A esposa do gari de 61 anos atropelado no Centro de São Paulo, em 16 de junho, falou nesta quinta-feira (25) sobre a morte do marido. Alceu Ferraz varria a Avenida São João quando foi atingido pelo carro de uma estudante de arquitetura e morreu. "Não tenho ódio. Mas eu quero que a justiça seja feita", disse Marilene da Silva Ferraz, de 59 anos.
A faxineira diz não ter mágoas da estudante Hivena Queiroz Vieira, de 24 anos, que confessou ter atropelado o gari.
Ela conta, no entanto, que não tem acompanhado as notícias sobre o caso. “Nem procurei saber, nem vi passar na televisão. Desde que fiquei sabendo eu fui para o chão, não tive forças para nada”.
Marilene se emociona ao falar do marido. “Era muito bom esposo, bom pai. Ele fazia tudo por mim. Não vou ter meu marido de volta, ele se foi. Mas acho que merece justiça”, desabafou em entrevista concedida no escritório do advogado que representa a família, Ademar Gomes.
O advogado diz que entrará nos próximos dias com uma ação de indenização contra a estudante de arquitetura e os pais dela. Segundo ele, os pais também estão envolvidos na ação porque Hivena é sustentada pelos dois e, de acordo com Gomes, o carro envolvido no acidente foi comprado por eles.
A mulher estava trabalhando no momento que a família foi informada sobre a morte do gari. “O mundo desabou. Levantei 5h, estava trabalhando sem saber o que estava acontecendo”, disse. “De repente, minha filha apareceu para me pegar”.
Hivena foi indiciada na última segunda-feira (22), por quatro crimes: homicídio culposo (quando não há intenção de matar), lesão corporal, omissão de socorro e fuga do local do acidente.
Atropelamento
A jovem atropelou Alceu Ferraz e um colega dele na Avenida São João. Os dois varriam a via. O outro gari ficou ferido, mas sobreviveu. Depois disso, a jovem entrou na contramão na Praça da República. Uma câmera de segurança gravou o carro com o para-brisa quebrado. A PM recebeu uma denúncia e encontrou o veículo no estacionamento de um prédio em Moema, bairro de classe média alta na Zona Sul.
Nesta segunda, a estudante se apresentou para contar a versão dela. Ela afirmou à polícia que, na noite do acidente, tinha saído de uma festa na casa de uma amiga de faculdade em Higienópolis. No caminho até sua casa, em Moema, ela entrou na Avenida São João, achou que seria assaltada e acelerou o carro.
Ao chegar em casa, ligou para a PM e foi orientada a procurar uma delegacia. No boletim de ocorrência, registrado cerca de duas horas depois, a estudante contou que sofreu uma tentativa de roubo. Ela disse que "foi surpreendida por três indivíduos que utilizaram possivelmente um carrinho de supermercado e disparou com o veículo atingindo algo ou alguém".
Acompanhada do pai e de um advogado, a jovem chegou de táxi à delegacia nesta segunda. Ela foi ouvida por mais de duas horas. “É fato que houve um atropelamento. Você, consciente, percebe se atropelou alguém ou algo ou bateu em alguma coisa”, disse o delegado Araribóia Fusita Tavares.
O advogado da jovem, Artur Osti, contesta a opinião do delegado. “Não houve omissão”, disse. “Prestou todos os esclarecimentos, jamais se furtou de noticiar nada às autoridades e continua totalmente à disposição para apuração de qualquer responsabilidade.”
A Polícia Civil vai ouvir testemunhas que estavam na festa e pedirá a quebra do sigilo telefônico para saber com quem a estudante falou depois do atropelamento.
Fonte: G1