A presidente Dilma Rousseff afirmou nesta quinta-feira (31), em uma cerimônia no Palácio do Planalto, que todos seus antecessores na Presidência da República fizeram "pedaladas fiscais", manobra contábil que é um dos crimes atribuídos a ela no processo de impeachment que tramita no Congresso Nacional.
Nesta quarta, os juristas Miguel Reale Jr. e Janaina Paschoal – dois dos três autores do pedido de impeachment da petista – defenderam na comissão especial que analisa o processo de afastamento que as “pedaladas fiscais” constituem “crime grave”.
"Meu impeachment baseado nisso [pedaladas fiscais] significaria que todos os governos anteriores ao meu teriam de ter sofrido impeachment porque todos eles, sem exceção, praticaram atos iguais ao que eu pratiquei. E sempre com respaldo legal", discursou Dilma em uma solenidade na qual recebeu manifestações de apoio de artistas e intelectuais contrários ao impeachment.
Diante da plateia de celebridades, entre as quais a cantora Beth Carvalho e a atriz Letícia Sabatella, a presidente disse que as "pedaladas" foram necessárias para dar continuidade ao pagamento de programas sociais como, por exemplo, o Bolsa Família e o Minha Casa, Minha Vida.
O ministro da Fazenda, Nelson Barbosa, afirmou nesta quinta-feira, em depoimento à comissão especial do impeachment, que o governo fez o “maior corte da história” em 2015 e não pode ser acusado de cometer crime de responsabilidade nem “irresponsabilidade fiscal”. Barbosa foi escalado para falar em defesa de Dilma no colegiado que dará parecer pela instauração ou não do processo de afastamento.
“No ano passado, o governo fez o maior contingenciamento da história. Não há que se falar de flexibilidade fiscal, de irregularidade fiscal ou de crime de responsabilidade fiscal no momento em que o governo fez o maior contingenciamento da história”, disse.
'Ódio e intolerância'
Em meio ao discurso que fez aos artistas e intelectuais, Dilma Rousseff afirmou, sem citar nomes, que não adianta alguns falarem "vamos unir o país" no ambiente de “ódio” e “intolerância” que tem tomado conta do Brasil.
Desde o ano passado, o vice-presidente Michel Temer – primeiro na linha de sucessão da Presidência – tem defendido que a situação política brasileira é "grave" e tem ressaltado a necessidade de alguém "unificar o país". Desde então, ministros do PT passaram a acusar o peemedebista de estar tentando se promover como um "salvador da pátria".
De acordo com Dilma, o Brasil não pode ser dividido em duas partes, com as pessoas sendo estigmatizadas pelo que pensam. Na avaliação da petista, esse clima poderá gerar uma “ruptura” da sociedade.
"Temos de lutar para superar esse momento. Temos de lutar para poder voltar a crescer e criar na nossa sociedade um clima de união. Não adianta alguns falarem 'vamos unir o país'. Não se une o país dessa forma. Não se une o país destilando ódio, rancor, ravia e perseguição. Não se pode fazer isso", enfatizou.
Pediatra
Em outro trecho de sua fala, a presidente da República condenou o episódio da pediatra gaúcha que negou atendimento a uma criança de um ano simplesmente porque a mãe do menino é filiada ao PT.
“É muito grave quando uma médica se recusa a tratar de uma criança porque o pai e a mãe desta criança integram o Partido dos Trabalhadores. Isso é muito triste”, disse. “Este país nunca teve esse lado fascista. […] Sabemos que tem, sim, hora em que surge ali um fundamentalismo. Agora, estigmatizar as pessoas pelo que elas pensam?”, completou.
Dilma afirmou não ser “correto” que pessoas sejam estigmatizadas pelo que pensam e é preciso lutar para superar o atual momento. Sem citar nomes, a presidente também declarou que não adianta “alguns” falarem “vamos unir o país” enquanto “destilam ódio, rancor, raiva e perseguição”
Fonte: G1