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‘Levei 2 anos negociando o Landau que levou papa’, conta dono

Em julho de 1980, Sergio Castello Branco era um dos milhares de telespectadores que acompanhavam pela TV a primeira visita do papa João Paulo II ao Brasil. Ele tinha apenas 7 anos, mas diz que o fato o marcou. O garoto só não imaginava que, 33 anos depois, se tornaria dono de um dos carros que transportaram o papa naqueles dias, um Ford Landau 1979 preto.

Antes de adquirir a relíquia, Castello Branco, que mora em Teresópolis (RJ), cultivou o gosto por carros antigos, acompanhando encontros na região. Em 2004, comprou um Chevrolet Opala SS 1978, cor prata.

"Era um sonho de criança. Um vizinho tinha, via chegar, imponente, chamando a atenção. Comecei a estudar o carro e fui ficando cada vez mais interessado", conta. Depois vieram os Volkswagen Passat 1988, Parati GLS 1993, Gol GTS 1994 e Saveiro Summer 1995.

"Filho" da "família" Galaxie e produzido no Brasil, o Landau não estava nos planos de Castello Branco. "Nunca pensei em ter um. Sempre achei um carro muito grande, sou de estatura mediana para baixa, 1,65 m, nunca me senti muito à vontade num carro grande", diz.

Mas, em 2011, um amigo contou a ele que existia um "papamóvel" à venda. O administrador de empresas descobriu que se tratava do Landau que havia transportado o papa em 1980, no Rio, e que pertencia ao ex-presidente da Federação Brasileira de Veículos Antigos (FBVA), José Aurélio Affonso Filho.

2 anos de negociação
Apesar de "não ser católico fervoroso", Castello Branco, hoje com 40 anos, se encantou com a possibilidade de ter o automóvel onde João Paulo II andou. "Foi uma figura influente, carismática, uma pessoa muito importante." E ele, então, entrou em contato com a filha do dono. Ali começou "uma longa e maravilhosa negociação", como descreve o administrador. Detalhe: isso durou 2 anos.

"Ela era muito ocupada, era difícil o contato. Levei quase 1 ano pra conseguir ver o carro, que estava aqui mesmo em Teresópolis", conta. "Aí foi mais 1 ano até fechar negócio."

Ele só não revela quanto pegou pelo veículo. "Esse assunto é como um conclave", brinca.

Modificações
Castello Branco conta que o carro teve pequenas modificações para abrigar o papa. "Foi melhorado o sistema de refrigeração (do motor). Os bancos foram revestidos em couro, foi colocado um apoio para os pés e alças nas costas do banco da frente", enumera. "A plaquinha no para-choque foi o presidente da federação que colocou, pois tinha intuito de fazer um museu com os carros que tinha."

O novo dono não sabe por quantas pessoas o carro passou antes de Affonso Filho e dele. "Teve uma ou duas pessoas; em 1980, parece que era de um fazendeiro do RJ, que deu o carro para o governo." Com um "pequeno" tanque de 107 litros, brinca Castello Branco, ele acredita que o sedã esteja com 112.000 km rodados.

Com 5,413 m de comprimento –maior que as picapes cabine dupla mais vendidas no Brasil– e 1,99 m de largura, a fama de luxuoso do Landau superou a de "beberrão". Não à toa era escolhido por executivos, famosos e autoridades; foi até carro de presidente no Brasil. Um outro Galaxie foi usado por João Paulo II, também em 1980, em Curitiba, ganhando teto solar para que o papa pudesse ficar de pé e saudasse os fiéis.
O modelo saiu de linha em 1983, quando era a única versão do Galaxie ainda à venda. Oficialmente, seu substituto foi o Ford Del Rey.

'Banheira', não
O proprietário se surpreendeu com a dirigibilidade do Landau equipado com câmbio automático e motor V8 302 de 5 litros com 199 cavalos de potência 199 CV, e pesando 1.838 kg.
"Não é difícil (dirigir), pelo contrário. A direção é hidráulica, muito leve, você move com um dedo. É mais gostoso do que um carro atual, é extremamente confortável. A impressão é de estar em uma nave", descreve. "Claro que, para entrar em uma vaga, dificulta mais."
Castello Branco avisa que nenhuma de suas relíquias está à venda. Para o dia a dia, ele tem um carro atual, "mas, sempre que possível, eu saio com os outros, tenho mais prazer de dirigir".

Fonte: G1

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