O suposto serial killer Tiago Henrique Gomes da Rocha, 27, foi identificado como autor de duas cartas anônimas de mesmo conteúdo, enviadas à Polícia Civil de Goiás em 2013, em que o remetente informa já ter matado 11 pessoas e avisa que pretende matar mais. “Quem vos fala é um cidadão cujo único objetivo é matar”, diz um trecho do documento (veja a íntegra abaixo). O documento foi obtido com exclusividade pelo jornal O Popular.
Preso desde outubro do ano passado, Tiago confessou à Polícia Civil ter matado 29 pessoas desde 2011. Ele responde na Justiça a sete homicídios, além de dois roubos a uma agência lotérica da capital.
Em outro trecho das cartas, o autor diz que já matou de todas as formas. “Mas o meu método é esfaquear até a morte, e garanto a vocês que todos os casos não resolvidos de homicídio por esfaqueamento certamente fui eu”, diz. Além disso, o autor desafia a polícia: “Não tentem me parar pois vou até o fim disso. Boa sorte à vocês”.
O texto assinado por “Facada” foi digitado e impresso em computador e data de 21 de maio de 2012. Entretanto, um dos envelopes foi postado em 9 de março de 2013. O destinatário com o endereço da Delegacia Estadual de Investigação de Homicídios (DIH), no Setor Cidade Jardim, foi escrito à mão e o envelope postado na agência dos Correios no bairro Conjunto Vera Cruz, mesmo setor onde Tiago Henrique morava com a mãe.
Veja a seguir a íntegra do texto:
"Goiânia, 21 de maio de 2012
Cara polícia de Goiânia, venho através desta, comunicar a vocês que nos próximos tempos os senhores terão muito trabalho a fazer. Quem vos fala é um cidadão cujo único objetivo é matar. Serei direto: sou um assassino em série ou se preferir podem me chamar de serial killer, até agora matei apenas 11 pessoas, mas estou evoluindo muito bem. Matei de todas as formas, mas o meu método é esfaquear até a morte, e garanto a vocês que todos os casos não resolvidos de homicídio por esfaqueamento certamente fui eu. Não tentem me parar pois vou até o fim disso. Boa sorte à vocês!. Ass: Facada. Grato.”
Identificação
Segundo o chefe de comunicação da Polícia Civil, o delegado Norton Luiz Ferreira, a identificação de que as cartas foram escritas pelo vigilante só ocorreu após a prisão de Tiago. O delegado explica que os documentos chegaram à DIH entre janeiro e março de 2013.
“Uma carta foi aberta e a outra, lacrada, foi encaminhada ao Instituto de Criminalística para colher impressões digitais. O Instituto encontrou fragmentos de impressão digital e encaminhou ao Instituto de Identificação para confronto, mas não havia possibilidade de fazer a comparação porque não havia na base de dados a impressão para fazer o confronto”, afirma Norton.
As cartas foram arquivadas na DIH e os policias chegaram a fazer investigações para tentar descobrir quem era o autor, mas ele não foi identificado. “Após a prisão do Tiago a carta foi novamente encaminhada ao Instituto e aí foi possível fazer o confronto e identificaram que o autor realmente era ele”, afirma o delegado. O documento foi anexado ao processo que tramita na Justiça referente o homicídio de Rosirene Gualberto da Silva, 29.
Justiça
Tiago responde na Justiça pelos homicídios de Rosirene, Wanessa Oliveira Felipe, 22, Ana Maria Victor Duarte, 27, Juliana Neubia, 22, Isadora Cândido, 15, Ana Lídia Gomes e Bárbara Luiza Ribeir, ambas de 14 anos, além de dois roubos a uma agência lotérica na capital. Ele também foi denunciado pelo Ministério Público de Goiás pelo homicídio de de Adailton dos Santos Farias, morto aos 23 anos em 31 de julho do ano passado.
Em janeiro, ele teve a audiência de instrução sobre a morte de Rosirene Gualberto, de 29 anos. Esta foi a primeira oitiva em relação à série de homicídios da qual é acusado. Na ocasião, ele declarou que foi “obrigado” a matar a jovem por um “sentimento demoníaco”. “Uma voz me perturbava para fazer isso, eu tentava não ouvir, mas era mais forte do que eu e acabou acontecendo”, disse na ocasião o suposto serial killer.
Já em fevereiro, Tiago compareceu a audiências de instrução sobre as mortes de Ana Lídia Gomes e Bárbara Ribeiro, quando permaneceu calado e de cabeça baixa. Em cada uma das audiências, cinco pessoas prestaram depoimento. Entre elas, pessoas que presenciaram os crimes, participaram das investigações ou familiares das vítimas.
Um laudo divulgado pelo Tribunal de Justiça em no dia 27 de fevereiro classificou o vigilante como psicopata. Apesar do resultado do exame assinado pelos psiquiatras Léo de Souza Machado e Diego Franco de Lima, Tiago foi considerado imputável, ou seja, plenamente capaz de responder pelos seus atos. Portanto, ele poderá ser julgado pelos crimes em que é acusado.
Prisão
O vigilante foi preso no dia 14 de outubro do ano passado e aguarda julgamento no Núcleo de Custódia do Complexo Prisional de Aparecida de Goiânia, na Região Metropolitana.
Na ocasião da prisão, Tiago confessou à Polícia Civil ter matado 39 pessoas desde 2011.
Entretanto, segundo informou o delegado Murilo Polati, o vigilante prestou novos depoimentos na companhia de advogados e reduziu o número de confissões para 29. Além dos crimes contra mulheres, ele também confessou assassinatos de homossexuais e moradores de rua.
Na ocasião, o vigilante ficou em uma cela da Delegacia Estadual de Repressão a Narcóticos (Denarc) por oito dias. No local, segundo revelou o delegado Eduardo Prado, o suspeito afirmou aos policiais que "estava com vontade de matar".
Depois, em outubro, Tiago foi transferido para o Núcleo de Custódia do Complexo Prisional. Durante a transferência, mesmo escoltado por 20 policiais, ele conseguiu agredir um fotógrafo com um chute no abdômen antes de ser colocado no carro da polícia. No dia seguinte, o delegado Murilo Polati afirmou, durante entrevista coletiva, que o vigilante voltou a fazer ameaças de morte, desta vez, para os detentos do Núcleo de Custódia.
Atualmente, a unidade informou que o jovem não tem apresentado sinais de agressividade e passa a maior parte do tempo lendo na própria cela, onde fica sozinho. “Desde a chegada dele ao Complexo Prisional, não manifestou nenhum comportamento anormal. Ele está com a rotina normal: banho de sol, alimentação, está sendo acompanhado por psicólogos e não manifestou nenhum comportamento agressivo”, relatou o gerente regional prisional, Leandro Ezequiel.
Fonte: G1