Cidades

Tatuagem redesenha bico do seio de mulheres com câncer de mama

De repente, elas perderam o cabelo, uma parte do seio – ou até a mama inteira – e a autoestima. Viviane, Andrea e Virginia descobriram o câncer de mama de formas diferentes, mas as três perderam um dos seios durante a cirurgia para retirada dos tumores. Entre exames invasivos e diagnósticos imprevisíveis, essas mulheres redesenharam a aréola do seio com técnicas de tatuagem. E aceitaram mostrar o resultado para o G1.

Com frequência, para garantir que não haja retorno do câncer, os médicos retiram todo o seio das mulheres – incluindo a aréola e o mamilo. Estúdios de São Paulo têm profissionais que se especializaram em redesenhar essa região usando técnicas de tatuagem. “É uma alquimia de cores”, disse Sérgio Maciel, o Led’s, que desenhou as aréolas de Viviane, Andrea e Virginia.

Ele utiliza a mesma tinta de tatuagem, o que faz com que o desenho dure e precise de poucos retoques. Caso a cliente queira que dure menos, é só usar a mesma tinta de micropigmentação de sobrancelha. “É como pintura: chego a usar tinta verde para chegar ao tom da pele”, completou Led’s. (veja fotos do procedimento no fim da reportagem)em SP

No dia em que a reportagem do G1 foi ao estúdio de tatuagem, Virginia Castro ainda estava com o peito “igual a um joelho”, como ela mesma descreveu. A sessão durou menos de 30 minutos e o espaço em branco da pele deu lugar a um desenho em 3D.

Quem olha não nota grande diferença entre a aréola desenhada e a natural. No instante em que terminou, ela disse: “É um bico de seio. Não dá para acreditar”.

Para dar o relevo, existem diferentes técnicas. No momento da cirurgia plástica para implementação da prótese de silicone, algumas mulheres já pedem para que o médico faça um pequeno “nó” para simular o bico.

O método mais comum utilizado pelos tatuadores, caso não seja possível o tal procedimento durante a cirurgia, é utilizar cores e sombras para dar a impressão de relevo. “Olhando, parece que existem várias sinuosidades. Tocando, você vê que é só um desenho”, disse Led’s.

O estúdio Led’s Tattoo faz sessões grátis para mulheres que tiveram câncer de mama (confira endereços abaixo). É preciso ligar e marcar. São 10 horários reservados por mês, mas em outubro a equipe reservou 20 espaços na agenda. Durante o Outubro Rosa, são feitas campanhas em todo mundo para alertar sobre a importância da detecção precoce do câncer de mama.

Quem estiver com pressa, o custo fica por volta de R$ 700. Além da tatuagem da aréola, também está disponível a aplicação da técnica para melhorar o aspecto da cicatriz.

Metástase
Viviane Assis de Souza Roos, de 38 anos, queria engravidar aos 36 e não conseguia. Foi ao médico fazer alguns exames e descobriu o câncer de mama. Precisou escutar: “Provavelmente você não vai ser mãe”.

No dia 27 de setembro de 2013, o diagnóstico apontou que, além disso, ela tinha microcalcificações no seio. Em 15 dias, a biópsia apontou que o câncer era maligno. No Natal seguinte, Viviane estava sem cabelo.

Após quimioterapia, radioterapia e mais de 20 tipos de remédios diários, ela optou por adotar um bebê.

Pouco antes de ir à entrevista com o psicólogo para dar sequência ao processo, descobriu que o câncer havia se espalhado pelos ossos da cabeça e pescoço. É a chamada metástase, quando a doença atinge outras partes do corpo.

Ela disse que fazer a tatuagem “foi um refresco". "Eu descobri [a metástase] agora em agosto, eu fiz a tatuagem em setembro. Então, foi um respiro, uma coisa boa. Vieram as notícias, o novo diagnóstico, os novos remédios, os efeitos colaterais e, aí, vem uma coisa boa e ameniza. Torna suave”, disse Viviane.

Lado bom
No lugar da cicatriz, Andrea Cristina de Oliveira, de 41 anos, desenhou uma flor. No dia em que o G1 chegou ao estúdio para a sessão de fotos, ela estava com hora marcada para retocar a aréola – depois de alguns dias a tatuagem cicatriza e a cor pode ficar mais clara.

Em 2005, ela detectou o nódulo e recebeu o diagnóstico de câncer de mama três anos depois – ela sentiu o nódulo com o toque. O tumor tinha 4 centímetros. Andrea ainda não está curada e, de acordo com os últimos exames, ela também teve metástase.

“Você não acredita nessa possibilidade. Para mim, é uma luta diária. Eu vejo de modo diferente. Se eu comparar com a notícia que eu tive em 2012 de metástase, e hoje, a minha cabeça está totalmente diferente. A aceitação do problema é outra”, disse.

Andrea passou por diferentes estágios e chegou a entrar em depressão. De repente, como ela mesma disse, “passou a ver o lado bom da doença” e se “permitir experimentar coisas novas”.

Saltou de paraquedas, viajou em um navio temático, fez três dias de festa sem parar, trocou as roupas pretas por coloridas. “O câncer te dá essa sacudida. Eu vou morrer amanhã? Então eu vou fazer tudo hoje”.

Seis cirurgias
Virginia Castro, de 54 anos, tinha histórico de câncer na família. Por isso, comparecia ao Hospital do Câncer a cada seis meses para exames. Em uma das vezes, em 2011, ela detectou a doença. “Eu tinha medo da quimioterapia. Era o que mais me apavorava. Eu fiquei muito assustada com a quimioterapia e com a possibilidade de ficar careca”, disse.

Na época, tinha saído de um emprego de 25 anos e se divorciado de um casamento de 25 anos. Por ter conseguido detectar a doença rápido, conseguiu escapar da quimioterapia. “Eu estava no momento de uma transição gigante na minha vida e, quando acabei de mudar de casa, eu estava começando a montar a casa, eu tive que fazer a mamografia”.

A primeira cirurgia foi em apenas um quadrante do seio. Na retirada dos pontos, o médico disse, segundo ela de uma “forma muito tosca”: “Ah, que droga, você vai ter que tirar a mama inteira. Isso é um câncer muito agressivo. Ele cresceu 7 centímetros em seis meses e a gente não pode esperar mais nem um dia”. Foi quando ela tirou toda mama, incluindo o bico.

Após a retirada, quando chegou o novo resultado da biópsia, não havia metástase. E, por isso, Virginia não precisou realizar todo o tratamento desgastante da quimioterapia. Mesmo assim, precisou fazer mais quatro cirurgias para arrumar a mama, já que o corpo rejeitou a prótese de silicone. Depois da última intervenção, ela tatuou a aréola.

“O meu bico! Que eu tanto queria. Eu fiquei muito chateada de fazer o peito”, disse instantes depois de o trabalho ser finalizado.

“Estou praticamente curada. O risco, segundo o médico disse na última consulta, de ter um câncer de mama depois desses quatro anos é mínimo”, afirmou.

Fonte: G1

 

Redação

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Reportagens realizada pelos colaboradores, em conjunto, ou com assessorias de imprensa.

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