Bernardo foi assassinado ano passado, no Rio Grande do Sul, e o Fantástico fala do primeiro capítulo dessa história tão triste: a morte da mãe do Bernardo, Odilaine Uglione, em 2010.
O Fantástico localiza um novo personagem, que nem a polícia conhecia. O relato dele e de outra testemunha levanta ainda mais suspeitas sobre o alegado suicídio de Odilaine.
Uma carta de despedida que pode ter sido forjada. “‘Meu pai faleceu. Não tenho irmãos. Sou sozinha’. Como ela não tem irmãos? Claro que ela tem irmãos”, afirma o irmão de Odilaine.
Um caso tido como suicídio, em circunstâncias até hoje mal explicadas. “No dia da morte dela, quando ele abriu o cofre, eu vi uma arma lá”, diz a empregada.
A morte de Odilaine Uglione ainda é um mistério. Odilaine era mãe de Bernardo Boldrini, o menino assassinado no Rio Grande do Sul, ano passado. Ela foi encontrada morta no consultório do marido, o médico Leandro Boldrini, em fevereiro de 2010.
Na época, a polícia concluiu que Odilaine havia se matado com um tiro, mas a mãe dela nunca acreditou nessa versão e contratou peritos particulares, que apontaram falhas na investigação. Para eles, a letra da carta não é de Odilaine. “A pessoa que escreveu a carta conhecia a escrita dela, era uma pessoa muito próxima a ela”, disse o perito.
Depois disso, em maio, a Justiça determinou a reabertura do caso e outro delegado conduz as investigações. Surgiram, então, novos depoimentos que reforçam as suspeitas sobre o que aconteceu no dia da morte.
Na suposta carta de suicídio, uma coisa chama atenção: Odilaine escreveu que era sozinha e que não tinha irmãos, mas o Fantástico localizou uma pessoa que desmente essa informação e pode ajudar nas investigações. “Eu acho isso um absurdo, porque ela tem irmãos. Tem eu, tem mais um aqui no Rio, tem mais outro em Porto Alegre”, destaca o irmão.
Flávio Campos é irmão de Odilaine por parte de pai. Diz que cresceu longe dela, mas os dois mantinham contato. “Sempre tive contato com ela, a gente conviveu junto”, conta Flávio.
Ainda menina, Odilaine enviou uma foto para Flávio com uma dedicatória.
Fantástico: É parecida com a letra da carta que você viu?
Flávio: Não, eu não acho parecida. Quiseram fazer parecida.
Depois da morte da irmã, Flávio conta que nunca mais viu o sobrinho Bernardo, filho de Odilaine com Leandro Boldrini. “O pai dele nunca deixou”, conta Flávio.
Flávio diz que soube da morte de Bernardo pela TV. “Liguei imediatamente para o Sul perguntando o que estava acontecendo”, afirma.
Bernardo foi morto, aos 11 anos de idade, segundo a polícia, com uma injeção letal aplicada pela madrasta, Graciele Ugulini. O pai do menino é acusado de ser o mentor do crime. Ele, Graciele e os irmãos Edelvânia e Evandro Wirganovicz, também acusados de envolvimento, estão presos e vão a júri popular.
Flávio não acredita que a irmã tenha se suicidado: “Ela jamais ia deixar meu sobrinho órfão, jamais”.
Ele nunca foi ouvido pela polícia, mas está disposto a colaborar.
Já a então empregada da família depôs tanto na primeira investigação quanto agora. E, dessa vez, contou algo que não havia falado em 2010.
Fantástico: A senhora viu alguma vez ele com arma ou ela com arma?
Nelci de Almeida e Silva: No dia da morte dela que ele veio era tarde da noite quando ele veio em casa. Ele abriu o cofre, eu vi uma arma lá.
Fantástico: A senhora tem certeza que era uma arma?
Nelci de Almeida e Silva: Tenho.
Fantástico: Por que, na primeira vez que a senhora prestou depoimento, a senhora não mencionou a história da arma?
Nelci de Almeida e Silva: Eu tinha medo.
Em 2010, Leandro negou, em depoimento, que tivesse uma arma. Só agora, em 2015, um laudo do Instituto Geral de Perícias do Rio Grande do Sul ficou pronto e disse que não foi possível identificar se a bala que matou Odilaine saiu do revólver encontrado no local que ela morreu.
Nelci lembra o que viu naquele dia na casa dos patrões, pouco antes da morte de Odilaine: “Eles iam assinar o papel do divórcio. Eles começaram a discussão, se ofender e muita discussão”.
Segundo ela, Leandro, então, saiu para trabalhar. Mas, antes, teria deixado um recado: “Que, se acontecesse alguma desgraça naquele dia, que eu chamasse o 191, 193, porque ele estava cansado de chantagem”.
Nelci diz que, naquele momento, Odilaine estava transtornada.
Fantástico: Ela falou em se matar?
Nelci de Almeida e Silva: Ela disse que não queria viver mais, ela não falou em se matar.
Mas diz que, em seguida, a patroa resolveu sair, mais calma: “Fica tranquila, ela disse para mim”, conta Nelci.
Quinze minutos depois, veio a notícia do suposto suicídio.
Há cerca de um mês, o corpo de Odilaine foi exumado. Os restos mortais estão sendo periciados. A carta de despedida também será analisada. Mais de 30 pessoas já foram ouvidas nesse novo inquérito, que ainda não foi concluído.
“A verdade tem que vir à tona. A verdade verdadeira. Não a verdade falsa, como essa carta. Essa carta para mim é falsa”, diz o irmão de Odilaine, Flávio Campos.
Fonte: G1