Cidades

Queimadas aumentam 46% em Mato Grosso no período proibitivo

Dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) apontam que do dia 15 de julho, início do período proibitivo, até o dia 23 de agosto, foram registrados 6.919 focos de calor em Mato Grosso. Em 2015 foram 4.735 focos no mesmo período, o que aponta um aumento de 46% nos casos de queimadas.

De acordo com o Batalhão de Emergências Ambientais (BEA-MT), 63,19% dos focos de incêndios encontram-se em propriedades privadas e afins, seguidos por terras indígenas (26,15%), assentamentos (5,16%), Unidades de Conservação Federais e Estaduais (1,62) e (2,01) respectivamente, e região Metropolitana do Vale do Rio Cuiabá (1,86%).

Em entrevista ao jornal Circuito Mato Grosso, o presidente do Instituto Centro de Vida (ICV), Sérgio Guimarães, explicou que os registros são resultados de ações de pessoas que utilizam o fogo para limpar uma área e o fogo acaba se propagando.

“Nós já tivemos casos de culturas que foram destruídas por conta de queimadas no Estado, a exemplo do milho que estava pronto para ser colhido e foi perdido. Há uma necessidade dentro do processo de prevenção que exige uma orientação profunda de como essas queimadas podem ser feitas”, analisou Guimarães.

A Federação da Agricultura de Pecuária de Mato Grosso (Famato) informou que no início de agosto um incêndio atingiu seis fazendas em Campo Novo do Parecis (416 km de Cuiabá) e chegou às lavouras de milho e cana. Apesar de o fogo ter sido controlado, cerca de dois mil hectares de plantação foram destruídos.

Parte desses focos está correlacionado com o desmatamento. “Isso quer dizer que o Estado continua com um índice alto de desmatamento”, explicou Sérgio. Em 2015 foram desmatados 1.500 m² e em 2016 esse número pode permanecer na mesma faixa ou aumentar. “Esta situação pode acontecer porque não há uma prevenção”.

Conforme o Inpe, os munícipios que mais registraram focos de calor nesse período foram: Gaúcha do Norte (501), Nova Nazaré (464) e Colniza (339). No ranking dos 10 municípios que registraram o maior número de queimadas nesses 39 dias, também se encontram: Ribeirão Cascalheira (328), Campinápolis (313), São Felix do Araguaia (280), Barra do Garças (229), Alto Boa Vista (222), Canarana (158) e Comodoro (155). Veja a tabela abaixo.Fonte: Inpe

Campanhas só no período proibitivo não inibem ação

O Circuito Mato Grosso foi atrás de respostas para os motivos que levam as pessoas a praticarem essas ações, principalmente neste período. Sérgio Guimarães, do ICV, explicou que isso ocorre porque as campanhas feitas neste período não chegam onde devem chegar.

Segundo Sérgio, é preciso fazer um trabalho de orientação, prevenção e dar alternativas dentro de uma campanha. “O problema é muito mais profundo e complexo para ser tratado em uma campanha só em época de período proibitivo. Ao combater as queimadas temos que pensar na prevenção, então, você tem que fazer um trabalho de prevenção além do combate. Tem que ter um trabalho em cada munícipio de orientação e de fiscalização”.  

Com o passar dos anos a floresta se tornou mais inflamável, o que agravou o impacto que o fogo tem sobre ela. “A gente está vivendo um momento em que as florestas estão mais inflamáveis e que a tendência é que elas continuem assim e isso vai resultar em grandes incêndios”, explicou.

Dados apontados no Primeiro Relatório Nacional para a Convenção sobre Diversidade Biológica – Brasil’ revelam que 50% das plantas em florestas morrem após a passagem de um “fogo de chão rasteiro”. Além disso, a microbiologia do solo é muito afetada, assim como a fauna e os animais que acabam morrendo porque não conseguem fugir dos incêndios.

O presidente do ICV, observa que a questão das queimadas precisa ser repensada, pois agora há novas características e condições dentro da floresta que antes não havia. “Se não houver uma mobilização não vamos conseguir reverter. A participação precisa ser articulada com as políticas públicas, com os produtores de todos os seguimentos, com as brigadas e fiscalização, e com a população”.

As queimadas, além da destruição, causam problemas de saúde. Nesse período é registrado aumento no número de doenças respiratórias. “Tem muitas cidades onde a saúde da população, como o número de doenças respiratórias aumenta muito e nesses municípios o ar fica muito pior que o de São Paulo, muito prejudicial à saúde”, disse Sérgio.

Orientações para a população

Para o bem estar físico e mental da população, a Umidade Relativa do Ar deve estar em torno de 75%. Devido aos índices de umidade relativa do ar que devem ficar abaixo dos 20% nos próximos dias, principalmente nas horas mais quentes, a Defesa Civil orienta a população para que se previna e evite problemas de saúde, como respiratórios, causados pelo tempo seco.

Índices mais baixos podem causar ressecamento da pele e da garganta, dificuldade em respirar, sangramento no nariz e irritação nos olhos, que, aliados ao problema das queimadas, deixam a atmosfera impregnada com fumaça e gases tóxicos, provocam problemas respiratórios na população, especialmente nas crianças e nos idosos.

Entre as principais recomendações, está à suspensão da prática de atividades físicas (exceto natação) ao ar livre e exposição ao sol entre as 10 e 16 horas. A população deve dar preferência por alimentos mais leves, como verduras e legumes, evitando frituras e produtos industrializados.

Confira abaixo as recomendações conforme os índices de umidade relativa do ar (URA):

Umidade entre 30% e 20% – Estado de ATENÇÃO.

Evitar exercícios físicos ao ar livre entre 10 e 16 horas.

Umidificar o ambiente através de vaporizadores, toalhas molhadas, recipientes com água, etc.

Sempre que possível permanecer em locais protegidos do sol, em áreas sombreadas.

Consumir água (líquidos) à vontade.

Umidade entre 20% e 12% – Estado de ALERTA.

– Observar as recomendações do estado de atenção.

– Suprimir exercícios físicos e trabalhos pesados (ao ar livre) entre 11 e 15 horas.

– Evitar aglomerações em ambientes fechados.

– Hidratar olhos e narinas com soro fisiológico.

Umidade abaixo de 12% – Estado de EMERGÊNCIA.

Interromper imediatamente qualquer atividade ao ar livre entre 13 e 15 horas, como aulas de educação física, e atividades laborais ao ar livre como coleta de lixo, entrega de correspondência, etc.

Suspender as atividades que exijam a aglomeração de pessoas em recintos fechados, como aulas, cinemas, etc. que não possuam sistemas de climatização, no horário entre 13 e 15 horas.

Procurar sempre manter a umidade dos ambientes internos, principalmente quarto de crianças e idosos, hospitais, etc. utilizando vasilhas com água, toalhas molhadas ou umidificadores.

Fumaça reduz visibilidade e aumenta acidentes

Desde o início do período proibitivo das queimadas, a concessionária Rota do Oeste já combateu 168 focos de queimadas nos 850 km sob concessão, nas rodovias BRs 163, 364 e 070. Isso representou um aumento de 20% com relação ao mesmo período em 2015, quando foram registrados 140 focos.

Aos motoristas que trafegam por regiões onde há queimadas, a Defesa Civil recomenda atenção redobrada devido à visibilidade reduzida pela fumaça, além de evitar jogar pontas de cigarros para fora dos veículos, que podem dar início aos incêndios, uma vez que a vegetação está seca.

Ao Circuito Mato Grosso, Mauro Szwarcgun, gerente de tráfego da concessionária, disse que há campanhas educativas que alertam os motoristas a não provocarem incêndios e a não jogarem lixo na rodovia. “Temos 12 radares fixos, várias placas que trazem mensagens educativas sobre não provocar queimadas e não jogar lixo pelas estradas”.

De 7 a 14 de agosto, foram combatidas 53 queimadas nas faixas de domínio, o que causa preocupação constante, por isso 12 equipes roçam uma área de 5,6 mil m² ao longo de 609 km de rodovia para evitar que o fogo se alastre. “É uma obrigação nossa deixar limpo, então o risco de o fogo do veículo ser um motivo de combustão, de indução de incêndio na vegetação é muito raro”, contou Mauro.

Em casos de acidentes em que o veículo pega fogo, a primeira providência é isolar a área e o veículo. 53 veículos da Rota do Oeste possuem abafadores, caso não seja resolvido o problema com o instrumento, é acionado o caminhão pipa. “Temos cinco caminhões pipas que fazem o atendimento quando a proporção é maior. Caso seja necessário, acionamos o corpo de bombeiros para dar um suporte e apoio no combate”.

Os usuários podem informar os focos de queimada ligando para o Centro de controle Operacional (CCO) no número 0800 065 0163.

Denúncias

Utilizar fogo para limpeza e manejo nas áreas rurais é crime passível de seis meses a quatro anos de prisão, com autuações que podem variar entre R$ 1 mil (pastagem e agricultura) a R$ 75 mil por hectares (em Área de Preservação Permanente – APP).

O Batalhão de Emergências Ambientais (BEA) atendeu até o momento, 375 ocorrências. Uma pessoa foi presa em flagrante no município de Claúdia.

Além de denunciar queimadas rurais pelo 0800 647 7363, a população também pode registrar as ocorrências  no Corpo de Bombeiros.

Nas áreas urbanas, o uso do fogo para limpeza do quintal é crime o ano inteiro, conforme a legislação de cada município. As denúncias devem ser feitas por telefone, no 193 do Corpo de Bombeiros, ou nas secretarias municipais de meio ambiente. 

Catia Alves

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