Um vídeo mostra que a mãe do estudante de matemática Guilherme Silva Neto, de 20 anos, que foi morto a tiros pelo pai, chegou ao local do crime minutos depois, no Setor Aeroporto, em Goiânia. O marido dela se matou após atirar no filho. Na gravação, a delegada aposentada Rosália de Moura Rosa Silva diz desesperada: ”Meu filho. Por que ele fez isso?”.
O crime aconteceu na terça-feira (15), na esquina da Rua 25-A com a Avenida República do Líbano, na quadra acima de onde a família mora. Segundo vizinhos, Rosália ouviu da prórpia casa os tiros que atingiram o filho e o marido, o engenheiro civil Alexandre José da Silva Neto, de 60 anos.
Segundo a Polícia Civil, o pai não aceitava a ligação do jovem com ocupações de escolas. “Parentes disseram que os dois tinham conflitos recorrentes, mas o que culminou na tragédia foi uma briga pelo fato do pai tentar impedir que o filho participasse da ocupação de uma escola”, relatou ao G1 o delegado Hellynton Carvalho, que esteve no local do crime.
Ainda segundo o delegado, o engenheiro tinha problemas psicológicos. “Os familiares disseram que o pai sofria de depressão, mas ele e o filho sempre discutiam por conta do estilo de vida do rapaz, que participava de movimentos sociais e movimentos estudantis, e o homem não aceitava”, destacou.
Familiares disseram em entrevista à TV Anhanguera que o pai era possessivo e já havia ameaçado o filho de morte caso não abandonasse os movimentos sociais. No entanto, os parentes não acreditaram que o engenheiro seria capaz de matar o estudante porque ele sempre demonstrou muito amor pelo jovem.
O jovem estudava matemática na Universidade Federal de Goiás (UFG). Na manhã desta quarta-feira (16), estudantes que ocupam o campus Samambaia fazem um protesto e aproveitaram para homenagear o estudante. Em uma das paredes do campus foi pichada a frase: “Guilherme eterno. Lutar sempre, desistir jamais!”.
Perseguição
A mãe do jovem disse à polícia que, na manhã do crime, pai e filho tiveram uma discussão motivada pela reintegração de posse em uma unidade ocupada por estudantes. O jovem queria ir, mas o pai não permitiu. O engenheiro, no entanto, saiu de casa, e Guilherme também, logo em seguida. Quando o idoso retornou e não viu o filho, foi à sua procura.
"O pai surpreendeu o filho próximo à Praça do Avião. Segundo testemunhas, nesse momento, ele teria efetuado quatro disparos. Mesmo ferido, o jovem chegou a correr, mas o pai entrou no carro e o perseguiu até alcançá-lo. Foi quando ele atirou outras vezes", contou o delegado.
Após matar Guilherme, Alexandre se debruçou sobre ele e atirou contra si. O engenheiro foi socorrido e levado ao Hospital de Urgências de Goiânia (Hugo), mas também morreu.
Um homem, que não quis se identificar, chegou ao local no momento do crime. "De início, escutei três disparos. Eu escutei uma gritaria, aí a hora que eu cheguei perto do portão vi o senhor recarregando a arma", contou.
O corpo de Guilherme é velado desde o início da manhã desta quarta-feira no Cemitério Jardim das Palmeiras, em Goiânia. O enterro está previsto para as 17h.
Já o corpo de Alexandre só foi liberado do Instituto Médico Legal (IML) de Goiânia no final da manhã. Segundo parentes, ele será enterrado assim que chegar ao cemitério.
Comportamento alternativo
Conforme consta no registro de ocorrência, Alexandre não concordava com o comportamento e o modo de ser do filho, considerado "alternativo e revolucionário". Guilherme era ligado a movimentos sociais, incluindo as ocupações de escolas contra a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 241, que estabelece teto para o aumento dos gastos públicos.
Em uma conta nas redes sociais, Guilherme demonstrava interesse em assuntos ligados a questões sociais e política. Além disso, ele também participava de comunidades de assuntos como o fim da cultura do estupro, legalização do aborto e se posicionava contra a gestão de Organizações Sociais (OSs) na Educação.
Fonte: G1