Cidades

Pedestres correm riscos em calçadas de Cuiabá

Fotos Ahmad Jarrah

Comerciantes e pedestres que trafegam nas ruas centrais de Cuiabá reclamam da falta de acessibilidade no local. Praças em péssimo estado de conservação, calçadas irregulares e até postes de energia exatamente no local que deveria ser exclusivo para pedestres. No calçadão da Antônio Maria, próximo à Igreja Matriz, corre uma água fétida e a calçada está cheia de buracos por conta do deslocamento dos blocos de concreto após as chuvas. Esses são apenas alguns dos problemas enfrentados pelos transeuntes.

Não é raro ver alguém caindo no calçadão, segundo o senhor Augusto Correia dos Santos, 65, que há 12 anos trabalha como segurança da rua. “Já vi muitas pessoas caindo aqui. Inclusive pessoas idosas e mulheres de salto alto. Se tiver de salto nem pode entrar, porque vai cair”, observa.

Ele também afirma que o movimento caiu e que os comerciantes estão começando a reclamar. “A menina aqui tá com o comércio todo danificado, ninguém entra para comprar nada, porque está vazando esgoto dentro da loja dela”, relata.

O aposentado Antônio Pedro Duarte, 65, que passa com frequência no local, culpa o atual prefeito de Cuiabá, Mauro Mendes (PSB), por priorizar outros locais para realizar obras, em detrimento da estrutura e reparos no Centro Histórico da Capital.

“O Mauro Mendes tá fazendo obras aonde ele ganha voto, no 44º [Batalhão de Infantaria Motorizado], 9º BEC [Batalhão de Engenharia da Construção]. Os governantes, todos são a mesma coisa. Eles só querem fazer o trabalho onde vão ganhar votos e isso tá errado. “É uma vergonha””, sentencia o senhor Antônio Pedro.

Ele, porém, diz reconhecer a dificuldade em reparar estruturas antigas da cidade. “Por se tratar  de cidade onde o garimpo teve forte influência, os problemas são difíceis de consertar. Só que essa rua aqui é uma vergonha para todos esses prefeitos, o Wilson Santos, Chico Galindo e o Mauro Mendes”, elencou. 

Comerciante há 16 anos no Calçadão Antônio Maria, Edimar dos Santos, 51, classifica a situação da rua como “lamentável”. “O pessoal chega lá em baixo, olha para cima e vê esse esgoto correndo, os buracos e nem sobe nesse calçadão”, diz ele. De acordo com Edimar, a revitalização do local foi feita pelo ex-prefeito Wilson Santos, entre 2008 e 2010. “A obra foi muito mal feita. Nós, comerciantes, dependemos de pessoas passando na frente para vender e está complicado”.

Calçadas e pontos de ônibus obstruídos

As calçadas centrais de Cuiabá também trazem muitas dificuldades para os pedestres, que reclamam da falta de espaço. Em alguns pontos, existem postes de energia bem no meio do passeio, impossibilitando o tráfego de pessoas. Um caso análogo é a calçada na Avenida da Prainha, próximo à Praça Maria Taquara, onde há mais de 25 anos existe um poste de eletricidade obstruindo a passagem dos pedestres.

Luiz Henrique Padilha, 19 anos, trabalha na região e passa pelo local todos os dias. Ele explica que consegue passar sem maiores problemas, mas “não tem como passar duas pessoas por vez. Se for uma pessoa mais ‘cheinha’ complica mais ainda, ou tem que passar atravessado ou tem que passar pela rua”. 

A pedestre Franciele Santos, 21, trabalha como vendedora no Centro de Cuiabá. “É complicado andar aqui no Centro, é tudo mal planejado, tudo esburacado, se não prestar atenção você tropeça e torce o pé”.

Foi exatamente o que aconteceu com a esposa de Elias Mendes Alves, 61 anos. Ele lembra que a esposa andava normalmente na Rua 13 de Junho e torceu o pé, ao pisar em um buraco onde um cano passava.  “Ela teve uma fratura exposta e está com nove pinos no pé. O pior é que eu fui falar com a gerente da loja em frente e ela disse que o dever dela é cuidar da loja pra dentro”.

Ele ainda reclama da situação em frente aos Correios, localizado na Praça da República, e diz que se fosse diretor da unidade mandaria fechar até que a prefeitura resolvesse o problema. “Eu ainda falaria para ninguém ir trabalhar. Está uma calamidade, uma falta de respeito”, esbraveja.

Outro ponto que traz desgosto para os cuiabanos é o ponto de ônibus na Rua 13 de Junho, ao lado da agência dos Correios. As pedras portuguesas, que possuem um formato quase quadrado, com pontas e quinas cortantes se desprendem da calçada e da Praça da República e vão direto para a rua.

Segundo o vendedor de picolé, Luís Mario de Barros, 51, os carros passam por cima das pedras e jogam em direção ao ponto de ônibus.  “Eu já levei uma pedrada no joelho, a sorte foi que a pedra pegou de lado, de chapa, se pegasse na quina ela poderia ter cortado minha perna”.

Ele relata ainda que já viu uma senhora ser atingida por uma pedra no rosto e que fica no local, mas conta com a sorte para que isso não aconteça com ele. “Temos que pedir a Deus para que um dia a pedra não pega na cara da gente, como já aconteceu aqui. De vez em quando eu vou lá e tiro as pedras, porque tem muito risco”, desabafa.

Outro desafio é andar com o carrinho de picolé pela cidade. Segundo o senhor Luís Mario, é preciso aprender com os buracos. “Tem lugares que é melhor ir de costa e puxar o carrinho, também tem que desviar e fazer o maior zigue-zague. Tem que aprender com o buraco, por que não tem condições de ir reto”, disse ele.

Passarelas oferecem grande risco

Quem passa pelas passarelas nas avenidas movimentadas de Cuiabá sente medo, segundo o pedestre Marcos Senna, de 56 anos, que atravessa a Avenida Fernando Correa todos os dias pelo elevado, próximo à ponte do Rio Coxipó. Ele diz não saber o que é pior, se arriscar no meio dos carros ou cruzar por onde os pedestres deveriam passar.

“Está muito precária e as madeiras estão todas podres e se soltando. Acho que é atéum risco para qualquer pessoa passar aqui. Em minha opinião, isso acaba levando as pessoas a atravessarem pela Avenida e não utilizarem a passarela com medo de se machucar também”, disse ele.

Outra passarela que está deteriorada também fica na Avenida Fernando Correa da Costa,  em frente ao Extra Hipermercado e a Concessionária de veículos Ariel. Esta, no entanto, possui rampa para cadeirantes e é feita de concreto, mas isso não garante a segurança de quem passa pelo local. Quem opta em subir pela escada encontra algumas surpresas, como degraus faltando e peças que estão prestes a se soltar.

Ezio Gonçalves Leite, de 49 anos, trabalha no Instituto Cuiabano de Educação (ICE) e é obrigado a passar pela passarela todos os dias. Ele também reclama da falta de segurança no local e de pessoas que usam o local para consumir entorpecentes. “É um absurdo, olha a situação como está”, reclamou ele enquanto apontava para o degrau faltando.

Enquanto de um lado da avenida, sentido centro, tem um degrau faltando, do outro as pessoas são obrigadas a descer apenas pela rampa, pois faltam três 

degraus, no local que era utilizado como ponto de ônibus. Quem se arrisca a descer pelas escadas corre risco de se machucar, pois a altura do último degrau é de quase um metro.

“Já quase caí aqui nessa passarela, a gente precisa arrumar um lugar bom para apoiar e subir na força”, afirma o estudante José Arthur Ramos de Santos, de 16 anos, que há seis meses passa diariamente no local. “Eu acho péssimo, ainda mais para uma cidade que foi até uma das sedes da Copa estar numa situação dessas, numa passarela que é tão importante e onde passa tanta gente. É muito degradante, tanto para a imagem da cidade e mais ainda para a população que passa aqui todos os dias”.

Construída em 1896, a Ponte de Ferro sobre o Rio Coxipó, que também é utilizada por pedestres para atravessar o Rio, está em condições piores ainda. As madeiras estão se soltando, formando grandes buracos. O Circuito Mato Grosso esteve no local e constatou a degradação do ponto turístico, que foi tombado como Patrimônio Histórico e Cultural de Mato Grosso no ano de 1984.

Jogo de empurra

Por meio da assessoria de imprensa, a prefeitura de Cuiabá informou que a responsabilidade de fazer manutenção no Calçadão Antônio Maria é da Associação de Lojistas do Centro Histórico. Informou ainda que não existe nenhum cronograma de revitalização da Praça da República.

A assessoria da Prefeitura também informou que a responsabilidade sobre o “esgoto” a céu aberto que corre no Calçadão é de responsabilidade da CAB Ambiental.

A CAB Ambiental, por meio do seu gerente comercial, Cley Roberto Fernandes da Silva, explicou que não existe esgoto na região e que o vazamento se trata de um problema de drenagem, que seria de responsabilidade da Secretaria de Obras do município.

A reportagem não conseguiu entrar em contato com a Associação dos Lojistas do Centro Histórico de Cuiabá, apenas com o seu ex-presidente Paulo Salem, que informou que a manutenção já foi feita pela associação, porém não é feita mais e que não existe nenhuma lei que a obrigue a realizar um serviço que é de responsabilidade da Prefeitura. 

Felipe Leonel

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