Cultura

Mãos no piano e sentimentos no coração

Foto: Ahmad Jarrah / Circuito MT

Cheiro de madeira, cores fortes, ambiente aconchegante e apenas uma frase que define o professor de piano Luís Renato Dias: ‘’eu não ensino a mexer dedos, eu ensino a tocar com sentimento’’, fala com alegria de quem fez do magistério a escolha certeira de sua vida.

Nascido em Guiratinga (413 km de Cuiabá), Luís, imergiu no meio musical aos oitos anos de idade incentivado pelos pais. Segundo ele o momento em que teve certeza que a música era a paixão de sua vida foi quando ouviu a composição da valsa ‘’Coração que sente’’, do pianista brasileiro Ernesto Nazareth. “No dia em que eu ouvi isso eu nunca mais fui a mesma criança. Mexeu demais com a minha emoção”, conta.

Persistente, o professor foi o primeiro menino a ser aceito nas aulas de piano no Instituto Santa Terezinha em sua cidade. Como no livro ‘’Senhora’’, de José de Alencar, a realidade da década de 80 cabia na citação, “daí encaminhou-se ao piano, que é para as senhoras como o charuto para os homens, um amigo de todas as horas, um companheiro dócil, e um confidente sempre atento”.

O instrumento clássico era um dos atributos para arrumar marido para as mulheres, mesmo assim o pai do aspirante a pianista incentivou o ‘pequeno’. “Para o meu pai, a única serventia que a aula de piano tinha era pra eu tocar no culto. Ele nem imaginava que eu queria lecionar, ele queria que eu fosse advogado, por isso sou formado em direito. Comecei a faculdade com 17 anos, mas nunca fiz o Exame da Ordem’’, diz.

O seu ponto de referência foi a irmã, Augusta Costa Marques, sua primeira professora e pela qual tem grande admiração. “Uma coisa que me invoca muito a aula de piano da minha irmã, era a expressão de uma intelectualidade muito grande, uma pessoa muito culta e que lia toda a literatura brasileira, uma verdadeira mestra. Isso em uma cidade perdida em Mato Grosso, mas rica em cultura”.

Hoje, Luís Renato é bacharel em piano, composição e regência pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Trabalha há 18 anos como professor particular de piano e ministra aula para 47 alunos semanalmente, dez por dia – individualmente – com uma hora de duração.  

Para ele a sua academia de música ‘’Ernesto Nazareth’’ é intimista e individual ,sem foco em ser um grande conservatório. ‘’Quando os pais matriculam os filhos, eles não fazem ideia do que é uma aula de piano. Uso muito a pedagogia de Paulo Freire. Primeiro eu entro no mundo dos pais dos alunos e depois eu trago eles pro meu mundo’’, explica.

“A minha primeira vitória como professor é quando o pai compra o piano para o filho. Hoje os pais têm problemas em enxergar os resultados por falta de tempo”.

De linha introspectiva e solitária, o instrumento é ensinado em três níveis: básico, fundamental e técnico; com versatilidades de estilos transitando entre o barroco, clássico romântico e o moderno.

Durante a sua entrevista ao Circuito Mato Grosso, Luís disse que essa história de que pessoas que tocam instrumentos têm mais facilidade com exatas não se aplicou a ele.  “Eu sou a falha dessa pesquisa, me acho péssimo em matemática, eu gosto de literatura e de escrever,  trabalho o lado da sensibilidade’’, fala rindo.

O professor aproveita para tecer críticas à indústria cultural da música. “A música se degradou muito de Bach para os dias de hoje. Primeiro se tornou uma música pensante, a junção do profano com o sacro que se transformou na erudita; depois a música popular que se sobrepôs à erudita, que por sua vez acabou sendo substituída pela de entretenimento, ou seja, a atual”.

Por fim ele declara: “É uma vitória muito grande quando um aluno meu se forma, é uma sensação de missão cumprida e neste momento se confirma minha vocação de professor. É um combustível para eu continuar a dar aula”.

O Piano 

Inventado por Bartolomeo Cristofori, no século 18, durante o período da Renascença Italiana. A primeira composição musical escrita especialmente para piano foi publicada em 1732. São doze sonatas para pianoforte de Giustini.

O piano é considerado um dos instrumentos mais clássicos do mundo ocidental, originado no século 18. Esse instrumento de cordas normalmente é composto por peças feitas em madeira, ativadas através do teclado com teclas que tocam nas cordas esticadas, presas à estrutura do corpo do piano. O som é produzido pela vibração dessas cordas, criando as notas musicais como ouvimos.

Ernesto Nazareth

Referência em música erudita brasileira para Luís Renato Dias. Esse foi um dos motivos para Luís ter colocado o nome de Ernesto Nazaré em sua academia. Nazaré nasceu no Rio de Janeiro e sua mãe foi quem lhe apresentou ao piano e lhe ministrou as primeiras noções do instrumento.

Aos 14 anos compôs sua primeira música, a polca-lundu "Você bem sabe" e seu primeiro concerto como pianista realizou-se em 1898. No ano seguinte foi feita a primeira edição do tango "Turuna". E em 1902, teve sua primeira obra gravada, o tango brasileiro "Está Chumbado" pela Banda do Corpo de Bombeiros do Rio de Janeiro. 

Intérprete constante de suas próprias composições, Nazareth apresentava-se como pianista em salas de cinema, bailes, reuniões e cerimônias sociais. De 1909 a 1913, e de 1917 a 1918, trabalhou na sala de espera do antigo Cinema Odeon. Infelizmente sua obra só foi reconhecida na sua posteridade.

Confira detalhes da reportagem no jornal

Noelisa Andreola

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