Wellynton Souza
Em tempo de crise econômica conhecer outro país parece uma ideia fora de cogitação. Além do mais, com a alta do dólar, considerada histórica nos últimos doze anos, a tão sonhada viagem é, muitas vezas, adiada para o próximo ano.
A cotação da moeda americana, que nesta semana quase atingiu US$ 4, – chegando a R$ 3,86 na terça-feira (15) – pode ser o impulso que faltava para um destino mais próximo. A moeda mais cara dificulta a viagem para outros continentes (à Europa e Ásia, por exemplo), mas tem estimulado a visitar países vizinhos na América do Sul ou Central, onde a moeda não tem uma discrepância tão grande em relação ao real.
A estudante de ciência contábil Karolina Rodrigues, de 22, estava decidida, desde junho de 2014, que iria para o Canadá com três amigas. A duração da viagem seria de 30 dias, mas alguns imprevistos aconteceram e a rota teve de ser alterada. “Passei por momentos difíceis em casa e não poderei ir mais ao Canadá. Pensamos, então, em conhecer Portugal, só que também pesaria no orçamento. Pesquisamos na internet e seria mais acessível passar 20 dias na Argentina”.
Com embarque marcado para o dia 25 de outubro, Karolina e as amigas não se arrependem da escolha. Pelos cálculos da jovem, ela economizou aproximadamente R$ 2 mil, trocando as moedas com antecedência e pesquisando os hotéis e as passagens aéreas mais baratas.
“Foram meses e madrugadas na internet atrás dos melhores preços. Tem muitas coisas para se fazer na Argentina. Para uma primeira viagem internacional estou bastante empolgada. E assim consigo comprar mais lembrancinhas do que se fosse para o Canadá”, afirma.
Já a advogada e empresária Mariza Marques não teve a mesma sorte em economizar. Mariza planejava uma viagem ao Panamá (na América Central) para o encontro de familiares em dezembro de 2014. Segundo a empresária, os gastos não ultrapassariam US$ 8 mil.
Porém, a viagem teve de ser realizada somente em julho deste ano. Devido à alta do dólar, alguns planos não saíram conforme o planejado. “Eu acabei trocando as moedas em cima da hora do embarque, o que me deixou um pouco no aperto durante a viagem. Eu queria visitar diversos lugares e fazer compras de lembrancinhas, só que os planos não deram muito certo”, frisa.
Para a viagem ao Panamá, que durou aproximadamente 30 dias, a advogada aboliu o uso do cartão de crédito. Ela afirma que gera muitas dívidas e não recomenda que ninguém passe o cartão brasileiro. “Eu já deixei de usar há muito tempo. Para quem gosta de viajar não vale a pena nem ter”, brinca.
De acordo com Marques, conhecer os lugares mais baratos ou os que não cobram entrada é uma ótima dica. “Existem lugares bem interessantes que não cobram nada. As praças e parques possuem uma vista linda”.
Outra forma de economizar durante uma viagem para o exterior é sair com pessoas que moram no local. “Eu pude sair diversas vezes com meu cunhado que me mostrou diversos lugares acessíveis, o que me deixou mais confortável durante o tour”, pondera.
Planejamento
Palavra que define as férias do estudante e professor Duan Zanchet e sua noiva, Yara Martins Rodas, que estão em Orlando (nos Estados Unidos). “A crise não está sendo um problema porque comprei os dólares bem antecipado, se não fosse isso, não teria condições de realizar a viagem neste momento”.
Duan explica que pesquisou, em blogs de viagens, como economizar ao máximo no exterior. “Estava sempre atrás de dicas e bilhetes promocionais. Buscamos pelos voos e hotéis mais baratos e conseguimos boas promoções. Ainda pude pedir a mão da minha noiva em casamento”, diz contente sobre a viagem com retorno marcado para o próximo dia 18.
O uso do cartão de crédito foi exclusivo para aluguel do carro e nada mais. “Preferimos não utilizar para fazer os passeios ou compras. Estamos economizando na alimentação, há vários restaurantes que servem comida para duas pessoas por US$ 15 ou menos”, conta.
Para a gerente comercial da CVC Viagens e Turismo de Cuiabá, Ana Lucia Sodré, a alta da moeda americana é uma ótima oportunidade para conhecer países como Argentina e Chile. Ela explica que para quem optar por viajar para o exterior em tempo de crise, é necessário fazer um planejamento com alguns meses de antecedência.
“A principal dica para um tour de 15 ou 30 dias é trocar as moedas assim que a ida para fora do país estiver confirmada. Não se deve deixar para trocar dólares de última hora, pois há o risco de a cotação estar ainda mais alta”, pontua.
Enquanto setores da economia percebem uma desaceleração no consumo, em razão do dólar mais caro, o segmento de viagens de lazer segue em alta. Ana ressalta que a viagem não precisa necessariamente ser cancelada ou adiada, pois as agências reduziram os preços de pacotes internacionais em até 70%. “As agências têm facilitado para os turistas, apresentando várias opções bem diversificadas e baratas, que não pesam no orçamento. Sempre aconselho que é mais viável mudar de rota do que deixar de viajar”, pondera.
Segundo a consultora de viagens, o turista que utiliza o cartão de crédito brasileiro no exterior fica sujeito à cotação da moeda no dia do fechamento da fatura, e não no momento da compra.
“A taxa de Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) pode tornar a fatura ainda mais salgada. O valor convertido do dólar em reais só será conhecido no fechamento da fatura, o que pode ser bom, se o valor da moeda estivar mais baixo, ou ruim, quando a cotação for mais alta. Os impostos cobrados no uso do cartão de crédito brasileiro são muitas vezes desconhecidos pelos clientes que se assustam ao receberem a fatura”, afirma.
Outra recomendação da Ana é sempre utilizar o cartão de câmbio e levar metade do dinheiro em espécie ou uma pequena quantia em valor para a segurança. “A vantagem é que o turista terá um controle na hora de gastar, só que é preciso andar atento nas ruas. Turista é sempre pego de surpresa”.