Um áudio obtido pelo SPTV mostra a ligação feita pela universitária Hivena Queiroz Vieira, de 24 anos, ao serviço 190 após atropelar e matar um gari no dia 16 de maio, no Centro de São Paulo. Na conversa com o policial militar, a estudante de arquitetura disse que foi atacada por assaltantes e que achava que tinha atropelado um criminoso (leia abaixo a transcrição de um trecho da ligação).
PM – Polícia Militar, emergência.
Hivena – Oi, eu sofri um atentado de assalto agora. Tem uns 20 minutos, ali no centro de São Paulo e eu acabei passando reto. E eu acho que, não sei, talvez eu tenha atropelado um dos bandidos.
PM – A senhora acha que atropelou um deles?
Hivena – Eu não sei, porque assim, eles tentaram, eles me fecharam, e aí eu acelerei e o vidro do meu carro está todo quebrado e eu to meio, eu to sem saber o que fazer. Queria saber que providência tomar agora.
PM – Mas eles tentaram roubar a senhora?
Hivena – Eles fecharam o meu carro. Fecharam ali no centro. Bem perto da Igreja, da… da principal. Da Sé. E aí eles me fecharam e aí eu acelerei. Meu medo é ter machucado alguém sem ter culpa, mas eu sei que me fecharam. Eu queria saber o que eu faço agora.
(…)
PM – A senhora vai até uma delegacia para fazer um boletim de ocorrência. E assim que a senhora souber o endereço, a senhora retorna para cá pra poder cadastrar a ocorrência.
A estudante atropelou Alceu Ferraz e um colega dele na Avenida São João. Os dois varriam a via. O outro gari ficou ferido, mas sobreviveu. Depois disso, a universitária entrou na contramão na Praça da República. Uma câmera de segurança gravou o carro com o para-brisa quebrado. A PM recebeu uma denúncia e encontrou o veículo no estacionamento de um prédio em Moema, bairro de classe média alta na Zona Sul.
Uma semana após o atropelamento, a jovem foi até a delegacia para contar sua versão. Ela afirmou à polícia que, na noite do acidente, tinha saído de uma festa na casa de uma amiga de faculdade em Higienópolis. No caminho até sua casa, em Moema, ela entrou na Avenida São João, achou que seria assaltada e acelerou o carro.
Ao chegar à sua casa, ligou para a PM e foi orientada a procurar uma delegacia. No boletim de ocorrência, registrado cerca de duas horas depois, a estudante contou que sofreu uma tentativa de roubo. Ela disse que "foi surpreendida por três indivíduos que utilizaram possivelmente um carrinho de supermercado e disparou com o veículo atingindo algo ou alguém".
Mesmo assim, a estudante foi indiciada por quatro crimes: homicídio culposo (quando não há intenção de matar), lesão corporal, omissão de socorro e fuga do local do acidente. “É fato que houve um atropelamento. Você, consciente, percebe se atropelou alguém ou algo ou bateu em alguma coisa”, disse o delegado Araribóia Fusita Tavares. “Por isso que eu digo para vocês: existem muitas contradições.”
O advogado da jovem, Artur Osti, contesta a opinião do delegado. “Não houve omissão”, disse. “Prestou todos os esclarecimentos, jamais se furtou de noticiar nada às autoridades e continua totalmente à disposição para apuração de qualquer responsabilidade.”
Fonte: G1