Economia

Abate de bovinos segue reduzindo em Mato Grosso

Thales de Paiva – Da Redação

O ano de 2015 tem sido marcado por queda bastante expressiva da oferta de bovinos para abate e pelo fechamento de frigoríficos em Mato Grosso. Mesmo sendo detentor do maior rebanho do Brasil, o Estado sofre com a diminuição da oferta, que vem afetando a economia de diversos municípios.  

O levantamento mais recente do Instituto de Defesa Agropecuária do Estado de Mato Grosso (Indea), divulgado pelo Instituto Mato-Grossense de Economia Agropecuária (Imea), mostra que o abate de bovinos recuou 29% em  agosto na comparação com o mês anterior. Foram 276 mil cabeças abatidas – o menor volume registrado nos últimos seis anos.

Nos primeiros três meses do ano o número de animais abatidos caiu 13,4% ante o mesmo período de 2014. A redução em nível nacional foi de 7,7% durante o trimestre em questão.  Ainda assim, o Estado continuou sendo líder no envio de bovinos aos frigoríficos.  

De acordo com o Imea, o aumento da retenção de animais por parte do produtor pode ser explicado pela queda do valor da arroba, que foi de 3,82% no período. Ou seja, muitos pecuaristas podem ter optado por esperar um momento mais apropriado, quando os preços estiverem mais atrativos. No fim de agosto a cotação era de R$ 125,12 – maior queda para o mês em toda a série histórica do Imea, que teve início em janeiro de 2008. 

Segundo informações da Acrimat, a constante diminuição do abate decorre do ciclo pecuário plurianual na bovinocultura de corte. Quando o preço do bezerro não está atrativo para o criador, aumentam os períodos de retenção e também de descarte de fêmeas (matrizes). 

“A oferta de bois gordos diminui e o resultado é a redução do número de animais para abate. Estamos vivendo um período de retenção de matrizes, com preços da bezerrada elevados, que têm estimulado o criador estadual. Por outro lado, passamos por um período com menos bois gordos para o abate nos frigoríficos”, explica o Gerente de Projetos, Fábio da Silva.   

“Ao mesmo tempo em que temos uma oferta menor por conta da seca e do ciclo pecuário mais longo, também temos um consumo menor de proteína vermelha. A pecuária de Mato Grosso passa firme por este período”, complementa José João Bernardes, presidente da (Acrimat). 

De acordo com o Sindicato das Indústrias de Frigoríficos do Estado de Mato Grosso (Sindifrigo), outro fator que contribuiu para essa situação é a saída do boi em pé, ou seja, a saída de bois vivos para outros Estados.

Frigoríficos

Desde o início do ano, sete unidades frigoríficas encerraram as atividades. Segundo levantamento da Associação dos Criadores de Mato Grosso (Acrimat), 19 dos 41 frigoríficos que até recentemente funcionavam a todo o vapor, estão com as atividades paralisadas.  Ao longo dos últimos 18 meses, 18 unidades foram desativadas. 

Com isso, centenas de trabalhadores perderam o emprego em Cuiabá, Mirassol D’oeste, Cáceres, Várzea Grande, Sinop, Canarana, Nova Xavantina, Vila Rica, Juara, Matupá, Nova Monte Verde, Colíder, Pontes e Lacerda, Barra do Garças e Rondonópolis. Somente na capital, 500 postos de trabalho foram extintos com a desativação da JBS. A Minerva Foods em Mirassol D’Oeste demitiu 700 funcionários e a JBS/Friboi em São José dos Quatro Marcos dispensou 724 pessoas.    

Os fechamentos também são resultado da divergência entre demanda e oferta: a capacidade instalada de abate passou a ser muito maior que a oferta de animais. Mas, ao que tudo indica a situação já foi estabilizada no setor, que não deve registrar novas desativações.

“A gente não acredita em mais fechamentos, apesar de ainda termos uma capacidade ociosa. Isso porque conseguimos o apoio do Governo, que concedeu a isonomia da alíquota do ICMS para as empresas do segmento. Em contrapartida, nos comprometemos em manter o nível de emprego e não fechar mais unidades”, informa Luis Freitas, presidente do Sindifrigo.  

Antes, eram concedidos incentivos maiores para algumas empresas e menores para outras. Agora, a tendência é que haja maior igualdade de condições para empresas de pequeno, médio e grande porte. “Esse acordo já está vigorando, trazendo uma estabilidade e uma segurança maior ao segmento e proporcionando as mesmas condições a todos”, sintetiza Freitas.  

Exportações

Dados da Secretaria do Comércio Exterior (Secex), do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC) mostram que as exportações de carne bovina cresceram 7,5% em setembro ante o mês de agosto e 11,3% na comparação com o mesmo período do ano passado.  

Apesar da retomada verificada no último mês, o balanço do ano reflete a queda do número de animais abatidos no Estado. No acumulado de janeiro a setembro, o volume de carne bovina exportada caiu quase 20%, de 915 milhões de toneladas para 766 milhões de toneladas.

A entrada de animais originários dos confinamentos pode contribuir com a retomada do setor. Um levantamento do Instituto Mato-Grossense de Economia Agropecuária (Imea) sugere que a intenção dos pecuaristas mato-grossense em confinar bovinos aumentou 24%. Se confirmada a projeção, o segmento pode alcançar 789 mil cabeças, frente aos 636 mil animais do ano passado.

Para a Acrimat, somente em 2017 devem ocorrer mudanças mais consistentes na oferta de bois gordos disponíveis para abate. Ainda assim, o setor já começa a sentir certo alívio. “É importante lembrar que a situação atual é boa para o setor, pois as margens – que antes estavam apertadas – estão se recuperando com os preços atuais, dando fôlego ao pecuarista mato-grossense”, afirma o gerente de projetos, Fábio da Silva. 

A retração no abate de bovinos tem sido verificada não só no Estado, mas em grande parte do País. A queda foi puxada por Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás, Minas Gerais, São Paulo e Paraná. Contrapondo esse cenário, o número de abates cresceu nos estados do Pará e Maranhão. Além de Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e São Paulo lideram o ranking nacional.

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Reportagens realizada pelos colaboradores, em conjunto, ou com assessorias de imprensa.

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