Faz tempo que Nayde é nossa secretária. Desde que voltamos para Cuiabá em 2012, pra falar a verdade. Nayde é moradora do Bairro no distrito rural, chamado Sucuri. Então, quando morávamos na Chácara, pegamos uma secretária lá do Sucuri mesmo. Nayde começou como diarista. As coisas iam melhorando pra gente, a gente melhorava pra Nayde. Rapidamente passara para 3 vezes na semana. Nayde é uma pessoa inteligente, em quem vale a pena investir. Não rouba, não chega atrasada, é educada, mãe dedicada de 3 filhos. Morre de medo das vizinhanças cercada de ladrões. Flor engravidou de Maria, tivemos de nos mudar para Cuiabá. Não titubeamos. Trouxemos Nayde com a gente, mesmo tendo gasto extra com passagens. Nayde ameaçou deixar a gente pois estava chegando muito tarde em casa e temia pelo aumento da violência. Diminuímos a carga horária dela e passamos para que ela saísse às 15 horas. Nayde, que é uma pessoa inteligente, não votou na Dilma na reeleição. Reclama da falta dos incentivos do governo. Reclama do colégio fraco da filha, que não sabe ler, mas já está na terceira série. Reclama com razão. Agora no julgamento, reclamou de mim por escutar todas as 14 horas que Dilma falou o mesmo blablabla na frente da corja de senadores tão sujos quanto ela.
– Só o senhor mesmo que ainda escuta essa mulher. – repete repetidamente Nayde.
Sua organização em casa é fundamental. E sua vida melhorou muito. Conta que antes, só o marido trabalhava numa fábrica de cerveja, e como tem 3 filhos pequenos, não dava conta de nem trabalhar. Passaram dificuldade de verdade. Mas como ela mesmo diz, “ aos pouquinhos, vai melhorando”. Com o nascimento de nossa filha, aconteceu o imponderável, e melhorou ainda mais para Nayde. Com duas crianças em nossa casa, 3 dias por semana não eram mais suficientes, contratamos Nayde de segunda a sexta.
– Amor, agora que Nayde está todo dia precisamos assinar a carteira dela. – falo pra Flor entre uma garfada e outra no almoço.
– Eu sei João. Até já falei com ela. Mas ela me pediu para não assinar, senão ela perde o seguro desemprego.
Engraçado para não dizer triste. Parece que disso Nayde, mais uma representante brasileira, não reclama.