A Diretoria Regional de Ensino afastou o vice-diretor da única escola estadual de Santo Antônio de Posse (SP). Ezequiel Nascimento da Silva foi flagrado negociando a venda de diplomas universitários que custariam cerca de R$ 30 mil. O esquema envolve uma universidade de São Paulo e foi gravado por câmeras escondidas e divulgado com exclusividade pela EPTV, afiliada TV Globo, nesta quinta-feira (22).
O suspeito foi desmascarado pela reportagem no dia em que o pagamento pelo diploma seria feito e negou as acusações. A instituição de ensino superior também negou envolvimento.
A promotoria de Jaguariúna (SP) e o delegado do município também estiveram nesta quinta-feira na escola e na casa de Silva e levaram os computadores e documentos para análise.
Dar exemplo
A inspetora de alunos da escola, Aparecida Decó, conversou com a EPTV e disse que nunca desconfiou do esquema. "Eu realmente nunca tinha ouvido esse comentário dentro da escola", afirma.
O pai de aluno Elivaldo Aragão ficou indiganado e surpreso com um golpe desse tipo, negociado por um diretor de escola. "Ele deveria dar exemplo, né. Nossos fillhos estudam lá", critica.
Denúncia
O caso começou a ser apurado após uma denúncia em agosto deste ano. A fraude acontecia dentro da Escola Estadual Santo Antônio, na sala da diretoria. O profissional que fazia as negociações, segundo a EPTV, era Silva, que também vinha sendo investigado pela Diretoria Regional de Ensino.
O primeiro contato foi feito por telefone e um encontro foi marcado dentro da escola no início de agosto. Se passando por um casal e com uma câmera escondida, dois produtores foram recebidos pessoalmente pelo ex-vice-diretor, encaminhados até a diretoria e solicitaram a compra de um diploma de ensino superior.
Eles contaram uma história, falsa, de que precisariam do documento para garantir uma oportunidade de emprego. Silva chegou a mencionar que tentaria a negociação com "amigos".
Na conversa, Silva admitiu ter conseguido outros diplomas e que, inclusive, um dos beneficiados trabalha como fiscal federal, atualmente. "Há muito tempo eu fiz um desses, inclusive hoje ele é fiscal federal. Então, pra ele valeu muito, né. Só que na época ele estava desesperado", afirma no vídeo.
Aprovação do diploma
O suspeito termina a conversa indicando quais documentos seriam necessários para forjar um prontuário com histórico escolar, necessário para a aprovação do diploma. O tempo para a entrega do documento variaria de dois a três meses.
"Depende, depende. Acho que de dois a três meses. Faz toda a burocracia, questão que tem que fazer prova, então tem que lançar, então tem que pagar para publicar, tem que publicar no Diário Oficial, porque senão não vai valer de nada", explica.
Nos dois meses seguintes, o acompanhamento e a cobrança pelo diploma foram feitos por telefone, 15 contatos ao todo. Segundo o vice-diretor, estava difícil encontrar uma faculdade que conseguisse emitir o diploma. Na conversa, ele também cita que outras pessoas estariam interessadas em diplomas e que outras negociações estariam em andamento.
Nas últimas ligações o vice-diretor informou que a Faculdade Mundial, em São Paulo, forneceria o diploma. Esta instituição existe desde 2009, funciona em um prédio na Avenida Paulista e recentemente recebeu autorização do MEC para abrir o curso de administração. Ou seja, a primeira turma da faculdade só será formada no início de 2016, mas um diploma de conclusão neste curso seria vendido para o produtor que fez a solicitação.
O vice-diretor afastado informou, também, que um polo da Faculdade Mundial se instalou em Santo Antônio de Posse e o responsável conseguiria o diploma falso. "O cidadão montou um polo aqui em Santo Antônio de Posse daquele curso… pós-graduação, né. Ele é um dos líderes da faculdade. Então, ele vai trazer pra mim todas as coisas que precisa", conta por telefone.
Desmascarado no pagamento
A produtora e Silva marcaram um encontro em uma rua em Santo Antônio de Posse. Durante o contato dos dois, a equipe de reportagem abordou o vice-diretor e o questionou sobre a venda de diploma universitário."Que diploma? Eu não fiz isso. Vai na [Faculdade] Mundial e pergunta se eles me conhecem então", diz antes de entrar no carro e ir embora, sem o dinheiro.
A reportagem foi até a faculdade em São Paulo e conversou com o diretor José Abrão. Ele negou qualquer envolvimento com o esquema. "Nós desconhecemos plenamente o nome. Nunca tivemos contato com essa pessoa. É muito estranho. Claramente um golpista", afirma o diretor da faculdade.
Ao tomar conhecimento da denúncia, José Abrão protocolou uma reclamação no Ministério da Educação. O MEC informou que vai acionar a Polícia Federal para investigar o caso. O diretor da instituição disse, ainda, que não tem e nem pretende abrir nenhum curso em Santo Antônio de Posse.
Fonte: G1
