"Ele ficava fazendo esse tipo de terrorismo. Falava 'se não for do jeito que eu quero, eu vou te matar e dar um tiro na cabeça. Ele já falou isso, mandava mensagem. Achava que isso era para inibir o Guilherme de ir às manifestações. [Ele dizia] se não for do jeito que eu quero, vou te matar", afirmou a parente.

O corpo do estudante foi enterrado nesta quarta-feira (16) por volta das 17 horas no Cemitério Jardim das Palmeiras, em Goiânia. Familiares e amigos, que acompanhavam Guilherme em protestos e ocupações de escolas, estiveram no local para se despedir dele.

A tia do jovem disse revelou ainda que Guilherme vivia "preso" dentro de casa desde pequeno, pois o Alexandre nunca o deixava sair. Ela mesma afirma que só saiu com o sobrinho uma única vez e depois que ele já havia crescido.

"Nunca imaginei que ele fosse fazer isso que ele fez. O menino tinha horário para chegar. Se ônibus atrasasse, ele já ficava mandando mensagem o tempo inteiro. Desde criança ele foi preso, não teve vida. Era criança e não podia sair de casa e brincar com os amigos dele. Só fui sair com ele agora, com 20 anos, uma única vez. Levei ele em uma festa. Nunca sai com meu sobrinho. Porque o pai nunca deixou. Nem eu ir no cinema. Ele era muito possessivo", contou.

Crime
O crime aconteceu na terça-feira (15), na esquina da Rua 25-A com a Avenida República do Líbano, na quadra acima de onde a família mora. De acordo com a Polícia Civil, o homem baleou o filho, que fugiu, mas foi perseguido e alcançado. Um vídeo mostra o momento em que a mãe de Guilherme, a delegada aposentada Rosália de Moura Rosa Silva chega ao local desesperada e diz: ”Meu filho. Por que ele fez isso?”

Após matar Guilherme, Alexandre se debruçou sobre ele e atirou contra si. O engenheiro foi socorrido e levado ao Hospital de Urgências de Goiânia (Hugo), mas também morreu. Ele foi enterrado nesta tarde no Cemitério Vale da Paz, na capital.

Conforme o delegado Hellynton Carvalho, que esteve no local do crime, o engenheiro proibia o rapaz de ocupar escolas. “Parentes disseram que os dois tinham conflitos recorrentes, mas o que culminou na tragédia foi uma briga pelo fato do pai tentar impedir que o filho participasse da ocupação de uma escola”, relatou ao G1.

O jovem estudava matemática na Universidade Federal de Goiás (UFG). Na manhã desta quarta-feira (16), estudantes que ocupam o campus Samambaia fazem um protesto e aproveitaram para homenagear o estudante. Em uma das paredes do campus foi pichada a frase: “Guilherme eterno. Lutar sempre, desistir jamais!”.

Comportamento alternativo
Conforme consta no registro de ocorrência, Alexandre não concordava com o comportamento e o modo de ser do filho, considerado "alternativo e revolucionário". Guilherme era ligado a movimentos sociais, incluindo as ocupações de escolas contra a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 241, que estabelece teto para o aumento dos gastos públicos.

Em uma conta nas redes sociais, Guilherme demonstrava interesse em assuntos ligados a questões sociais e política. Além disso, ele também participava de comunidades de assuntos como o fim da cultura do estupro, legalização do aborto e se posicionava contra a gestão de Organizações Sociais (OSs) na Educação.

Em nota, a União Nacional dos Estudantes (UNE) afirmou que "lamenta profundamente" as mortes de Guilherme e de Alexandre e que presta solidariedade e respeita o luto da família e amigos. O órgão ressalta que, embora o caso tenha relação com a relação entre pai e filho, "enxerga com preocupação" o fato de que a briga tenha sido motivada por discussões sobre preferências políticas.

A UNE destacou ainda que é necessário "reafirmarmos o diálogo e a democracia como principal saída para os diferentes pensamentos existentes na sociedade".

Fonte: G1

Redação

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