O final do ano está chegando e a gratificação de Natal, mais conhecida como décimo terceiro salário, já começou a entrar na lista de prioridades dos empresários. O presidente da União dos Lojistas de Shopping Centers de Mato Grosso (Unishop), Júnior Macagnam, diz que os lojistas terão que fazer sacrifícios para conseguir pagar aos colaboradores, já que as vendas não têm correspondido com o esperado.
“Os últimos nove meses deste ano foram os piores em 14 anos. A pior contratação da história de Mato Grosso. As empresas nunca contrataram tão pouco como em 2016. E ainda assim o lojista terá que investir para, de alguma forma, honrar com o compromisso que tem com seu colaborador”.
Uma das opções, segundo Júnior, é investir em capital de bancos e fazer promoções para pagar o décimo. “Se o colaborador não receber, ele não irá trabalhar com a mesma vontade e, apesar de guerreiros, vale o ditado que quem trabalha de graça é relógio”, afirma Júnior. A expectativa é que, com o pagamento do décimo, tenha mais dinheiro circulando pela cidade e as vendas aumentem.
“Esperamos que o Natal seja pelo menos igual ao ano de 2015, que já foi difícil. Este ano os empresários se prepararam mais, prepararam mais as equipes, estão tentando ganhar mais clientes, fazer umas compras mais assertivas para agradar ao cliente, estão mais preparados para a chegada do Natal. Não tem ninguém com excesso de otimismo, todos bem realistas, pé no chão, pois o momento pede que sejamos pé no chão”.
Com o pagamento do 13º a economia brasileira deverá receber R$ 197 milhões, o que significará uma movimentação de cerca de 3% do Produto Interno Bruto (PIB). Em comparação com 2015, o montante significa um crescimento de 8,2% sobre os R$ 182 bilhões pagos no ano passado. Considerando apenas os trabalhadores formais ativos, há uma queda de 3,4% em relação ao que foi pago no último fim de ano.
O empresário Wilker Moraes possui três lojas de óculos e acessórios. Elas estão localizadas nos Shopping Goiabeiras, Pantanal e em Rondonópolis e reúnem, ao todo, 40 funcionários. “Este ano foi difícil para as vendas, mas o pagamento do décimo já está garantido. Vou utilizar o dinheiro do caixa da empresa para pagar”, contou ao Circuito Mato Grosso.
O presidente da Câmara dos Dirigentes Lojistas (CDL) de Sinop (500 km de Cuiabá), Luciano Chitolina, afirma que o empresário se organiza e se prepara o ano inteiro para pagar o 13°. “Muitos já estão preparados para isso. Em alguns casos as instituições financeiras ajudam, mas não podemos esquecer que no fim do ano as vendas são mais expressivas e isso também garante o caixa”.
A microempresária Cristiane Seiko ampliou o número de funcionários neste ano, mas contou que para pagar o salário extra, precisou recorrer ao empréstimo. “Os salários dos meus colaboradores estão em dia, mas, para sanar, precisei procurar um banco para garantir o décimo terceiro”, conta. As vendas estão sendo mantidas através das inovações que surgiram durante este ano.
Lei garante pagamento do 13º salário
O pagamento de um salário extra ao trabalhador é garantido pela Lei 4.090, de 1962 e corresponde a 1/12 da remuneração mensal. Em 2016, 84 milhões de trabalhadores devem receber o rendimento segundo o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese).
Tem direito ao décimo terceiro todos os trabalhadores com a carteira assinada, sejam eles domésticos, rurais, urbanos, avulsos e os aposentados e pensionistas do INSS. O empregador deve pagar ao funcionário o valor dividido em duas parcelas, sendo a primeira entre o dia 1° de fevereiro até o dia 30 de novembro. Já a segunda deve ser paga até o dia 20 de dezembro.
Dos beneficiados com o pagamento do salário extra, aproximadamente 33,6 milhões (39,9% ) são aposentados ou pensionistas da Previdência Social. Essas pessoas devem receber R$ 41,3 bilhões, o que representa 21% do valor que será pago. Os aposentados pelo regime próprio da União são 1,2% dos beneficiados – 982,2 mil pessoas. Essa parcela receberá 4,2% dos recursos – R$ 8,2 bilhões.
Os empregados formais respondem por 58,9% dos que receberão o décimo terceiro, um total de 49,5 milhões de pessoas. Esse grupo será destinatário de 68,5% dos recursos que serão injetados na economia pelo pagamento da remuneração de fim de ano, um total de R$ 134, 7 bilhões. Estão incluídos os empregados domésticos, que representam 2,5% dos trabalhadores e 1,1% do valor dos pagamentos.
Pagamento deverá ser negociado na construção civil
As empresas do ramo da Construção Civil passaram por momentos delicados em 2016. Neste ano, as obras públicas, obras da Minha Casa Minha Vida e do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) estão paralisadas em Mato Grosso e isso agravou o cenário atual do setor. Para o presidente do Sindicato da Indústria da Construção Civil do Estado de Mato Grosso (Sinduscon), Cesário Siqueira Gonçalves Neto, esses fatores levaram os empresários ao fundo do poço e resultou em diversas demissões.
“Algumas empresas usaram o dinheiro do caixa para tentar se adaptar a este momento difícil. A gente, em um momento como este (de crise), é o primeiro setor que perde crédito. A capacidade de financiamento é o setor da construção civil e ele fica muito a mercê da retomada do crescimento, ele depende mais de um movimento estruturado”, explicou.
Mato Grosso perdeu no mercado formal 21.033 postos de trabalho com carteira assinada no acumulado de 12 meses. Os dados são do Cadastro-Geral de Empregados e Desempregados (CAGED), divulgados pelo Ministério do Trabalho. O levantamento revela que a construção civil (-8.910), o comércio (-5.520) e a indústria da transformação (-5.120) foram os setores que mais demitiram no Estado.
Mesmo reduzindo o quadro de funcionários ao máximo, os empresários gastaram boa parte das reservas na manutenção desses empregos. Para pagar o décimo terceiro salário, os empresários, segundo Cesário, terão que fazer empréstimos, vender os patrimônios e boa parte dos estoques imobiliários. “Alguns vão conseguir créditos e vão cumprir suas obrigações, outros vão ter que entender que não tem essa opção e vão ter que achar outras saídas, mas elas são as mais diversas. Será uma tentativa de sobreviver”.
Uma das soluções apontadas é a negociação. “A gente entende que haverá algumas situações de negociação em que algumas empresas tentarão fazer acordos com os seus funcionários, não com o pessoal com salários mais baixos, mas com aqueles que recebem um salário mais alto para tentar passar por este momento difícil”, contou Cesário.
Expectativas
As expectativas para o setor é que as taxas de juros continuem caindo e a disponibilidade de financiamento aumentando. “Quando o interessado perceber que a compra de imóveis começou a melhorar, será importante para nós”, estimou Cesário.
O que o trabalhador vai fazer com o dinheiro
Uma pesquisa realizada pela Associação Comercial de São Paulo e Ipsos Brasil mostra que 18% das pessoas não sabem o que fazer com o dinheiro extra. As dicas dos especialistas é pagar as dívidas, investir caso as dívidas estejam em dia e gastar em último caso. O Circuito Mato Grosso foi até a Praça Ipiranga em Cuiabá e conversou com algumas pessoas sobre o que elas pretendem fazer com o benefício.
O Matheus Vinicius da Silva Viana, de 20 anos, mora em Várzea Grande com os pais. Ele trabalha como Auxiliar Administrativo em uma empresa e contou que pretende viajar no final do ano para Rondônia e o décimo terceiro salário deve ficar para gastar durante a viagem. “Vou guardar e gastar com as comemorações do próximo mês”, disse.
A auxiliar de limpeza, Marcia Rodrigues de Albuquerque disse que pretende guardar o dinheiro extra. “Este mês eu vou conseguir colocar todas as minhas contas em dia, então quando eu receber o meu décimo terceiro eu não vou precisar usar ele para nada. Irei guardar e utilizar caso precise, mas por enquanto o destino dele é só ficar guardo”.
“Eu já recebi a primeira parcela e gastei para pagar as contas. Esta segunda parcela eu ainda não sei com o que vou gastar, mas como a primeira, esta também não vai dar pra fazer muita coisa. Talvez eu guarde né? Mas ainda não sei”, contou o aposentado Antônio Freitas.
A diretora de uma escola em Cuiabá, Selma Lopes Ueruma, seguirá à risca a dica dos economistas e irá pagar as contas e depois gastar o dinheiro extra. “Primeiro vou colocar minhas contas em dia e depois com o que sobrar vou comprar o presente de Natal dos meus netos”, contou.