O Estadão Dados fez um levantamento acerca de candidatos que possuem certa “dívida de gratidão” com seus colegas de campanha. No estudo foi constatado que 32 candidatos a prefeito fizeram doações que totalizaram pelo menos R$ 50 mil reais a cada um dos postulantes, dentro de um conjunto de 2.537 colegas de partido ou coligação que concorreram a vagas em câmaras municipais. As contribuições foram tanto em dinheiro quanto em material de propaganda ou combustível.
Em Mato Grosso, o prefeito eleito em Lucas do Rio Verde (354 km ao norte de Cuiabá), Flori Luiz Binotti (PSD), foi incluído no rol de candidatos com maior volume de recursos doados e que bancaram as próprias campanhas. A matéria com foco na cidade de Betim, em Minas Gerais, considerou similar a forma como os prefeitos contribuem com as campanhas dos vereadores.
“Candidatos a prefeito têm um duplo incentivo para contribuir com as campanhas de vereadores. Em primeiro lugar, eles formam um exército de cabos eleitorais. E também montam antecipadamente uma base de apoio no Legislativo, em caso de vitória”, revela trecho da matéria.
Segundo a apuração do Estadão, em Lucas do Rio Verde quase a metade dos vereadores eleitos (4 de 9) recebeu ajuda financeira de Flori Luiz Binotti. No total, ele distribuiu R$ 1,14 milhão, sendo que 28 dos 32 beneficiados não passaram pelo teste das urnas.
“Binotti doou para sua própria campanha à prefeitura R$ 2,13 milhões, o equivalente a 97% de tudo o que arrecadou. O patrimônio declarado pelo prefeito eleito à Justiça Eleitoral chega a R$ 33,9 milhões”. Destacou ainda a cidade de Lucas do Rio Verde como um polo do agronegócio e uma das cidades mais ricas do Estado.
O Estadão informou que entrou em contato com o prefeito eleito de Lucas do Rio Verde, por intermédio de sua mulher, mas não houve resposta às mensagens enviadas para o telefone celular dela.
Confira abaixo a matéria completa:
Metade dos vereadores eleitos de Betim (MG) possui uma “dívida de gratidão” com Vittorio Medioli (PHS), que tomará posse como prefeito em janeiro. Um dos candidatos mais ricos da eleição municipal de 2016, Medioli pagou do próprio bolso suas despesas eleitorais e ainda injetou R$ 1,9 milhão nas campanhas de 228 concorrentes à Câmara Municipal, 11 dos quais foram eleitos.
Não se trata de um caso isolado. Segundo levantamento do Estadão Dados, 32 candidatos a prefeito fizeram doações que totalizaram pelo menos R$ 50 mil reais a cada um dos postulantes, dentro de um conjunto de 2.537 colegas de partido ou coligação que concorreram a vagas em câmaras municipais. As contribuições foram tanto em dinheiro quanto em material de propaganda ou combustível.
Os maiores volumes de recursos foram doados por candidatos com patrimônio farto e que bancaram as próprias campanhas, como João Doria (PSDB), em São Paulo, Rubens Furlan (PSDB), em Barueri, e Flori Luiz Binotti (PSD), em Lucas do Rio Verde (MT), além de Medioli – todos eleitos.
Candidatos a prefeito têm um duplo incentivo para contribuir com as campanhas de vereadores. Em primeiro lugar, eles formam um exército de cabos eleitorais. E também montam antecipadamente uma base de apoio no Legislativo, em caso de vitória.
Em Lucas do Rio Verde, a situação é similar à de Betim: quase a metade dos vereadores eleitos (4 de 9) recebeu ajuda financeira de Flori Luiz Binotti. No total, ele distribuiu R$ 1,14 milhão, sendo que 28 dos 32 beneficiados não passaram pelo teste das urnas.
Binotti doou para sua própria campanha à prefeitura R$ 2,13 milhões, o equivalente a 97% de tudo o que arrecadou. O patrimônio declarado pelo prefeito eleito à Justiça Eleitoral chega a R$ 33,9 milhões. Lucas do Rio Verde, um polo do agronegócio, é uma das cidades mais ricas de Mato Grosso.
Já o patrimônio do prefeito eleito de Betim é dez vezes maior. Segundo candidato mais rico do País, com R$ 352,5 milhões declarados, Medioli doou R$ 4,5 milhões para a própria campanha.
Justiça Eleitoral
Em Barueri, Rubens Furlan chegou a contribuir para 331 candidatos. No total, foram R$ 562 mil. Contados os votos, 18 dos 21 vereadores da cidade foram eleitos com a ajuda do candidato a prefeito. Isso lhe asseguraria quatro anos de mandato praticamente sem oposição. O problema do tucano é com a Justiça: o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) pode impedir sua posse, já que o ministro Herman Benjamim acatou parcialmente um recurso que pede a declaração de inelegibilidade de Furlan.
O candidato teve as contas de 2006, 2009, 2010 e 2011 de sua gestão anterior na prefeitura de Barueri reprovadas pelo Tribunal de Contas do Estado de São Paulo (TCE-SP), mas havia obtido decisões favoráveis na primeira e na segunda instância da Justiça Eleitoral que mantiveram o registro de sua candidatura neste ano. Seu maior problema era em relação às contas de 2011, que também haviam sido reprovadas pela Câmara Municipal em 2013. Sua justificativa era de que uma nova sessão ocorrida neste ano, após um acordo entre as principais bancadas do Legislativo que o apoiaram na campanha, havia anulado a decisão de 2013.
Para o ministro do TSE, no entanto, o Legislativo não pode anular a reprovação de contas do Executivo. Por isso, ele ordenou que os autos sejam devolvidos ao Tribunal Regional Eleitoral (TRE) para que se analise se há algum vício formal na decisão de 2013. Por meio de nota divulgada anteontem, a assessoria de Furlan afirmou que a decisão de Benjamin “não é definitiva” e que o registro de candidatura “não foi cassado, pois cabe recurso para que o plenário se manifeste a respeito”.
O Estado procurou contato com três dos candidatos a vereador de Betim que mais receberam doações de Vittorio Medioli, Joaquim Pereira Gonçalves (PTC), Tiago Cassiano (PCdoB) e Edson Monteiro (DEM). Nenhum deles respondeu aos recados deixados com seus assessores. Medioli não foi localizado. Em ocasiões anteriores, ele não retornou contatos da reportagem quando procurado.
A assessoria do prefeito eleito Rubens Furlan também foi procurada e não respondeu ao pedido de entrevista. O prefeito eleito de Lucas do Rio Verde também foi procurado, por intermédio de sua mulher, mas não houve resposta às mensagens enviadas para o telefone celular dela. Colaborou: Pedro Venceslau.
Com Estadão