Depois da desvalorização vista ao longo de 2016, que chegou a 18,2% até o final de agosto, a cotação do dólar deve voltar a subir nos próximos anos, de acordo com expectativa do governo federal que consta da proposta de orçamento para 2017. A alta da moeda também é esperada pelo mercado financeiro, aponta pesquisa realizada pelo Banco Central.
A previsão do governo no projeto de orçamento de 2017, encaminhado ao Congresso, é de dólar a R$ 3,43, na média de 2017, e a R$ 3,57, na média de 2018 – último ano do mandato do presidente Michel Temer. Já na pesquisa realizada pelo BC com mais de 100 bancos na semana passada, a estimativa é de câmbio médio a R$ 3,38 em 2017. Em 2018, 2019 e 2020, aponta o levantamento, o dólar, na média de cada ano, deverá avançar para R$ 3,50, R$ 3,65 e R$ 3,75, respectivamente.
Atualmente, a moeda norte-americana tem oscilado ao redor de R$ 3,20. Nesta quinta-feira (8), fechou o dia em R$ 3,18.
Exportadores X turistas
O dólar alto é bom para os exportadores brasileiros, pois seus produtos e serviços ficam mais baratos lá fora. Ao mesmo tempo, porém, fica mais caro para os brasileiros comprarem importados. Também encarece as viagens ao exterior, já que o custo de passagens, estadia em hotéis e produtos comprados lá fora são cotados na moeda norte-americana.
Para comprar dólar em espécie, há, ainda, uma tributação, por meio do Imposto Sobre Operações Financeiras, de 1,1%, além das tarifas bancárias. Por isso, o dólar, quando comprado nos bancos e corretoras, é sempre mais caro do que a cotação comercial. Nos gastos com cartões de crédito e débito no exterior, a incidência do tributo é ainda maior: de 6,38%.
O que diz o governo
Na proposta de orçamento do ano que vem, o governo avaliou que, apesar da perspectiva de fluxo de capital positivo para o país em volume mais do que suficiente para financiar o déficit em conta-corrente, a taxa de câmbio tende a ser afetada por outros fatores. Entre eles a perspectiva de elevação da taxa de juro básica dos Estados Unidose de um menor crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) da China, além das incertezas ainda existentes na zona do Euro.
A alta dos juros nos EUA, por exemplo, tende a atrair mais recursos para aquele país, gerando retirada de valores do Brasil ou menor ingresso. Já o menor crescimento da China tende a diminuir as exportações brasileiras, afetando também o volume de entrada de dólares no Brasil ligada às vendas externas.
Queda dos juros no Brasil
Para a economista do SantanderAdriana Dupita, responsável pela área de câmbio, a expectativa de queda dos juros no Brasil ajuda esse movimento de valorização da moeda norte-americana no país. Juros menores tendem a atrair menos capital do exterior.
Atualmente, os juros básicos, fixados pelo BC para tentar conter a inflação, estão em 14,25% ao ano, o maior nível em dez anos. Para o fim de 2017, porém, o mercado já vê os juros em 11% ao ano. Em 2020, estariam abaixo de 10% ao ano.
"A taxa de juros no Brasil, em 14,25% ao ano, é muito alta. E, descontando a inflação [em termos reais], ainda lidera o ranking mundial. Isso está ajudando muito a trazer o câmbio para baixo", observou a economista.
Além dos juros altos no Brasil, Dupita observou que a "liquidez" (circulação de recursos) nos mercados internacionais ainda está elevada, o que ajuda a manter a cotação do dólar no Brasil neste momento. Mas, acrescentou ela, essa fartura de capitais tende a diminuir nos próximos anos.
"No médio prazo, o mais provável é diminuir essa quantidade de dólar no mercado. Tem mais chance de isso parar de ajudar a moeda brasileira e começar a pressionar para cima", explicou a analista.
Por fim, Dupita avaliou que a própria inflação no Brasil também pressiona para cima o dólar. "Via de regra, a menos que você tenha um forte motivo para outra forma, as projeções vão apontar para alta do câmbio sempre que a inflação do Brasil for maior do que a de seus parceiros comerciais", explicou.
A economista do Santander projeta que o dólar deve terminar esse ano em R$ 3,65 e avançar para R$ 3,95 no final do ano que vem – o que daria uma taxa média de R$ 3,80 em 2017.
Fonte: G1