PATRICÍA SANCHES
DO RDNEWS
O ex-secretário de Fazenda Eder Moraes teria desenhado o "mapa da mina” para localizar o famoso caderno espiral do ex-governador Silval Barbosa (PMDB), descrito por Júnior Mendonça, em delação premiada, acerca de como ocorria um esquema de lavagem de dinheiro e crimes contra a ordem financeira. O "documento" ficava em um vão atrás do armário do banheiro no gabinete do peemedebista.
Júnior e Eder são considerados peças chaves dentro da suposta engrenagem montada que causou, segundo o Ministério Público Federal, ao menos, um rombo de R$ 500 milhões. O Rdnews teve acesso ao desenho, supostamente feito por Eder e que teria sido entregue à Polícia Federal, em Brasília. Como as investigações, no que tangem Silval, estão sob segredo de Justiça, não é possível saber se o desenho foi juntado ou não aos autos.
A reportagem procurou a defesa de Eder, patrocinada pelo advogado Ronan Oliveira, para saber se o desenho é usado como um dos argumentos para provar que Eder colaborou com à investigação. O jurista informou que há uma vasta documentação e que não se lembrava especificamente do mapa. Depois, ficou de retornar, mas isso não ocorreu até a publicação desta reportagem.
O fato é que a ilustração descreve exatamente como é a organização arquitetônica real do espaço físico ao redor do gabinete que era ocupado por Silval, à época em que comandou o Palácio Paiaguás. Hoje, sob nova gestão, no gabinete mais importante do Estado está o governador Pedro Taques (PDT).
Consta no mapa a recepção, onde ficam autoridades, jornalistas, entre outros, num primeiro momento, antes das audiências com o chefe do Executivo. Depois, há dois setores, um destinado à espera das pessoas que estão prestes a falar com Silval e o outro em que ficava o ex-chefe de gabinete de Silval, Sílvio Corrêa.
Mais à frente aparece a área em que ficam as secretárias do governador e a ala destinada à segurança do chefe do Executivo. Em seguida, está o gabinete onde Silval despachava. Lá há um espaço para reuniões e um banheiro privativo. Segundo teria contado Eder aos agentes federais, neste banheiro havia um armário. O caderno, por sua vez, ficaria em um vão atrás do móvel.
Durante a deflagração da 5ª etapa da Operação Ararath, em 20 de maio, agentes federais estiveram apenas na residência de Silval, no bairro Jardim das Américas, em Cuiabá. Como o caso está sob segredo, não se sabe se o Procurador Geral da República Rodrigo Janot pediu ou não que o gabinete do peemedebista fosse vasculhado.
À época, entretanto, aventou-se que Janot teria solicitado, mas que o pedido foi negado pelo ministro Dias Tóffoli, relator do caso. Não se sabe também se o mapa chegou ser juntado ou nãos nos autos dos pedidos de busca e apreensão.
A busca pelo suposto caderno ocorreu porque ele conteria anotações acerca de transações financeiras realizadas por Silval. Na delação premiada, Júnior Mendonça diz que "ouviu dizer que Silval mantém em seu apartamento um caderno onde registra suas negociações. Em oportunidade em que esteve no gabinete do governador Silval Barbosa, durante acerto de contas, o declarante viu Silval folhear um caderno espiral de suas anotações, para conferir os dados a respeito da dívida".
Júnior Mendonça pondera, entretanto, que não sabe dizer se era o mesmo que Silval mantinha em seu apartamento. Já Eder teria afirmado que as anotações ficavam na sede do Governo. “A polícia foi lá em casa, fez devassa para procurar um caderno que nunca existiu e foi aí que encontraram a arma”, afirmou Silval à época, garantindo que o caderno jamais existiu. Segundo o peemedebista tudo não passa de uma invenção.
Eder e informações à PF
Conforme informações contidas no pedido de prisão do ex-secretário Eder Moraes, que, à época, foi deferido, Eder agendou a primeira reunião em 12 de dezembro de 2013. O encontro ocorreu na frente do restaurante Steak House. O ex-homem forte do Governo teria dito que gostaria de ser colaborador, mas que não queria ter a pecha de delator já que tinha pretensões políticas. O ex-peemedebista almejava concorrer à Assembleia no ano passado.
Agentes federais, entretanto, narram que dados apresentados eram desconexos e superficiais. “Em uma tentativa clara de pautar a investigação desta Polícia Judiciária”. Eder teria ainda tentado intermediar um depoimento do delator Júnior Mendonça, que veio a ocorrer depois, mas não em decorrência de agendamento feito por Eder. Diante da situação, o MPF acabou pedindo a prisão de Eder que ocorreu em maio do ano passado. Ele conseguiu o HC em agosto.
O ex-secretário Eder Moraes, por sua vez, já em depoimento à Justiça Federal, após sua detenção, garante que contribuiu sim com as investigações, tendo entregue documentos “valiosos” acerca do esquema.