Por Thales de Paiva
Mesmo com toda a pujança e potencial de Mato Grosso no cenário agrícola, que garante relevante contribuição à balança econômica nacional, as formas e vias de escoamento da produção estadual continuam constituindo um grande entrave para o pleno desenvolvimento do setor.
Caminhoneiros que trafegam pelos 1.764 km de extensão da rodovia BR-163 – uma das principais vias de escoamento da região – conhecem bem as dificuldades. Parte da via não é pavimentada e as condições precárias de tráfego acabam gerando muitos transtornos.
Uma parcela bastante expressiva da produção estadual é transportada pela rodovia, também conhecida como Cuiabá-Santarém, até os dois portos da Região Sudoeste e Oeste do Pará. Neste ano, a estimativa é de que 150 mil caminhões cruzem a rodovia. Grãos, fibras, proteína animal e algodão estão entre os principais produtos, que passam por um longo trajeto, com acesso complicado.
O problema se estende pelas demais rotas. Em o Mato Grosso, são mais de cinco mil quilômetros de estradas pavimentadas, segundo estimativa da Secretaria de Estado de Infraestrutura e Logística (Sinfra). Desse total, mais de três mil precisam de intervenções na malha viária, porque não receberam manutenção devida nos anos anteriores.
Ainda de acordo com a secretaria em questão, o Estado conta com mais de 24 mil quilômetros de rodovias não pavimentadas. Elas devem ser incluídas no projeto que prevê a ligação das vias menores às principais estradas que cortam o Estado.
Formado por entidades do setor produtivo no Estado, o Movimento Pró-Logística vem buscando articular a implantação e manutenção da infraestrutura de logística federal e estadual em Mato Grosso e nos acessos aos portos.
“Nossa meta é aumentar a disponibilidade de ferrovias e hidrovias no Estado. Essa é nossa grande batalha. Além disso, também trabalhamos pela manutenção das rodovias, articulando, junto aos governos, soluções de infraestrutura e redução do custo do frete”, sintetiza Edeon Vaz Ferreira, diretor executivo do Movimento.
Como toda a produção do Estado é escoada basicamente em caminhões, os custos com transporte são muito elevados. Mesmo o que segue pela ferrovia, a partir de Rondonópolis, precisa chegar até lá de caminhão. “O maior problema é que nossos modais são, ainda, caminhões. Nosso frete fica muito alto, porque não temos ferrovias e hidrovias”, reforça o diretor executivo.
Consequentemente, o custo de produção também fica elevado, já que os insumos utilizados chegam aqui mais caros. “Nosso setor é muito prejudicado pela falta dessa estrutura de logística. Além do problema do escoamento, o preço dos defensivos, fertilizantes e sementes utilizados na produção acabam sendo muito impactados”, afirma Nelson Piccoli, diretor administrativo e financeiro da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Mato Grosso (Famato).
Mesmo com a importância da já citada Rodovia BR-163 (por onde ocorre o escoamento de um grande volume de soja, milho e outros produtos), poucas melhorias ocorreram nos últimos anos, do nortão ao Pará. Um dos trechos mais críticos fica entre os municípios de Novo Progresso e Itaituba, no Oeste do Pará. São mais de 230 quilômetros de estradas de terra, com muitos perigos e quase nenhuma sinalização.
A conclusão das obras de pavimentação da rodovia beneficiaria principalmente a região Norte de Mato Grosso, responsável pela maior produção de grãos do Estado. Além da falta de pavimentação em grande parte da via, a falta de manutenção no asfalto é um problema recorrente em muitos outros trechos. “O setor está inconformado com a demora da conclusão da BR-163 até Santarém. Há três anos faltam mais de 200 quilômetros e nada mudou de lá para cá. Isso é inaceitável”, critica Piccoli.
“Outra parte da rodovia melhorou muito, mas isso não impactou na diminuição do frete, por conta dos pedágios”, informa Piccoli.
Com certeza, nosso maior problema é que temos uma única maneira de escoamento. “Quando tivermos competitividade no modal de transportes, com mais ferrovias e hidrovias, poderemos sentir uma redução do frete – que sempre acaba onerando o produtor” complementa o diretor administrativo e financeiro da Famato.
Meio ambiente
Se por um lado a pavimentação da BR-163 pode amenizar o gargalo do escoamento e proporcionar melhorias nesse âmbito, essa obra de grandes proporções deve causar forte impacto ao meio ambiente. Segundo dados do “Plano BR-163 Sustentável”, a parte asfaltada da estrada em Mato Grosso tinha perdido 57% da cobertura florestal na faixa de 50 km de cada lado.
No trecho paraense não pavimentado, o desmatamento não passava de 9%. Um dado preocupante e que põe em risco a riqueza da biodiversidade na região, decorrente da coexistência de diferentes biomas – florestas densas, florestas abertas, cerrados e grandes áreas de transição entre floresta tropical e cerrado.
Obras na BR-163
No primeiro semestre deste ano, foi concluída a primeira etapa de duplicação da BR-163, em um trecho com pouco mais de 22 quilômetros. Essa é apenas parte de uma série de obras que será executada pela Concessionária Rota do Oeste, (empresa da Odebrecht TransPort), ao longo dos próximos 30 anos. Os investimentos previstos são da ordem de R$ 5,5 bilhões.
Melhorias que já estão refletindo no bolso do usuário. No dia seis de setembro, começou a cobrança de pedágio. Já são nove praças na região: Itiquira, Rondonópolis, Campo Verde, Santo Antônio de Leverger, Jangada, Diamantino, Nova Mutum, Lucas do Rio Verde e Sorriso.
Atualmente a BR-163 conta com 90 quilômetros de pista duplicada no trecho entre Rondonópolis e a divisa do Estado com Mato Grosso do Sul. Segundo informações da concessionária, o trecho da BR-163 sob sua responsabilidade – cerca de 450 quilômetros, foi totalmente recuperado, sinalizado e entregue em boas condições de tráfego.
Desde setembro de 2014 está em operação o Sistema de Atendimento ao Usuário (SAU) com mais de 70 veículos para socorro médico, mecânico e apoio ao usuário (ambulâncias, guinchos, caminhão pipa), inspeção 24 horas na rodovia e um Centro de Controle Operacional disponível por meio do 0800 065 0163. Em um ano de operação, mais de 100 mil ocorrências foram atendidas e houve redução de 12% no número de óbitos por acidente ao longo de 850 quilômetros de rodovia.
Em agosto deste ano a Rota do Oeste assumiu um trecho de 108 km entre Várzea Grande e Rosário Oeste, até então sob responsabilidade do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit). Em pouco mais de 30 dias já foram restaurados 40 km de rodovia e os trabalhos continuam no local.
Outras obras
Nas vias de competência estadual, o maior programa de intervenções atualmente desenvolvido pelo Governo é o Pró- Estradas (antigo MT Integrado). O programa é dividido em três frentes: construção de rodovias, reconstrução do asfalto deteriorado e manutenção das rodovias com excesso de buracos e falta de sinalização.
Segundo informações da Sinfra, neste ano serão reabilitados 1.500 quilômetros de pavimento deteriorado e asfaltados outros 500 quilômetros de estradas. São mais de 170 frentes de trabalho em andamento. A pasta já autorizou o início de 69 obras rodoviárias em todo o Estado, sendo 53 de construção de rodovias.
Segundo o secretário de Infraestrutura e Logística, Marcelo Duarte, o objetivo maior do Pró-Estradas é atender toda a população, desde o pequeno produtor às grandes empresas. “As rodovias estão recebendo obras não só para o escoamento da produção, que é muito importante para o desenvolvimento de Mato Grosso, mas o objetivo da melhoria dessas estradas também tem foco na qualidade de vida do cidadão. Como a passagem de ambulâncias, ônibus escolares, carros de polícia, moradores, enfim, dar o direito de ir e vir ao cidadão mato-grossense”.
Projetos essenciais
Confira quais projetos foram apontados como de importância máxima pelo Movimento Pró-Logística: Hidrovias: Teles Pires–Tapajós, Arinos Juruena – Tapajós, Paraguai-Paraná e Araguaia-Tocantins. Ferrovias: FICO – Ferrovia de Integração Centro Oeste e Ferronorte (Rondonópolis-Santarém). Rodovias: conclusão da BR-163 e BR-158, implantação da BR-080 (Ribeirão Cascalheira- Luiz Alves-GO), da BR-242 (Sorriso BR-163) – Ribeirão Cascalheira (BR-158) e BR-174, entre Ribeirão Castanheira e Colniza.