Política

César Zílio confessa recebimento de propina de R$ 500 mil por mês

Fotos: Valquíria Castil

Por Valquíria Castil/Sandra Carvalho

Tiveram início às 13h30 desta sexta-feira (26) os interrogatórios dos réus investigados na Operação Sodoma II, denunciados pelo Ministério Público Estadual (MPE). O grupo, supostamente comandado pelo ex-governador Silval Barbosa, é acusado  pela prática de pagamento de propina e lavagem de dinheiro.

13h40 – Logo no início, a defesa de Silvio Cezar Corrêa Araújo, um dos indiciados na Operação Sodoma II, está pedindo a suspeição da juíza Selma Rosane Santos Arruda, da 7ª Vara Criminal contra o Crime Organizado da Capital e pede seu afastamento do caso.  Ele alega que se ela foi afastada da Operação Arqueiro, que envolve a ex-primeira dama Roseli Barbosa, também deveria se afastar do caso Sodoma, que investiga o esposo dela, o ex-governador Silval Barbosa.

13h50 – A juiza rejeitou a questão de ordem porque se trata de casos diferentes, em que a juíza ouviu uma testemunha ainda antes da oitiva da Operação Ouro de Tolo, porque o Tribunal de Justiça entendeu que ela teria um pré-convencimento de mérito com relação ao possível julgamento.

14h – Depoimento de César Zílio : "Logo que assumi a secretaria recebi a missão do governador Silval Barbosa que deveria tratar com essa empresa recursos para cobrir despesas de campanha. Assim eu fiz, procurei o empresário, fiz proposta inicial e ele disse que era inexequível.

O governador me deu a incumbência de continuar a negociação, retorno mensal do pagamento de propina e aí se iniciaram os repasses mensais, isso ocorreu a partir de fevereiro de 2011 e sob o meu gerenciamento isso perdurou até agosto de 2013. Nesse período muitas coisas aconteceram, muitas pressões.

O governador sempre exigia que os valores fossem maiores

O governador sempre exigia que os valores passados fossem maiores, e a empresa alegava que o que produzia não era suficiente. Esse valor chegou ao final em R$ 500 mil. Numa reunião, o empresário provou que não tinha com pagar a quantia exigida.

Também aconteceu durante o processo muitas intervensões no sentido de fazer mudanças na empresa, porque as pessoas entendiam que o valor da propina era pequeno. A propina era paga em dinheiro e cheque e foram usados para pagar inclusive a compra de um terreno na Avenida Beira Rio. 

Silval ficava com 70% e o restante era meu

Eu sempre entregava o dinheiro para o governador, no gabinete dele, no final da tarde. O governador ficava com 70% e o restante era meu.

Wallace pagava propina de 20%

Quando eu assumi a Secretaria de Administração em 2011 e o Wallace sempre me procurava, mas eu sempre estava ocupado, e num dado dia acabamos conversando. E ele disse que fazia serviço gráfico e de compensação previdenciária e que gostaria de continuar prestando esse serviço. Disse que sabia que tinha outras empresas querendo fazer o serviço, mas que gostaria de fazer, porque desempenhava um bom trabalho e já participava com compensação financeira todo mês. Que participava com 15%, quando combinamos 20%. Mas é preciso esclarecer que ele descontava os impostos desse 20%. E ele sempre pagou a propina pra mim.

Eu e Nadaf chegamos a ter mil cabeças de gado

14h30 – Eu também fui procurado por Pedro Nafad. Ele disse sabia que eu tinha uma fazenda no Pantanal e que gostaria de comprar um gadinho meu. Umas 100 cabeças, você coloco na sua fazenda, eu pago o aluguel da pastagem, você faz o rateio da mão de obra, custeio desses animais e eu te pago. Quando eles estiverem no ponto de abate, nós promovemos a venda e você me devolve o dinheiro. Desta relação de 100 cabeças, este volume de animais foi aumentando. Este dinheiro foi virando dinheiro, e virando um dinheiro maior. Chegamos a fazer uma negociação de 500 cabeças. Chegando no final de 2014, o Pedro começou a entrar em dificuldade e não tinha mais dinheiro para pagar as despesas e nisso já tinha lá mil cabeças de gado. E isso perdurou todo primeiro semestre de 2015. Um dia nós falamos, antes da prisão dele que quando fosse feito o primeiro abato seria feito o acerto retendo o valor da venda. O que aconteceu… ele ficou preso e na ausência dele, pra poder fazer face às despeas, tive que vender parte desses animais. E inclusive o saldo remanescente foi leiloado. Eu sempre soube que esse dinheiro era da organização que ele utilizou para fazer o investimento e eu sabia disso.

14h34 – O Pedro é um ano que eu conheço há muitos anos e em 2013, depois que eu já tinha saída da Secretaria de Administração, ele me procurou para dizer que estava com dificuldade para receber da JFP, uma empresa de locação de veículos de uma empresa que ele representava no estado e me pediu sua ajuda. Disse que tinha uma dinheiro para receber e dele eu te passo uma parte. Ele ofereceu a proprina e eu aceitei. 

14H40 – Como era sua relação com o Rodrigo Barbosa?

"O Rodrigo era uma pessoa que eu via frequentemente no Palácio e, na maioria das vezes, acompanhado do Pedro Elias. Não tinha relacionamento de amizade com ele, mas todas as vezes que o Pedro Elias foi nomeado a algum cargo foi por determinação do Rodrigo".

14h50 – E como o dinheiro era entregue?

"Eu ia até o gabinete, entrava no banheiro e deixava o envelope com a propina, as vezes com o dinheiro ou cheque. Eu entendia que era um local menos exposto. Eu combinava com ele que deixaria lá. Dentro do banheiro tinha um guarda-roupa e deixava lá dentro".     

Quanto mais melhor, era um saco sem fundo

14h40 – Qual era a necessidade desse ganho de propina em relação ao empresário?", perguntou a promotora Ana Cristina Bradusco e Zílio respondeu:

 – A necessidade era quanto mais melhor, era um saco sem fundo. A pressão existia. A primeira conversa que eu tive com o dono da Consignus, Willians Mischur, disse que ele precisava colaborar e se ele disse que não poderia nós iríamos colocar outro empresário em seu lugar.

15h – O governador pedia para o senhor buscar dinheiro em outras fontes?

Os negócios que eu negociava eram esses. Eu seguia o que o Silval falava. Uma coisa é você participar do negócio e a outra era carregar a sacola dos dois.

15h05 – Promotora: O senhor fazia parte do grupo, da organização criminosa? Alguém dizia par ao senhor manter segredo sobre esses negócios?

"Quando eu fui para o MT Par e perdi o contrato com a Consignum, fui colocado de escanteio, não tive mais contato com a organização. Eu fiquei distanciado do grupo, como uma pessoa não grata, e não tinha mais atuação no grupo, mas tinha a obrigação de proteger o grupo. Mesmo porque existia muitos comentários nos corredores de que quem tem boca mola amenhece com a boca cheia de formiga…

15h40 – “Eu acredito que para a aquisição de todas essas cabeças, no total chegou R$1,5 milhão. 90% em dinheiro”, diz Zilio sobre dinheiro que recebeu de Nadaf"

16h20 – Sobre a compra do terreno da Avenida Beira Rio

Eu comprei esse terreno em 2012, em função da minha atividade no agronegócio, terreno parcelado teria condições . O arquiteto preparou um projeto de investimento, prevendo retorno para esse investimento e a partir dai fomos identificar uma área para a construção de um shopping popular, com salas de três metros. O negócio avançou. Ele identificou a área, tratou diretamente com o vendedor e combinou o pagamento, e ele teria uma participação de 15% no negócio, responsável execução da obra, pela identificação dos investidores e pela elaboração do projeto e eu fiquei responsável de fazer o pagamento. Os pagamentos ocorreram com um certo atraso porque eu tentei recursos do agronegócio, paguei 4 milhões de reais de venda de animais e certo momento com cheques que foram utilizados para pagamento foram expostos na operação policial e daí eu tive a ideia de elaborar um contrato para justificar a aquisição do terreno. Na ocasião, José Costa Marques esteve no meu escritório preocupado com o que poderia acontecer com ele e com a filha dele e eu disse a ele que iria tentar resolver a situação. Disse que eu conhecia muitos advogados e que iria assessorá-lo judicialmente. Eu fiz o contrato, fiz a assinatura do contrato, procurei o Willian na expectativa de poder justificar a aquisição deste terreno e pedi pra ele assinar o contrato porque senão ele teria problema. E eu garantia a ele que a gente ia se defender com esse contrato. Ele não chegou nem a ler e assinou. Passados dois dias o José voltou com a mesma preocupação e pediu para sair dessa. Fizemos outro contrato excluindo o nome dele, deixando o nome do Willian e do meu pai.

17h – Defesa de Marcel de Cursi pergunta se existia algum "manual" da organização criminosa.

"Não existia nenhum manual da organização criminosa. O fato é que o governador como autoridade máxima tinha poder, e as pessoas que estavam mais próximas eram o Pedro Nadaf, da Casa Civil, o secretário  de Fazenda e o chefe de gabinete. Eram pessoas que todas as horas ele chamava e pedia orientações. Orientações de todos os níveis e as atuações eram compartilhadas. Quando os assuntos eram sobe a organização eram tratadas individualmente. 

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Reportagens realizada pelos colaboradores, em conjunto, ou com assessorias de imprensa.

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