A Polícia Civil indiciou por falsidade ideológica os 72 sírios que conseguiram certidões de nascimento e outros documentos pra se passar por brasileiros. Os investigadores buscaram informações na internet pra saber quem são e o que fazem essas pessoas.
Na manhã desta terça-feira (15), policiais entregaram ao Ministério das Relações Exteriores, no Rio de Janeiro, todas as informações sobre os 72 sírios. Os investigadores fizeram uma busca nas redes sociais para tentar saber quem são essas pessoas que querem se passar por brasileiros.
Zakaria Jaohar tem certidão de nascimento brasileira, RG e CPF. A Polícia descobriu que Zakaria se apresenta como gerente de uma empresa de navios, a Ranim Maritime. E diz que mora da Síria.
Em uma publicação, de janeiro, ele mostra o escritório novo. O perfil tem várias fotos de embarcações com o sobrenome dele. E de viagens pelo mundo: Bruxelas, Dubai. Em uma delas, em Roterdã, na Holanda, ele posa ao lado de um carro de luxo.
Os investigadores também levantaram informações sobre Abduljalil Mallah e Hourieh Bakir. Descobriram que eles são casados e executivos de uma empresa de navegação da família.
Segundo a polícia, a Mallah Ship Management tem sedes em Londres e na Grécia.
Três ex-militares da Síria também conseguiram documentos brasileiros. Michel Torbey foi sargento das Forças Armadas na Síria. O consulado americano disse que ele usou o endereço de um amigo para entrar nos Estados Unidos. E que esse ano teve o visto americano recusado em Dubai.
Fadi Fayez Basel é advogado, mas também foi soldado no exército da Síria. E Elias Hanna Elias foi soldado da infantaria na Síria.
Na segunda-feira (14) o Jornal Nacional mostrou, com exclusividade, como eles conseguiram se transformar em brasileiros. Com a ajuda de um homem e de dois funcionários de um cartório na Zona Oeste da cidade, tiraram uma certidão de nascimento, como se tivessem nascido no Brasil.
Depois, não encontraram nenhuma dificuldade para conseguir todos os outros documentos, como se fossem brasileiros. A delegacia que investiga as fraudes indiciou os 72 sírios por falsidade ideológica.
A Polícia Civil pediu a ajuda da Polícia Federal para tentar saber onde estariam esses sírios. Foram dois pedidos: um em abril e um na semana passada. Mas até agora, não houve resposta
Em nota, ao Jornal Nacional, a Polícia Federal disse que abriu um inquérito sobre o caso, mas que as investigações estão em segredo de Justiça, e por isso não pode comentar o assunto.
Para o diplomata Marcos Azambuja, que já foi secretário-geral do Itamarati, esse tipo de controle é muito falho no Brasil e deixa o país vulnerável principalmente em um momento que o Rio vai receber as Olimpíadas.
“O Brasil hoje é feito um queijo de Minas, com furos em todas as direções. Isso é um convite para que em um certo momento nós tenhamos um aborrecimento muito sério, e o que é mais grave, que outros façam por nós a fiscalização que nós não fizemos", afirmou o diplomata.
O Ministério da Justiça afirma que está em contato com as autoridades do Rio para colaborar com as investigações. E o Ministério das Relações Exteriores informou que está acompanhando o caso.
O Tribunal Regional Eleitoral do Rio declarou que essa denúncia demonstra que o sistema de registro civil no Brasil precisa ser aperfeiçoado.
O Tribunal Superior Eleitoral encaminhou ao Congresso um projeto de lei que cria o registro civil nacional, baseado na identificação biométrica dos brasileiros, que seria, no futuro, a base para um documento único dos cidadãos.
Fonte: G1