Cidades

Pacientes internados podem morrer sem remédios, diz médico

Um cardiologista que trabalha na rede pública de saúde do Distrito Federal afirmou, em desabafo por mensagens de celular, que pacientes internados no Hospital de Base correm risco de morte por falta de medicamentos. Segundo ele, o estoque de estimulantes cardíacos como dobutamina e milrinona acabou e os pedidos de transferência não foram atendidos.

"Fiz vários plantões essa semana e foi um tal de troca 'dobuta' por milrinone, seis da manhã troca por 'dobuta', até que finalmente essa noite trabalhamos sem milrinone e pegando 'dobuta' de carro do Samu. Pedindo aqui e ali. Terminamos informados que não há mais 'dobuta' ou milrinone para ser captado', diz uma das mensagens enviadas pelo médico.

Em nota enviada à TV Globo, a Secretaria de Saúde afirma que os dois medicamentos têm "estoque reduzido na rede, estando disponíveis apenas em algumas unidades de saúde", mas diz que já deu início ao processo de compra. A pasta não informa prazo para regularizar o problema.

Nas mensagens enviadas por WhatsApp a colegas de trabalho, o cardiologista cita dois pacientes internados no Hospital de Base que podem morrer sem essa medicação. Um frasco do insumo custa cerca de R$ 40 nas farmácias do DF.

"Temos pelo menos dois pacientes quem, se acabar a 'dobuta', devem morrer em breve. Uma delas tem 45 anos! A UTI do Hospital de Base não aceita mais pacientes que precisam de 'dobuta' por falta da medicação. Ligamos na Regulação para pedir prioridade na transferência. Nos locais onde seria possível uma vaga, também não havia 'dobuta'", diz o profissional.

A dobutamine e a milrinona são substâncias estimulantes do coração, usadas em pacientes críticos com quadro de insuficiência cardíaca. A medicação mantém a pressão arterial estável e evita que o mau funcionamento do coração leve à falta de oxigenação dos outros órgãos.

'Contando as horas'
Nas mensagens, o médico afirma que as equipes médicas trabalham sob estresse, com medo de não terem recursos para salvar os pacientes internados. Uma lista afixada no pronto-socorro do Hospital de Base indicava a ausência de 38 remédios no último fim de semana.

"Ficamos contando as horas, torcendo para não ter que dar mais uma notícia de óbito evitável, ou potencialmente evitável. Os pacientes estão morrendo no Base, como morrem no interior de Goiás… não dá! Esse não é nosso papel. Fizemos mais uma carta para a chefia de equipe, mas o estresse que a gente passa nessa situação é impagável", diz o cardiologista.

Outros médicos da unidade afirmaram à TV Globo que o hospital está sem outros insumos fundamentais na área de cardiologia. A lista inclui os três marcadores para identificar um infarto (troponina, CPK e CKMB) e o isordil, usado para insuficiência coronária.

A rede pública também estaria sem cateter para os pacientes de hemodiálise e com duas máquinas de raios-X do tórax quebradas, segundo os profissionais de saúde. A máquina de gasometria do Base, utilizada para calcular a quantidade de oxigênio no sangue, também estava sem funcionar até este domingo (27).

Fonte: G1

Redação

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