O que vai afetar na vida das pessoas comuns a segunda perda do selo de bom pagador do Brasil, dessa vez pela Fitch? O que significa a perda de mais um grau de investimento?
Se fosse uma pessoa, é como se o Brasil fosse considerado um cliente com um risco maior de dar calote. A consequência: terá que pagar uma taxa de juros mais alta para os credores se quiser continuar pegando dinheiro emprestado.
Como reflexo, as empresas brasileiras também devem sofrer mais para captar dinheiro.
Possíveis efeitos nos preços, no crédito e nos empregos
Essa conta mais alta das empresas deve ser repassada para o consumidor, que irá pagar mais pelos produtos ou por empréstimos, segundo o economista da NeoValue Investimentos Alexandre Cabral. "Por causa do aumento do risco, o investidor deve manter seu dinheiro em produtos pós-fixados, de grande facilidade para sacar, tal como títulos Tesouro Selic."
Para Mauro Calil, especialista em investimentos do banco Ourinvest, o segundo rebaixamento não é uma catástrofe, mas é uma situação muito séria, que pode tornar ainda mais difícil conseguir crédito, além de aumentar a inflação e o desemprego.
"Estamos vivendo a tempestade perfeita: grave crise política, desemprego, inflação, juros e dólar em alta, rebaixamento do país e fatores externos que contribuem para o agravamento da crise, como a possibilidade de alta da taxa de juros nos EUA. Tudo isso pressiona o câmbio e a inflação", diz.
O maior problema desse novo rebaixamento, segundo Calil, é que a maior parte dos fundos internacionais de pensão, que são os grandes detentores de dinheiro no mundo, não poderão mais investir em papéis brasileiros. "Isso significa que aqueles que ainda não retiraram o dinheiro do Brasil terão de fazê-lo num curto espaço de tempo, provavelmente até o fim do ano", diz. Isso significa: dólar mais alto e Bolsa em queda.
Juros e dólar devem subir; prefira investimentos pós-fixados
Os especialistas acreditam que o efeito imediato do rebaixamento será uma alta das taxas de juros e também do dólar. Calil afirma que a moeda norte-americana pode atingir R$ 4,50 num curto espaço de tempo.
O dólar alto deve puxar para cima a inflação, o que irá diminuir o poder de compra das pessoas.
Para quem tem dinheiro para investir, a melhor aplicação serão os investimentos pós-fixados (que acompanham uma determinada taxa, como a Selic ou o CDI).
Todos os demais investimentos merecem cautela, tais como ações, títulos prefixados e dólar.
Veja as recomendações para cada investimento;
Poupança
Deve ser evitada, pois paga rendimento fixo de 0,5% ao mês mais TR. Por isso, não aproveita a alta dos juros
Com tendência de alta da inflação, investidor deve perder dinheiro
Mauro Calil não recomenda manter nem por um período curto. Segundo ele, se investir no Tesouro Selic por um período de um ano, o investidor obterá uma rentabilidade de 103% do CDI (já descontados os 20% do IR), ante 72% do CDI na poupança
Tesouro Direto
Tesouro Selic, que acompanha a alta dos juros, é a aplicação mais recomendada
Tem incidência da tabela regressiva do IR sobre aplicação (IR de 22,5% até seis meses; 15% acima de dois anos, com alíquotas intermediárias entre os períodos)
Não sofre com a marcação a mercado, que altera o preço do papel diariamente para baixo ou para cima
Como sempre tem uma rentabilidade positiva, é indicado para o dinheiro de mais curto prazo
Tesouro IPCA+, que são títulos indexados à inflação, são opção para se proteger da inflação e garantir também um juro prefixado
Tesouro Prefixado, cuja rentabilidade já é conhecida do investidor no momento da compra, é opção para diversificar
A recomendação, no caso do Tesouro IPCA e Prefixado, é prestar atenção ao prazo de vencimento do papel. Quem tirar o dinheiro antes pode perder rendimento por conta da marcação a mercado
Como a tendência no momento é de alta da taxa de juros, os títulos prefixados podem apresentar perdas se forem pagos antes do vencimento
LCI e LCA
São ótimas opções na renda fixa, por conta da isenção do IR
Ponto negativo é que a aplicação exige a manutenção do dinheiro por um período de carência; três meses costuma ser o mínimo
Está difícil encontrar papéis para aplicar. Retração do mercado imobiliário e possibilidade de tributação pelo governo são os motivos
Opte pelos papéis que paguem acima de 90% do CDI
CDB
Melhor optar pelos pós-fixados, para acompanhar a alta dos juros
Segundo cálculos de Mauro Calil, para ter um rendimento equivalente a 100% do CDI, a aplicação tem que render:
Em até 180 dias: 129% do CDI
De 181 a 360 dias: 125% do CDI
De 361 a 720 dias: 121,2% do CDI
Acima de 721 dias: 117,5% do CDI
Bancos maiores costumam pagar entre 85% e 90% do CDI
Para obter mais rentabilidade, procure bancos menores. Mas, para aceitar esse risco, é aconselhável limitar o valor do investimento a R$ 250 mil, atual limite do Fundo Garantidor de Créditos (FGC)
Bolsa
A perda do grau de investimento é notícia negativa para o mercado, que deve ter quedas ainda maiores
Para quem não conhece o mercado de renda variável, não é hora de entrar
Para o professor Alexandre Cabral, só quem tem muito conhecimento e apetite pelo risco deve entrar na Bolsa nesse momento, pois a tendência é de queda
Dólar
O investidor que quiser se beneficiar da alta do dólar pode optar pelo investimento em fundos cambiais
Lembre-se de que esses fundos têm taxas de administração, algumas vezes taxa de performance, e também têm IR
Para Cabral, quem tem gastos já programados em dólar, como estudos ou viagens, também pode ir comprando a moeda aos poucos, para fazer um preço médio e não ficar preso à cotação de um único dia
Mauro Calil aconselha a quem tem dinheiro comprar tudo de uma vez, pois, para ele, a tendência do preço da moeda é subir
Outra opção de investimento na moeda são fundos nacionais que também apliquem na moeda estrangeira
Remessas para o exterior permitem aplicar diretamente lá fora
Fonte: UOL