A caderneta de poupança é um dos mais antigos instrumentos econômicos no Brasil, instituído ainda no século XIX nas Caixas Econômicas com o objetivo de resguardar os recursos dos “escravos de ganho”, que eram os cativos que recebiam receitas tanto para seus senhores como para si. Nos dias de hoje o termo ainda é utilizado para se referir a essa modalidade de investimento, a despeito dos meios eletrônicos e tecnológicos. No entanto, esse tipo de ação parece se tornar cada vez menos atrativa para o brasileiro.
Segundo dados do Banco Central (BC), 2014 teve captação líquida de R$ 24,03 bilhões, isto é, a diferença entre depósitos e retiradas. O resultado é o pior registrado desde 2011, quando o valor foi de R$ 14,18 bilhões. Os números contemplam tanto o Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo (SBPE, que destina 65% dos recursos para o financiamento imobiliário), quanto a Poupança Rural.
A cifra corresponde a apenas 33,8% na comparação com o resultado de 2013, que apresentou captação líquida de R$ 71,04 bilhões.
Em conversa com o Circuito Mato Grosso, o docente da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) e mestre em Agronegócio e Desenvolvimento Regional Max Nunes Murtinho reconheceu que há uma tendência da sociedade em deixar de investir na poupança. Entre as causas que explicam o fenômeno, Max aponta que o pós-modernismo – corrente filosófica que o professor universitário define como “o reino do presente” – ajuda a compreender essa realidade. No entanto, ele também indica outros fatores.
“Desde os anos 1980 há uma tendência na sociedade em se preocupar com o ‘hoje’. Isso ajuda a explicar a indiferença do brasileiro em relação à poupança. Mas há também outros fatores, como a impossibilidade de poupar recursos para conseguir manter o padrão de vida”, analisa.
Outro elemento que ajuda a entender a falta de interesse dos brasileiros nesse tipo de investimento é a inflação. O Índice Geral de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que mede a variação dos preços no comércio, fechou 2014 com alta de 6,4%. No mesmo período, a poupança rendeu 7,1%.
Max afirma que o brasileiro não está deixando de poupar porque prefere outro tipo de investimento, como imóveis ou ações na Bolsa de Valores. O especialista da área econômica sublinha que o motivo para não escolher a caderneta é mesmo o aumento do custo de vida e o que ele chama de “alienação financeira”, devido a problemas estruturais, como educação.
“Não temos essa disciplina nas escolas. As pessoas não sabem poupar dinheiro”.