Há vários motivos pelos quais ninguém gosta de tomar remédio: primeiro, é um sinal de que algo não vai bem no organismo. Segundo, remédios costumam ter um gosto ruim. Terceiro, podem causar efeitos colaterais indesejados. O único motivo por que alguém os toma é que a alternativa seria pior: deixar uma doença se agravar. É esta, justamente, a situação em que a economia brasileira se encontra: há vários sinais de que as coisas não andam bem, como inflação persistentemente alta, preços represados, PIB anêmico, investimentos minguados. Simplesmente, não dá mais para evitar os medicamentos.
É verdade que o País não se encontra em uma crise grave, mas, assim como tolerar febre e gripe mal curada pode desembocar em uma pneumonia, ser leniente com a inflação e o descontrole das contas públicas pode infectar todos os setores, jogando a economia na cama. Com Joaquim Levy à frente do ministério da Fazenda, espera-se um tratamento ortodoxo para os atuais males.
Ainda assim, os prognósticos para 2015 mostram que alguns pontos ainda vão piorar, antes que a economia brasileira volte a respirar.
Inflação
O mercado espera um combate sem tréguas de Levy à alta de preços. Apesar disso, a inflação oficial, medida pelo IPCA, ainda pode estourar o teto da meta, em 2015. Segundo o último relatório Focus, do Banco Central, a projeção média do mercado é de uma inflação de 6,54% – ante 6,36% para este ano. O motivo seria o incentivo da nova equipe econômica para acabar com o represamento de preços em setores como combustíveis e energia elétrica. A alta do câmbio também deve pressionar a inflação. As tarifas de ônibus urbanos, em cidades como São Paulo, sobem a partir de 6 de janeiro. Os paulistas também devem sofrer com o reajuste da tarifa da água, diante do cenário de seca e da possibilidade de racionamento. Segundo o banco Brasil Plural, os preços monitorados e administrados devem subir 7,9% no ano que vem, puxados por um reajuste de mais de 20% da eletricidade.
Câmbio
Nos últimos anos, o Banco Central intensificou as intervenções na cotação do dólar, como forma de combater a inflação. Com isso, o câmbio flutuante, um dos tripés da economia, foi prejudicado. Com a chegada de Levy ao Ministério da Fazenda, a equipe do BC já deu sinais de que deixará de intervir na moeda americana. Em 2014, o câmbio foi pressionado pelas eleições, pela perspectiva de recuperação da economia dos Estados Unidos e pela queda do rublo russo. A nova postura do BC, aliada à conjuntura internacional, deve desvalorizar ainda mais o real frente ao dólar. Segundo o relatório Focus do BC, a cotação pode encerrar 2015 em R$ 2,75.
Juros
Maior ortodoxia econômica também significa o retorno à clássica ferramenta de combate à inflação – o aumento da taxa básica de juros, a Selic. O Banco Central intensificou o reajuste, nos dois últimos encontros do ano. Em sua última ata, porém, sinalizou que os próximos passos serão dados com “parcimônia”, o que foi interpretado pelo mercado como altas menos agressivas da Selic em 2015. O mercado espera que a taxa termine o próximo ano em 12,50%, ante os atuais 11,50%.
Dívida líquida do setor público
Esse número indica a diferença entre o que o governo arrecada e o que ele deve aos credores, como bancos públicos e privados. O descontrole das contas públicas é uma das maiores preocupações do mercado em relação ao Brasil, neste momento. Uma das medidas mais esperadas é que Joaquim Levy e sua equipe promovam um forte ajuste fiscal, elevando impostos e cortando gastos. Apesar de tudo, a dívida líquida deve fechar 2015 maior que a deste ano: o equivalente a 36,90% do PIB, ante os 35,80% com que encerrará 2014.
PIB
Um dos indicadores econômicos mais representativos da saúde de um país, o Produto Interno Bruto brasileiro será anêmico em 2014. A média das projeções indica uma alta de apenas 0,13%. O próximo ano também não deve apresentar nada de encher os olhos: 0,55%. O problema, nesse caso, é a deterioração das expectativas. A projeção do mercado cai há quatro semanas, o que indica a cautela dos investidores em relação ao desempenho do País.
Desemprego
O lado mais visível e de maior impacto social da atual situação da economia brasileira é o aumento do desemprego. Com a freada da indústria, o setor de serviços também não deve ter condições de sustentar, sozinho, a absorção de quem chega ao mercado de trabalho. O resultado, segundo o banco Brasil Plural, será um aumento na taxa de desemprego, que deve encerrar 2015 em 6,3%, ante os 4,9% deste ano.
Superávit primário
Um dos números que mais interessam aos investidores, ele indica a capacidade de poupança do governo para pagar suas dívidas. Todo o ajuste de contas a ser promovido por Levy deve desembocar, em última instância, no aumento do superávit. Este ano, essa conta deve ficar em apenas 0,2% do PIB. A expectativa é que ela suba para 1%, em 2015, e 2,2%, no ano seguinte.
Fonte: Terra