Sobreviventes, familiares e amigos das vítimas do incêndio na boate Kiss realizam uma vigília na noite desta segunda-feira (26) em frente ao prédio onde funcionava a casa noturna para lembrar os dois anos da tragédia, que resultou na morte de 242 pessoas.
Vestidos de branco e de preto, eles começaram a chegar à Praça Saldanha Marinho, no Centro da cidade, por volta das 19h. Sob chuva fina, permanecerem reunidos no local e assistiram a um vídeo com depoimentos dos familiares sobre a luta por justiça nos últimos dois anos.
Enquanto isso, a fachada da boate, que fica a poucas quadras da praça, foi pintada com desenhos feitos por estudantes de artes visuais e uma frase de protesto: “Até quando a indiferença vai servir à injustiça”.
Por volta das 22h, segurando velas, o grupo saiu da praça em uma caminhada silenciosa em direção à Kiss. Às 2h30 desta terça-feira (27), horário em que o início atingiu a danceteria, balões iluminados serão jogados para o ar para lembras as 242 vítimas.
“A gente sempre procura uma simbologia e acreditamos na esperança. É uma questão de dor. Passou dois anos como se não tivesse acontecido nada”, afirmou o aposentado Renato Vasconcelos, 65 anos, que perdeu a filha Letícia, aos 36 anos, no incêndio.
Cerca de 1,2 mil velas também foram acesas no contorno de um coração e da palavra "justiça", pintados no asfalto em frente à boate.
Entenda
O incêndio na boate Kiss, em Santa Maria, ocorreu na madrugada do dia 27 de janeiro de 2013. A tragédia matou 242 pessoas, sendo a maioria por asfixia, e deixou mais de 630 feridos. O fogo teve início durante uma apresentação da banda Gurizada Fandangueira e se espalhou rapidamente pela casa noturna, localizada na Rua dos Andradas, 1.925.
O local tinha capacidade para 691 pessoas, mas a suspeita é que mais de 800 estivessem no interior do estabelecimento. Os principais fatores que contribuíram para a tragédia, segundo a polícia, foram: o material empregado para isolamento acústico (espuma irregular), uso de sinalizador em ambiente fechado, saída única, indício de superlotação, falhas no extintor e exaustão de ar inadequada.
Ainda estão em andamento os processos criminais contra oito réus, sendo quatro por homicídio doloso (quando há intenção de matar) e tentativa de homicídio, e os outros quatro por falso testemunho e fraude processual. Os trabalhos estão sendo conduzidos pelo juiz Ulysses Fonseca Louzada. Sete bombeiros também estão respondendo pelo incêndio na Justiça Militar. O número inicial era oito, mas um deles fez acordo e deixou de ser réu.
Entre as pessoas que respondem por homicídio doloso, na modalidade de "dolo eventual", estão os sócios da boate Kiss, Elissandro Spohr (Kiko) e Mauro Hoffmann, além de dois integrantes da banda Gurizada Fandangueira, o vocalista Marcelo de Jesus dos Santos e o funcionário Luciano Bonilha Leão. Os quatro chegaram a ser presos nos dias seguintes ao incêndio, mas a Justiça concedeu liberdade provisória a eles em maio de 2013.
Atualmente, o processo criminal ainda está em fase de instrução. Após ouvir mais de 100 pessoas arroladas como vítimas, a Justiça está em fase de recolher depoimentos das testemunhas. As testemunhas de acusação já foram ouvidas e agora são ouvidas as testemunhas de defesa. Os réus serão os últimos a falar. Quando essa fase for finalizada, Louzada deverá fazer a pronúncia, que é considerada uma etapa intermediária do processo.
No dia 5 de dezembro de 2014, o Ministério Público (MP) denunciou 43 pessoas por crimes como falsidade ideológica, fraude processual e falso testemunho. Essas denúncias tiveram como base o inquérito policial que investigou a falsificação de assinaturas e outros documentos para permitir a abertura da boate junto à prefeitura.
Fonte: G1