"Me surpreendeu uma resposta tão sincera e pura. Ele quase nunca me vê chorando, dessa vez me viu e foi um momento de delicadeza e sutileza, com amor, respeito. Eu estava com medo de já terem dito para ele que isso é errado, algo assim. Mas ele é uma das pessoas mais importantes para mim, e se ele me desse uma resposta negativa o que eu esperaria do restante do mundo?", avalia Lucas.
Os irmãos não moram juntos. A relação com os pais é complicada, por isso Lucas optou por viver na casa dos avós paternos. Ainda que a família apresente restrições, os dois procuram estar sempre juntos. Se divertem ao assistir televisão, brincar e sair para passear. Agora, sem segredos entre eles.
"Minha avó foi professora por 40 anos, então ela conviveu com a minha realidade, é aberta. Meus pais têm preconceito, meu outro irmão, de 18 anos, também", lamenta. "Meus pais se separaram há um tempo, e me aproximei muito [irmão mais novo] por causa disso. Senti que ele estava com dificuldade de lidar. Nos divertimos juntos e desenvolvemos essa amizade".
Maioria aprovou
Com tanta repercussão, o post teve a aprovação de muitos leitores. Houve, porém, quem respondesse ao relato de Lucas com comentários negativos. O jovem admite que fica abalado, mas não pensa em recuar.
Para ele, o texto não é apenas sobre uma cena cotidiana. É também para alertar sobre a necessidade de abolir o que Lucas classifica como "discurso de ódio".
"Várias pessoas se identificaram, me apoiaram e deram suporte. Que eu tenho que ser verdadeiro. Recebi algumas mensagens intolerantes, mas poucas. Respondi com sutileza. Outros questionaram se não era muito cedo. Não exite cedo ou tarde. Quanto mais cedo ensinarmos isso, menos ódio teremos".
Lucas, que deixou as faculdades que começou a cursar, pensa em ser escritor. De preferência, sempre ligado à causa LGBT (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais e Transgêneros). A pedido do jovem, o rosto do irmão foi borrado nas fotos.
Confira o depoimento de Lucas na íntegra:
"Hoje eu contei para o meu irmãozinho que eu era gay.
Após muitos anos desde que descobri a respeito da minha sexualidade, sobre o gênero que desperta uma paixão realmente autêntica em mim, finalmente cheguei a decisão de confiar a minha realidade a essa pessoinha com quem mais me importo na vida.
Dividi isso de maneira bem pedagógica, tentando criar uma analogia sobre as pessoas e suas cores favoritas. Dizendo que têm pessoas que gostam mais de preto, ou branco, ou azul, ou amarelo, ou vermelho; explicando sobre o quão legal isso fazia do mundo. Que todos podemos gostar de cores diferentes, e ainda assim sermos felizes e respeitados ao colorir nosso mundo com elas.
Ele parecia saber que eu ia confessar algo. Mergulhou num estado quieto e pensativo durante a explicação inteira, e então, por fim, resolvi assumir minha sexualidade. Ele continuou me olhando, bem calmo e sorrindo, tão natural, e eu o questionei:
"Tu sabe o nome que se dá a quem gosta de pessoas iguais, John? Homens que gostam de outros homens, e mulheres que gostam de outras mulheres?"
Eu estava preparado para soltar a palavra "gay", já na ponta da língua quando ele simplesmente me escancara a verdadeira resposta:
"Amor?"
E então eu chorei.
"Não chora", ele disse me abraçando.
Ele me olhou com aqueles olhos, cheios de inocência e de mesmo tons que os meus, e eu senti que pela primeira vez ele me enxergava como eu realmente era. Um irmão que ele amava, um amigo que ele jamais perderia e, mesmo uma pessoa qualquer com uma preferência diferente por quem se apaixonar, ainda assim uma pessoa igual a qualquer outra.
Eu soube disso pela resposta dele. Pela bondade em cada palavra. Uma criança de oito anos de idade soube encarar algo tão natural com mais maturidade que muito adulto. Mais que meus próprios pais, inclusive, que sempre me negaram o direito de confidenciar isso ao meu irmão.
Aproveitem pra aprender da pureza deles, que a maioria esquece ao crescer, pois eu acho que as maiores verdades dessa vida estão no coração dos pequenos.
E a vida continua como se nada tivesse mudado.
E do fundo do coração, eu agradeço por isso."
Fonte: G1