Cultura

João Sebastião se despede exaltando Maria Taquara através da arte regional

Foto Icone Press

A abertura da exposição “Transmitologismo – João e Maria” foi realizada nesta quinta-feira(14) na Casa do Parque com muita arte e muita chuva. Toda a água só serviu para engrossar o caldo do evento, um caldeirão artístico em torno de João Sebastião e Maria Taquara. Ambos ícones da cultura mato-grossense, gravados não só na memória e nos causos, como em esculturas, pinturas e poesias.

João foi o criador do projeto e no meio do caminho também se tornou homenageado, o que trouxe outro significado para a exposição. Além de um ode a Maria Taquara, Transmitologismo se tornou uma despedida artística, onde sua generosidade e o peso de sua perda foram sentidos em todos os discursos e performances da noite.

Tudo começou lá por meados de 2015, quando João Sebastião fez um convite aos seus colegas pelas redes sociais. Benedito Antunes, um dos artistas que integram a exposição atendeu de imediato o chamado. “Quando eu comecei a pintar o João já fazia exposições. Eu já admirava o trabalho dele, ia ver, gostava muito dos quadros. Então quando ele convidou pelo facebook eu logo embarquei. Ele é como um professor, né?”, comentou entre risos de admiração.

Para este projeto, João Sebastião pensou em comunidade, não é sobre concorrência ou brilho próprio, mas a construção de algo que envolva e beneficie o coletivo. Um dos pontos chave do Transmitologismo é a união dos “fazedores de arte” na valorização do regional. “João tinha absurda adoração pela nova geração, pelos grafiteiros, mas lamentava não ver em suas artes os ícones regionais”, afirma Luiz Marchetti, consultor artístico da exposição.

O propósito de João era simples, união dos artistas em torno de um ícone regional subestimado, a Maria Taquara. Nome de praça, endereço, escultura, folclore na boca do povo, mas será que valorizada? Para João Sebastião não.  O artista não aguentava assistir Maria Taquara em meio a um local mal cuidado e rodeada de lixo, reivindicava revitalização, limpeza da praça e elevação da escultura de Haroldo Tenuta.

A  filha de João, Ericka Costa, comenta: “ele sempre teve essa coisa de exaltação das mulheres, muito por conta da minha vó. E quando viu o ícone dessa mulher abandonado, todo sujo e desvalorizado naquele local, quis celebrar novamente. Já que ela é uma mulher que veio pra combater esse machismo, foi a primeira a usar calça comprida em Cuiabá”.

Além de ter sido a primeira mulher a usar calça na cidade, também era pobre, negra, lavadeira, prostituta e boêmia, carregando todas essas características em uma postura altiva de autoafirmação. Dizem que Maria Taquara era franzina, mas ninguém mexia com ela enquanto andava pelas ruas.

Proprietária da Casa do Parque, produtora da exposição e amiga pessoal de João, Flavia Salem comenta a honra que é receber em seu espaço o ícone feminista e cuiabano que é Maria Taquara, “uma mulher forte, que em uma época que se esperava docilidade e submissão se posicionava como um símbolo para todas as mulheres”. Esobre a última exposição de João Sebastião declara, “este é um momento muito especial para a Casa do Parque, que também é a casa das onças do João. As onças dele dão as boas vindas no espaço e acompanham as pessoas até o estacionamento. Ele foi, inclusive, o primeiro artista que pintou nossas paredes”.

Corrente

Além das obras em reverência à Maria Taquara, um quadro ali não é sobre ela. Regina Kaizer, amiga do pintor, movimenta uma campanha para ajudar no tratamento de uma criança de 8 anos, portadora de doença autoimune. “Assim que soube da campanha, pelo facebook mesmo, João se prontificou a doar uma obra para que fosse vendida e ajudasse no tratamento de Serginho”, contou Regina. O quadro de João será leiloado em breve e todo o valor será revertido para auxiliar Serginho em seu tratamento.

Ao fim, a exposição realiza com sucesso um sonho de João. Sua filha, Ericka, comenta sobre a ansiedade do pai ao pendurar os quadros nas paredes do ateliê e imaginar como seria quando estivesse tudo pronto. A irmã do artista, Ines Costa, uma das mais emocionadas durante a abertura, comenta: “Ele não estava presente, mas de onde ele estiver ficou feliz. Não só ele queria homenagear a Maria Taquara como queria a união dos artistas de Mato Grosso, e através dessa exposição eu creio que ele conseguiu. Foi mesmo uma coisa muito linda que aconteceu ontem na Casa do Parque”.

Serviço

A exposição permanece na Casa do Parque até 25 de junho. Das 10h às 22h, com entrada franca.

Artistas participantes: Juraci Masiero Pozzobon, Rayra Freitas, Rimaro Vital, Thais Lino Costa, Ivana De Souza, Mari Gemma De La Cruz, Salete Luenenberg, Nilson Pimenta, Patrícia Wolf, Vitória Basaia, Maria Beatriz Perfeito, Aluízio de Azevedo, Henrique Magalhães, Javier Porporatto, Gonçalo Arruda, Aleixo Cortez, Wander Mello, Emanuelle Calgaro, Areuter, Ruth Albernaz, Heleninha Botelho, Elieth Gripp, Télio Fernandes, Gervane de Paula, Janiane Walkiria, Adriano Figueiredo, Samara Yukali Ferreira, Sabata Miyoko Ferreira, Pedro Guilherme, Valques Rodrigues da Costa, Cecílio Vera, Lúcio Larangeira, Adriana Milano, June Fontenelle, Benedito Nunes, Rosylene Pinto, Airton Reis, Regina Ortega Calazans, Alair Fogaça, Dogan, Altair dos Santos, Fábio Motta, Henrique Santian, Raí Reis, Aclyse Mattos, Airton Reis, Amanda Alvez Bonfim, Antonio Pacheco, Cigarra Chan, Janete Manacá, Leôncio Paulo Barthalo, Maria Ligia Caviglioni, Mirian Marclay, Regina Pena, Ruy Ribeiro, Sonia Palma, Tiana De Souza, Geraldo Espindola e Silvana Lobo.                                                                                                

Bruna Gomes

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